Diário do Nordeste, 26-04-2009. " A Transição diz respeito à construção de resiliência - estabelecer os novos sistemas em seus lugares de modo a permitir que uma dada comunidade seja tão auto-sustentável quanto possível, oferecendo-lhe suporte aos tremores sociais que virão quando o combustível aumentar dramaticamente, quando a mudança climática intensificar-se, e, talvez, mais breve que imaginávamos, a sociedade industrial esfiapar-se ou colapsar-se inteiramente. Ao longo de uma geração, os movimentos ambientais ensinaram-nos a mudar nossos estilos de vida para evitarmos consequências catastróficas. A Transição nos fala dessas consequências que estão, agora, irreversivelmente acionadas; precisamos revolucionar nossas vidas se quisermos sobreviver", foi o que afirmou R. Hopkins, em entrevista no New York Times. No Brasil, os Ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente assinaram portaria para criar o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, com a participação de 300 cientistas.
Para conversar sobre essas questões que se tornaram tão nossas, especialmente nas celebrações de 22 de Abril, dia Mundial da Terra, o Diário do Nordeste, 26-04-2009, entrevistou o Prof. Dr. Blake Poland, docente na Dalla Lana Escola de Saúde Pública e Co-Diretor da Rede de Pesquisa em Justiça para Saúde Ambiental Urbana na Universidade de Toronto (Canadá).
A entrevista é de Giovanna Sampaio.
Eis a entrevista.
Porque é o momento para criamos novas estratégias de convívio social e resiliência comunitária?
Existe um conjunto de fatores que podemos identificar no que diz respeito às exigências de uma redução para o consumo de combustíveis fósseis, bem como razões que também ressoam às nossas aspirações pessoais (daquilo que buscamos está associado à minimização da nossa dependência do óleo). No grupo de fatores que demandam nossa atenção, figuram três eixos. Primeiro, o da degradação social e ambiental, onde o óleo barato tornou possíveis as trocas e operações da economia globalizada que exploram a natureza e as pessoas, desdobrando-se em conseqüências devastadoras para ambas. Em segundo lugar, a mudança climática, onde podemos aguardar novos acordos internacionais que designarão um preço ao carbono, visando reduzir o volume de combustíveis fósseis consumidos no mundo. Essas atividades irão impor um custo maior ao consumo de combustíveis fósseis, forçando-os tornarem-se menos desejáveis para o nosso cotidiano. Terceiro, a crise do declínio dos combustíveis fósseis (Peak Oil): de acordo com uma grande variedade de fontes, muitos (se não a maioria) dos grandes reservatórios de óleo já ultrapassaram o nível máximo em termos de capacidade de produção, ou taxas de extração, adentrando uma faixa de declínio ou saturação, em termos de 4-8% menor a cada ano. Novas descobertas e as tentativas de exploração de fontes não-convencionais de óleo não são capazes de atenuar essas quedas projetadas. A medida que a nossa demanda supera a oferta, vislumbra-se o aumento significativo nos preços de combustíveis fósseis, e, consequentemente, a escassez, o racionamento, a escalada de disputas e guerras por óleo, além de conflitos sociais interrelacionados.
Há um segundo grupo de fatores que está próximo do que o senhor acredita que desejamos como mudanças?
Sim três outros eixos de fatores. Primeiro, no tocante aos benefícios econômicos e políticos: países que já se comprometeram a reduzir sua dependência a combustíveis fósseis (Suécia que se determinou a abolir sua dependência ao óleo até o final da próxima década) estão usufruindo dos benefícios econômicos promovidos através do investimento em novas tecnologias (a indústria de painéis solares na Alemanha já emprega um número maior de funcionários que sua indústria automobilística; a Dinamarca exporta tecnologia eólica por todo o mundo etc). Nos próximos anos, adotares sistemas de créditos de carbono, com limites estabelecidos entre usuários e o manejo de créditos remanescentes entre aqueles que não atingiram suas frações de consumo. Em cenários políticos como estes, o respeito público não será advindo de campanhas militares, mas, ao contrário, de uma capacidade para inovar e liderar as mudanças. Um segundo grupo de fatores - o crescimento humano centrado na vida: a medida que aprenderemos a substituir o paradigma dessa Era Industrial, expresso em termos de controle, dominação, exploração de pessoas e da natureza, manipulação e imposição de uma ordem, para um novo paradigma de relações que se torna parceiro da vida, podemos descobrir, ao reconhecermos a complexidade intrínseca da natureza e do convívio junto aos limites do que é sustentável, que o ´progresso´ também requer uma escuta e confiança à vida. Grandes empresas na área química e na produção de bens já estão desenvolvendo novas tecnologias a partir da mímica de processos naturais (aranhas que produzem, como menos gasto de energia, tecidos e estruturas extremamente resistentes). O terceiro fator importante é a resiliência comunitária. Muito embora seja requerida, no contexto da Transição para uma Sociedade Pós-Carbono, uma participação substancial de organismos internacionais (Nações Unidas), governos nacionais e autoridades públicas, é improvável que estes atores sejam suficientes para atender às necessidades e desafios das comunidades. Também não se espera dos indivíduos, por eles mesmos, solucionarem tais desafios (´esverdiando´ seus hábitos de consumo, qual seja, por exemplo, a estratégia mais recorrente nos EUA). É essencial desenvolver uma habilidade local para coletivamente superar e aprender com as dificuldades, construindo redes de suporte, aprendizado e conhecimento.
E sobre as novas relações advindas da Sociedade Pós-Carbono?
Estamos falando das nossas relações sociais que estarão por ser reinventadas, muito embora saibamos que teremos que implementar algo como uma relocalização na produção de alimentação, vestimenta, moradia, energia, etc, uma vez que será dispendioso transportar nossas necessidades por navios e caminhões (de outros países, de outros estados; nos EUA, uma refeição habitual, da sua fonte de cultivo até a chegada ao consumir final, deslocou-se alguns milhares de quilômetros). Sabemos que o agronegócio em escala de produção industrial completamente dependente de óleo será substituído por sistemas de cultivo orgânico ou de permacultura, em vista de aumento do custo no consumo de óleo que tornará aquelas práticas inviáveis. Em um sentido, comunidades menores, aproximadas em seu convívio, recursos e fontes de produção, cujos deslocamentos sejam possíveis a pé, tendem a promover uma atmosfera socialmente mais vibrante e comunitariamente energizada. Lugares como este fazem parte das nossas aspirações humanas coletivas.
O que podemos fazer, como pessoas e cidadãos, para facilitar discussão e mudança social acerca de uma Sociedade Pós-Carbono e a construção de um Movimento de Transição?
Já existem inúmeros grupos e projetos desenvolvendo atividades, em todo o mundo, ao redor de questões como essas, desde projetos focados na construção de habilidades específicas, até iniciativas mais amplas, em vários níveis. Um projeto interessante, que merece destaque, é o Transition Town Movement (Movimento de Transição da Cidade), iniciado na Inglaterra e que se espalhou em centenas de outras comunidades. É um movimento social que está descrito no livro ´The Transition Book´ (2008), de Rob Hopkins. Esse livro e o
website do movimento descrevem iniciativas comunitárias que prospectam capacidades adaptativas, treinamento em capacidades técnicas, criação de jardins comunitários multifuncionais, projetos de demonstração para moradias auto-sustentáveis (que não estejam, necessariamente, conectadas aos serviços de energia, água, gás).
Como percebe que as dramáticas mudanças climáticas em curso não ´parecem´ ser um tema importante para a maioria das pessoas, considerando que estas nos impactam indistintamente?
É verdade que se trata de um imenso desafio, sobretudo se considerarmos que existe um espaço de tempo entre o lançamento do carbono na atmosfera (consumo e combustão de material fóssil como o petróleo e o carvão) e a mudança climática decorrente. Alguns comentadores entendem que a questão do declínio do óleo é mais compreensível e os impactos mais tangíveis às realidades das pessoas. Contudo, será necessário trabalhar com ambas as questões: a mudança climática e o declínio do óleo/Transição para uma Sociedade Pós-Carbono. É importante considerar ambos os eixos pois algumas aparentes ´soluções´ ao declínio do óleo agridem e tornam a questão da mudança climática, e vice-versa.
Quais as oportunidades com as quais poderíamos nos valer para responder aos desafios dessa sociedade que está sendo construída nas próximas décadas?
De fato, esse é um ponto relevante acerca da Transição. Estamos a falar de um enorme desafio porém, também se trata de uma oportunidade única para criar as fundações de uma sociedade equitativa e sustentável. Uma grande mudança, contudo, alguns países, regiões, grupos já estão no curso de mudanças incríveis. Não é preciso buscar alhures por respostas, se lembrarmos, como Leonardo Boff frequentemente ensina, que não chegaremos muito longe com uma solução utilizando-se do mesmo pensamento que nos criou o problema. São mudanças fundamentais que não se esgotam, apenas, em nossas práticas tecnológicas, mas, também, refletem-se na maneira de pensamentos e compreendermo-nos. Tratam-se de questões complexas para serem desenvolvidas por uma abordagem limitada do capitalismo atual, que simplesmente busca administrar problemas, acrescentando mais burocracia, mais regulação, mais ordenamento, mais controle, mais monitoramento, etc. Algumas dessas atividades serão necessárias. Todavia, serão insuficientes, e, para algumas questões específicas, serão absolutamente contra producentes. Uma ação essencial para essa Transição é uma atitude que abre mão da dominação, da imposição, da manipulação sobre a vida e sobre o outro. Haveremos de encontrar novas maneiras para facilitarmos quais sejam as contribuições únicas que cada um pode oferecer no curso dessa Transição real, em termos de permitir, através de elementos individuais, coletivos e estruturais, como possibilitar e dar suporte aos potenciais da criatividade humana. Esse é o projeto social mais significativo na história humana moderna.
Podemos afirmar que o ´Peak Oil´ ainda não alcançou o debate público?
Gostaria de deixar claro no que diz respeito ao tema do ´Peak Oil´, sublinhando que essa é também uma nova questão no Canadá. Eu quase não tenho com quem discutir a respeito dessa temática em minha Universidade. Contudo, é também uma situação que se modifica rapidamente, por outros meios. Já temos disponível, em língua inglesa, uma variedade de artigos e comentários sobre Peak Oil em alguns dos nossos maiores jornais, e ainda na primeira semana de abril, o economista chefe de um dos nossos maiores bancos (CIBC World Markets) abriu mão de sua vaga para dedicar-se ao debate público dessa questão. Outros intelectuais proeminentes do Canadá ( Thomas Homer-Dixon, dentre eles, autor de ´The Upside Down´) também estão trabalhando nessas questões junto às grandes corporações. Já contamos com uma dezena de livros acerca do assunto, em sua maioria escritos por americanos, e, pelo menos, 6 filmes dedicados à relevância da temática. Também existem movimentos organizados pela sociedade civil, com informações na Internet. Ainda se trata de algo muito novo, por exemplo, ao nível do debate público e da articulação política formal (Canadá e EUA estão entre os piores na emissão per capita de carbono e consumo de energia).
Considera este o momento oportuno para discutir essa transição no Brasil? Por que?
Sim. Até onde compreendo, já existem grandes áreas de conhecimento, discursos e práticas com as quais poderíamos construir algo novo. Vocês já construíram essa enorme infraestrutura na produção e distribuição de etanol a partir da cana-de-açúcar, um modelo que causa inveja ao restante do mundo (embora exista a preocupação no uso da agricultura para produzir combustível em vez de comida). Essa questão não se restringe aos aspectos econômicos, na medida em que também enseja aspectos políticos, como de ´segurança energética´. Em Fortaleza existe a iniciativa de parques eólicos, um número de projetos associados à energia solar e a produção de energia através de suportes cinéticos (movimento das ondas do mar), através de parcerias entre instituições públicas e privadas, mediadas pela UFC e outros centros de pesquisa. Assim, já existe uma compreensão básica acerca da necessidade na produção de fontes alternativas de energia por razões ambientais, econômicas, políticas, que nos apresentam um contexto para localizar a racionalidade do Peak Oil, e os esforços sociais na transição para uma sociedade pós-carbono. Se considerarmos a indústria do turismo e seu impacto, decorrente de preços impraticáveis para os usuários regulares, a partir do aumento os preços de combustíveis, então, estamos, sim, a considerar aspectos sociais relevantes.
O que significaria o impacto em nossas praias do aumento do nível global dos oceanos? Como seria a vida em Fortaleza sem a presença de ´praias´, o que isso significa em termos culturais?
Estamos, portanto, considerando aspectos psicossociais desse impacto. É necessário abordarmos as facetas de uma mesma questão, que estão diretamente relacionadas à vida cotidiana e experiências, seja no Brasil ou no Canadá, ainda que impactados de diferentes formas. Estamos desenvolvendo um projeto piloto (com o prof. Francisco Cavalcante Jr/UFC), cujo objetivo é acessar essas idéias de uma maneira culturalmente apropriada, significativa e transformadora. Temos um compromisso de escutar os cidadãos de Fortaleza e de Toronto sobre essas questões, esperando que eles possam nos ensinar, a partir das suas experiências, quais os modos de trabalhar o tema que mais ressonam com suas realidades.
Quando o Sr. apresenta a idéia da Crise do Declínio do Óleo e a Transição para uma Sociedade Pós-Carbono, trata-se de uma extensão dos Movimentos Sociais da metade do último século, detradição ecológica e libertária?
Existem, de fato, muitas fontes, grupos e tradições que nos convocam a atenção para algum tipo de Transição, dentre as quais, apropostas do EcoSocialismo, dos movimentos de Justiça Ambiental, EcoFeminismo etc. Minha própria formação é oriunda de uma tradição Crítica em Saúde Pública (v.g., determinantes sociais da saúde etc), meus colegas brasileiros estão enraizados em uma vertente de Psicologia Humanista e Salutogênese. Eu, particularmente, considero este diálogo interdisciplinar muitíssimo estimulante. Não seremos capazes de realizar essa Transição para uma Sociedade Pós-Carbono e responder aos seus desafios, uma enorme mudança que é tanto necessária como desejável, caso nos fixemos em apenas uma tradição ou compreensão. É, ao contrário, pela diversidade de modos de trabalho, desde movimentos de ativismo social até iniciativas pragmáticas ao nível comunitário, que teremos a chance de construir algo satisfatório.
O Sr. defende que deveríamos incluir elementos de análise tanto das Ciências Sociais como das Humanidades, de modo a sermos capazes de honrar a complexidade do processo de Transição. Quais os critérios, em termos do indivíduo, do coletivo e do social, considera importante para essa discussão?
Sim, a Transição irá demander apoio e mudança substanciais aos níveis individuais, coletivos e sociais. A maior parte das questões técnicas associadas à Transição (energia alternativa, transporte público, cultivo orgânico, residências autosustentáveis, filtração natural de água etc) foram desenvolvidos e submetidos ao teste de campo, ou já estão em desenvolvimento. No entanto, o manejo social para alguns aspectos da Transição é o que me preocupa, porquanto existe um risco de medo (ou, até mesmo, pânico) que poderia favorecer conflitos sociais, enfraquecimento de instituições e exacerbar, ainda mais, a crise. Nesse sentido, as Ciências Sociais e as Humanidades tem muito a contribuir no que diz respeito à facilitação de mudança social. Eu considero, de forma especial, a relevância de concentrar parte da nossa atenção para a criação ou preservação desses elementos do capital ou tecido social onde estamos inseridos, que possa nos auxiliar uma capaci dade de escutar/acolher/encorajar essa necessária diversidade de olhares, habilidades e potenciais ao longo dos momentos difíceis, para que possamos fazer frente às tentações de subscrever so luções autocráticas de cima para baixo.
De maneira distinta de outros intelectuais que estão desenvolven do o tema, o Sr. enfatiza os elementos dos aspectos experienciais associados a mudança, na medida em que lhe parece necessário que a Transição não seja um processo moral coercitivo, ou imposto hierarquicamente, autoritariamente. Poderia nos falar sobre esse postulado que reconhece a Mudança Social e a Transição para uma Sociedade Pós-Carbono a partir de uma confiança na vida?
Temos construído, em parceria com o meu colega, Dr. Francisco Cavalcante Jr (docente da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará), cujo trabalho numa perspectiva humanista e da pedagogia crítica de Paulo Freire, e mais recente numa abordagem de florescimento humano e tendência formativa dos organismos, um modelo que reconhece que a capacidade de mudança será ativada na medida que as pessoas sejam tocadas de modo particular, em um processo de aprendizado que é autodirigido e centrado na construção significativa de suas experiências. Muito embora algum nível de mudança em políticas governamentais seja importante (v.g., subsídios para o desenvolvimento de energia alternativa, investimento em transporte público etc), muitos aspectos da Transição (e especialmente aqueles que demandam mudanças nos padrões de vida domésticos) irão requisitar o engajamento inteiro das pessoas, não como uma extensão do medo, porém, e sobretudo, por uma aspiração comum de que elas mesmas e as pessoas ao seu redor aspiram uma vida melhor e de anseios mais significativos. Esse tipo de relação empática com a vida é algo que as comunidades aborígenes consideravam reverenciável e sagrada. Podemos, de alguma maneira, resgatar essa sabedoria humana que abraça e acolhe um paradigma de sustentabilidade nos limites e capacidades da natureza, um paradigma que poderá nos restituir a confiança pela vida.
Compartilhe as idéias do projeto que está sendo desenvolvido com universidades locais no Brasil, como, por exemplo, a Universidade Federal do Ceará?
Recebemos um pequeno financiamento do Centre for Urban Health Initiatives da Universidade de Toronto para conduzirmos um projeto-piloto de 12 meses, em ambas as cidades, explorando o potencial de abordagens de aprendizado centradas nas experiências pessoais como mediadoras na catalização de questões que possam favorecer a Transição. Ainda estamos desenvolvendo alguns detalhes do projeto, cujo aceite final foi emitido no início de abril, todavia, o projeto envolverá ações presenciais e à distância, com o auxílio da Profa. Dra. Renate Pitrik-Motschnig, da Universidade de Viena (Áustria), cuja área de especialização é na aprendizagem significativa on-line.
Poderíamos compreender que seu convite para uma transformação social poderia ser compreendido como uma nova utopia para o viver humano?
Sim. Eu considero que algum tipo de visada é necessário, de modo que não sejamos apenas modificados pelo medo ou senso iminente de perda. Certamente, sou criticado por outros colegas que me enxergam como utópico, porém, entendo que é necessário convocar as aspirações humanas perenes e mais elevadas de paz, justiça, equidade, harmonia, bem como invocar as condições que permitam uma experiência de florescimento humano, parceria e harmonia com a vida. Isso não significa que nos façamos cegos para as injustiças presentes, ou enganarmos a nós mesmos supondo que será fácil. É exatamente o contrário. Contudo, como me ensinou um colega brasileiro, também envolvido nesse projeto, o psicólogo André Feitosa, nós fomos capazes de enfrentar a Transição do Pós-Guerra e criar um Estado Social do Bem-Estar. Tratou-se de uma enorme conquista humana que, literalmente, redefiniu nossa organização social. Se formos capazes de realizar essa travessia, então, ainda podemos ser capazes, novamente, de realizar uma mudança, talvez, para uma conquista maior. Comecemos, pois.