tag:blogger.com,1999:blog-15225177404149146332024-03-13T00:21:12.955-07:00OPINIÕES DE TODOS E AS MINHASAQUI VOCÊ TEM AS ENTREVISTAS MAIS BOMBÁSTICAS, SEGUNDO OPINIÕES DO MOMENTO ! TAMBÉM VOU COLOCAR AS MINHAS....MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.comBlogger78125tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-58131066328084508392016-03-19T05:50:00.002-07:002016-03-19T05:56:25.042-07:00O QUE AS RUAS FALAM ? <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9TmeXWzBViKPLimj2dGOjvIjkZMKAmsiBmr_cLgF8cJDB6Prh7mor4AYuLFjblrJU4EF9ltHN0cqTiQoh5OVEJIusRe3w4u7BJR7HVumeCX6ybGsqGfU-qiteVSMpGEU6KGwNcdLmVKYV/s1600/MINHA+OPINI%25C3%2583O+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="189" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9TmeXWzBViKPLimj2dGOjvIjkZMKAmsiBmr_cLgF8cJDB6Prh7mor4AYuLFjblrJU4EF9ltHN0cqTiQoh5OVEJIusRe3w4u7BJR7HVumeCX6ybGsqGfU-qiteVSMpGEU6KGwNcdLmVKYV/s320/MINHA+OPINI%25C3%2583O+2.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjks4RECI-DpKWoznhZebnjPpCBYJAekczO_2fS2dmJt45DMJ1cotRNgnfLqJ8ie9VgDQwMDhCf7MjQ6y_6nzRWCx-6kf_3k_FuXcxh4y0Z1jrpCn2prliSxzYfyoTkDE1SiqrmkxBTY8w4/s1600/MINHA+OPONI%25C3%2583O+1.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="201" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjks4RECI-DpKWoznhZebnjPpCBYJAekczO_2fS2dmJt45DMJ1cotRNgnfLqJ8ie9VgDQwMDhCf7MjQ6y_6nzRWCx-6kf_3k_FuXcxh4y0Z1jrpCn2prliSxzYfyoTkDE1SiqrmkxBTY8w4/s320/MINHA+OPONI%25C3%2583O+1.jpeg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">NESTA SEMANA, em que milhões de brasileiros e brasileiras foram as ruas expor suas opiniões sobre a realidade política nacional, é saudável expor minha opinião e meu pensamento sobre o que vejo, penso e percebo nesta situação:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">1º Vejo que a sociedade brasileira, desde o resultado das eleições de 2014, ficou mais dividida, e em alguns aspectos, uma divisão que não se limita a idéias, mas também a questões sociais, étnicas e até históricas....SERÁ, que este é o destino da sociedade, divisão e conflitos ??? Acredito que nossa formação étnica não compactua com tal realidade, mas, como é muito precipitado dizer o que virá, espero que os ânimos diminuam, e as batalhas pela DEMOCRACIA e LIBERDADE de expressão continuem....</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">2º Vejo muitos declarando-se contra ou a favor do governo que aí está....Já fiz muito isso, nas Diretas Já, Fora Collor... e outros movimentos que já ocorreram no Brasil recentemente redemocratizado: Algo me deixa com CALAFRIOS: Assim como no passado, o povo, ou nós estamos sendo instigados pelos meios de comunicação, a irmos para as ruas destituir o que existe lá, e tentar algo novo....Ou seja, passeata de uma bandeira SÓ..Isso me preocupa, pois em todos os movimentos anteriores, o que o povo quis foi feito, mas as mudanças não aconteceram....Faremos a mesma coisa agora ? Seremos de novo manipulados a lutar por um 'tiro' só ? esta é a solução ? Ou será que deveríamos tentar lutar por mudanças estruturais, não apenas 'cirúrgicas"...O tumor - CORRUPÇÃO, não se retira com a extração de um câncer apenas, mas, mudanças de situação geral...câncer se cura com várias aplicações medicamentosas... quimio, radio, e outros tipos de atitudes....E, todos os poderes, os legítimos e não legítimos - diga a MÍDIA - não legalizada como poder, estão chafurdados nesta situação.... cada um com seus interesses....</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">3º Vejo também que muitos defendem saídas ortodoxas, tipo a volta dos militares, salvador da pátria...não acredito que o Brasil precise de salvador da pátria... precisa de 'salvadores da pátria'... do povo trabalhando, com educação, renda - soa discurso esquerdista não é ? mas se for pense como quiser...o que acredito é que todos somos a saída... e não apenas um, ou meia dúzia....</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">4º Percebo que aparentemente, kkkkk... eu me vejo assistindo a um programa de TV tipo Reality Show...Quem deve ser eliminado....quem deve ir pro paredão.... quem deve ser o mocinho...o bandido...? Me recordo então de um Livro : 1984, que em síntese diz:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><span style="background-color: white; color: #444444; line-height: 15.6px;">Winston, herói de </span><em style="background-color: white; color: #444444; line-height: 15.6px; text-align: start;">1984</em><span style="background-color: white; color: #444444; line-height: 15.6px;">, último romance de George Orwell, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. De fato, a ideologia do Partido dominante em Oceânia não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. O'Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que "só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade: só o poder pelo poder, poder puro".</span></span></div>
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><span style="background-color: white; color: #444444; line-height: 15.6px;">Algumas das ideias centrais do livro dão muito o que pensar até hoje, como a contraditória </span><em style="background-color: white; color: #444444; line-height: 15.6px; text-align: start;">Novafala</em><span style="background-color: white; color: #444444; line-height: 15.6px;"> imposta pelo Partido para renomear as coisas, as instituições e o próprio mundo, manipulando ao infinito a realidade. Afinal, quem não conhece hoje em dia "ministérios da defesa" dedicados a promover ataques bélicos a outros países, da mesma forma que, no livro de Orwell, o "Ministério do Amor" é o local onde Winston será submetido às mais bárbaras torturas nas mãos de seu suposto amigo O'Brien.</span></span><br />
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><span style="background-color: white; color: #444444; line-height: 15.6px;">Muitos leram </span><em style="background-color: white; color: #444444; line-height: 15.6px; text-align: start;">1984</em><span style="background-color: white; color: #444444; line-height: 15.6px;"> como uma crítica devastadora aos belicosos totalitarismos nazifascistas da Europa, de cujos terríveis crimes o mundo ainda tentava se recuperar quando o livro veio a lume. Nos Estados Unidos, foi visto como uma fantasia de horror quase cômico voltada contra o comunismo da hoje extinta União Soviética, então sob o comando de Stálin e seu Partido único e inquestionável. No entanto, superando todas as conjunturas históricas - e até mesmo a data futurista do título -, a obra magistral de George Orwell ainda se impõe como uma poderosa reflexão ficcional sobre os excessos delirantes, mas perfeitamente possíveis, de qualquer forma de poder incontestado, seja onde for.</span></span><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então me vejo sendo influenciado por fatos que só atingem um destino, e isso parece ser a solução para todos os problemas do Brasil....</div>
<div style="text-align: justify;">
DAI, CONCLUIR que neste emaranhado de complexidades e contradições o que devemos fazer;</div>
<div style="text-align: justify;">
LER, LER LER, INFORMAÇÕES EQUILIBRADAS....IMPARCIAIS - se é que existem - e procurar se posicionar, mesmo que seja de lado nenhum... Não se sinta Acovardado por decidir por ninguém....Assuma suas responsabilidades e</div>
<div style="text-align: justify;">
NUNCA SE ESQUEÇA....vai passar... e espero...</div>
<div style="text-align: justify;">
DESTA CRISE O BRASIL SAIA MELHOR....</div>
<div style="text-align: justify;">
É O QUE ESPERO,</div>
<div style="text-align: justify;">
ABRAÇÃO,</div>
<div style="text-align: justify;">
Prof. Mario </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-6465062152952833482012-01-06T04:09:00.000-08:002012-01-06T04:09:26.747-08:00UM ANO DE GOVERNO DILMA.... E AÍ, O QUE PENSAS SOBRE O TEMA???"A presidenta Dilma passa uma imagem de executora e que o mais
importante no governo é a eficiência em si, quase algo tecnocrático. Na
democracia, eficiência é,<img border="0" height="161" src="data:image/jpeg;base64,/9j/4AAQSkZJRgABAQAAAQABAAD/2wCEAAkGBhMRERUSEhQWFRQVFxgYFBQVGRcYGBcXFBQVGBcVGhgXHSYfFxojGRUVHy8gIycpLCwsFR4xNTAqNSYrLCkBCQoKDgwOGg8PGSkkHiAwKi8pLCwpKSwsLTQsLCwsLCkpLSksLCwsLCwsKSwsLCwsLywsLCwpLCkpLCwsNCwsLP/AABEIAKEAeAMBIgACEQEDEQH/xAAbAAACAgMBAAAAAAAAAAAAAAAFBgAEAQMHAv/EAD4QAAECBAQEBAQEBAMJAAAAAAEAAgMEESEFMUFRBhJhcRMiMpGBobHBI0Lh8BRic9EVM7IHJDRScoLCw/H/xAAaAQACAwEBAAAAAAAAAAAAAAACAwEEBQAG/8QAJREAAgICAQQCAgMAAAAAAAAAAAECEQMxIQQSE0EyUSKRFCNx/9oADAMBAAIRAxEAPwC9w6fMU1BKvD/qKaws6OixDRkL0sBZRBkUJWmamRDaXHIJRxDihwaeewOXJp3XHDRMYvCYaF3sqx4ih1sCReuWn1qFzR+IRo7+WG0uF6Uqa13KstwyZhjmcHDbcDr81NfYXa2dCHEkOrQA4112KJQ5hrsiuXjFCzltQ6e4sd8kelsXGWdQCK6jvuLLqBpjqolaHxKWO5bEde1Qa6VRiVx2E/Xl/wCqlD0ByQnBBYosqLjjyQoskLK44UcCPnKbGpRwQ+dNzckMRcNHpZWFKoxgu8U4tyUhgXOZ76IBDwt0d4YDRou+g022qs4ziIiTBDburQHOmw27pgkYHhNAzJzO65vtQzHHuZdkMOhwWhjGgD957lXHyYeCCqTI5rYK5CnQBdKjyy61SAmKcKtPmpSlPotErw8OXO+iZok0HChFuyrRordMkb4QpRtiniXDbnA8rqE/Y1QaBMxILvCif9tfr21TpFjBLnE8oIrOYAczcu2oQxnbpkZMdK0GOH8WLHiE97XMd6CPyu27H5JpXMJd7RDDTVrhYVAF+m/eq6Bgk74sBjj6gOV2nmbY/ZNaoqF9RRRQcJmEO/EThDNkmYYfxAnKEbIIi8ejYqOORi2XikZ8hpXc20V5UMdP+7xAMywho1JpkEYyrOc8OCsariSRnt7BPLHVouf8MReWKYjyGt5SCDYtINy6uQsmiNj7WjQBwqCTS2hytVRkXJYxOkMMMUvcjpdW4MZhGYXNXcUcl4cVtjehJyRLDuJ/Fdyu9ZsCMigprkcn3DvFlwcnW2Q2alqCtb9LfVUJnFxDIY4gGn3Vf/GIUS3iEfvqobsJcbPEaZ2dXuNVUhkvJJyoRTpkrM6xvKXA16oTM4mGg6JSXIbaoHRZ0ek0PLYt0IH6Lo/C8UOl2vH5iSepyr8guMzE5+KSNTb4ldq4abSUg0t5Ab9VdkjMsJqLCiA4R5A/iBOkE2CSZM/iBOsv6QgiKx6NqUOMi6LGhQQaAAudpkK3Teg+PYaHjnHroW99R91MtFrC6mhcwiQaHPfY83lORBIF1qxLBGPaObICgHQZIpLyghQw0aC53ccz3qq0CK5zqJcpNUWoxXNCu3Am3a1lebMgf3KM8LcO0mSKENDfNU/mOQHWl0YmIjIYvYk0G90VwvkaDQjmyucyeqNNv2T2L6Oc8Ytf/FOYw1DQLnWtd+yESfjsrUVbnUnO2Q0TliUq0xyaVrY9xt7rQ7C216KfJXBEsVu7BcLFHFhzAIrQ9NEO4gjODAQDyk+rQbV2KPRMKY3zDLZAcclHPeA0kNoK7Z673XQcXIXkUlGkaOH8LMxHZDGuW3WvzXcZeCGNa0ZNAA7ALnf+zqTY2YOZeGGmwyqV0hG5dxVcHDhmFFlRQQIcsfOO6dpX0hI0F3mHdO0mfKEEROMsqtiRHhkuNANduqsBRzQRQio2OSJj4unYsPjhzQRkb+61TE22E3RbJ6giPGQDvkgGLToaQ83obDO+lklrkvwfFhmSw0PaYkX1OFv5RoBsUpYhFiQIhhw3F4zBcSSK6dVXxDjaPDdaC4DVzwQFXbxhCeeZ8MtccyLj2Tux1ojyq+WFsLZHI53nI1HUHSmlkTmYllWw/FmPb5SCDkR/bdbYr62SZj4OyqIhJoqE9XxWt/KQiNPMiGDYKI8YEiwqXnpoANK5LogTkk7fovcA4SWmJHcKB3lh11FbntYJxK8sYAAAKAWAGQGyyU5KjPnPvlZmqiwopAOfs9Q7p2kD5Ah0DhZoYC+pd0NB2G6MScFhbRriCMw7NNj08vZVjkSPQVbEcRbBA5szYAZk6BX4z/Dbe/VL0tD8SIY77mpbDrk1ozNNyddgm+KMF3SYSnLI+2KK2NSrgx0YkXpVo00zQCSk/FJeRUNoB8Uc4ixVpYYbeyq8LzbRBLSaHnNdwKCh6DNUq7nwaq/rikB56few8vLbWoqEFjw4D/VBYDuKhPWJYgyDdzmtB/5iPlqfgh0CZlZghoLC61AD5j8CpUWlwM8kXwxSlcKDHVh1DSbjTujcaIG2CJ4lIMhw3O0FvibU6paEck10QNNvkKMorlFl8yAQCacxA9004DOeCw08wOZOtOy5ji8V7nAwzeG4E93C30+aeZCa8rR0qae5+au48SrlGV1GZ9zVjrK4oHZgj5q2Hg5FLUnPDsUwSswCBuUx4EVlmZuKi9kbKJbwS9MZ5kZnI2yD4jGNnw/VavXotboxfc1HSpXpkNo/VFLq4pfjyFDopv5cFlkwXtAf7DJbHsBFBYdFR/iWi1fZev4kjJp7qjPJKbuRo48UcaqJSmeEobiXuiPHsqkPhJrXczI5FRQ2FCDoUTGOVPLSu6rTUqX+aDE5d2uy+BQd1aGuN7Ak3wBEixDEdMB2woRQbDQJS4lweNLutBiADKJzB4PUFrRyp0m401C9TS5u7L+4CtSPFFaB4p3/AFTo55LZXn0sXoQRjz48JoefTZ3UjUrRMz3K2g+K6bHwaSmwS8Bjjk5goa7mliuUcSSvgxYkJrucNdQOGv6oo1Jku4RphHhKB44jg5uu3uw1Cav4At89bOFNLGgqFU4FwUsY1x/dk4Mlg4Fuh+R3WlFUjFnK2C8NgVe2qYGMzIzBshEgOVxBzbY90WhRLkdlL2QtG+FMOGd+yirCYpc/vdYR0DZT5yDZbBM2pRA34yMwbLH+OBpC88melphwx+lFhmLtYfNntRUG4yw62W17oThWuaKyK+0bI80yLXlFEGjTzob+Qmh06qRY3I4CtK5KTnLGbyRG12Oo6god7C/wIymLEZ/JVsZk2zcMtBLHC7H5eb+yUcSgRpZ45Yji3SpqOxRTA+KGxiWOBa9ouNCNwU6MZJXETKUL7ZAKZmZuV8j3OaadweoKp4NJGO90Q1LW5Hdx/wDvzXQZuTZNM8KJ6TcOGYOhBVSR4eECCWVry18w/Ma5q1gqTsq9VcYpCliHFcZkxyy8RzIcIcoAycQPM5wNnX+i6NwpjzJtgNhFA87P/IbtPyXJpiVpEiHPzuFe7itkOO6GWvYS1wyLSQR7K4pUzOcbR2jEpblIePzEV7jL5fRYhHzuHRA+FOKIkxAMOYo535YlKEkXHNTXqjgbR7TuKIrAqjRiAseoPzsotuIM8p3p9wojsChKg4VFc3mY2ouPbNa34ZErRzSPgnVwawBrAABoF68UVCoLo1W+TTfXyT1wJ8PC3gZEj4qw0hhDXEVOQqnMEFtEsPw/lmOZ2WQQ/wANe2c+vl9GiPDhxmljxUb5EdQg4mHy0QMi+eGfTE1A67pjj4b5iW91UnpKtiKkaFIeN43UuUWo5FlVwdM1YnJiLCzrUWPXdI8jWFNgOtWrSO9l0mHhrhDrTyDXQdFWl8IlHu54zGueKcriSCKdiNUcX4ZNMCUfPBNbAfBc43xIsKNFc3lI8MWI1BF77JvjxIb/AMNj6mmmls1XfwrJxCXBvK8/nYSD/ZasM4cEGIXiKXDZw+6h5OW48BrEmkp8itPcMuaOWtSHGp36/FD4WGkvDHCl10uak2v8zTfUKjMYUHXpcaq5il5FZnZ4eKVfooYNKiC7lHT7plMaoadiEryEzWI5pzH2KOy76t+IT64K18m7EZg0tuP9QUVXEDcVy5h9a/ZRSCepkHmGQCy59wvcdt1q5ao1oF7CcF3lCG4m3MonDb5QqM02ocEKJej1Ku5mgrxPtoWu3FD3FvpRasKcR5TkVamm1a5u1HD6H5UPwUPYSboAYzixH4YqRWw3LqfoqDcLjk+Z7Gfy3J+NF7m3M8TnLqEXHeiqOxPzhrQ6I47fWp0WXnhJSbrZtdNkg4KKeqDeGQBCPM6MX/ygUH1V+HiLDUA3+SFQJMupUgHauXxXjFJXwKEOz2VUtOmwiZstd+/ZXZOdDgQbGhpsf1S62LataheI89UeW56I8OSWOVoDPhjljTJONLH+INc/dMUgQWV3SrHbFIo82NrZj2W+Vn4jD4YeHAfAha0c0ZrhmHPBKD/JF/i+c8OCXamlPfNRLmP4r48OIz8ws0b3CilyOUToEfNeR+/dRRNEsIQ/SqLtVFEMdkyNUtmFsxH0u/pv/wBJUUXErRzxytwv+JH9EfVRRVOp+Jd6P5Bd2S2Yn/khRRZftGy9A+U/fstcn6yooj+wX6LcbNDHf5j/AOmz/wBiiiPDsT1HxB096h2b9FFFFaKi0f/Z" style="float: right; margin: 5px;" width="120" />
sem dúvida, muito importante e necessária (...) mas eficiência só não
qualifica o governo democrático, um governo por definição instável e de
incertezas, impregnado pelas contradições da sociedade, que a democracia
as transforma de forças destrutivas (a tal luta de classes da
sociologia e ciência política) em forças de construção e transformação
pactuada. A dinâmica cidadã – a luta de classes operando segundo valores
e princípios democráticos aceitos por todas e todos – constitui e
qualifica o governo e as suas políticas". O comentário é de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/41009-um-balanco-do-fsm-de-2011" target="_blank">Cândido Grzybowski</a><strong>,</strong> diretor do Ibase, analisando o primeiro ano de governo de <strong>Dilma Rousseff </strong>em texto publicado no sítio do <strong>Ibase</strong>, 05-01-2012.<br /><strong><br />Eis a análise.</strong><br /><br />Após um ano da posse de<strong> Dilma Rousseff</strong>
na Presidência da República, penso que vale a pena um balanço, de uma
perspectiva da cidadania. Claro que é um ponto de vista a partir do
lugar que ocupo numa organização de cidadania ativa, como o Instituto
Brasileiro de Análises Econômicas e Sociais. Não tenho a pretensão de
ser uma voz representativa de quem quer que seja. Defendo só a
legitimidade de minha análise.<br />
Vou começar por onde <strong>Dilma </strong>tem se revelado mais do que se esperava. Como primeira mulher presidenta do Brasil, <strong>Dilma </strong>é,
por ela mesma, uma grande mudança de expressão da sociedade brasileira,
suas diversidades, desigualdades e contradições, no poder político. Não
é aquele encontro entre povo e nação encarnado por <strong>Lula</strong>, migrante nordestino, operário, identificado com a cultura popular. Mas é fundamental que se reconheça o quanto <strong>Dilma </strong>representa
para o enfrentamento e a ruptura do estrutural patriarcalismo do poder
no Brasil. Pelo que sei, ela não tem uma história de militância cidadã
no feminismo, mas está se portando como se assim tivesse, o que torna a
sua atitude extremamente relevante na perspectiva democrática de
transformação do Brasil, de inclusão, justiça social, participação e
sustentabilidade. Não podemos avançar como nação sem enfrentar a
profunda desigualdade de gênero e o machismo. Isso não quer dizer que as
outras marcantes desigualdades brasileiras sejam menos importantes. Na
verdade, elas se interligam e combinam, tornando extremamente difícil a
mudança. Por isso mesmo, é muito relevante ter uma presidenta
comprometida com justiça social.<br />
<strong>Relações internacionais</strong><br />
Uma outra estimulante e impactante surpresa do governo <strong>Dilma </strong>é a direção imprimida até aqui no delicado campo das relações internacionais. <strong>Lula </strong>teve
o grande mérito de instaurar uma agenda de Brasil emergente, numa
estrutura mundial muito polarizada pelos países desenvolvidos, sob o
manto da hegemonia dos EUA. Ele deu atenção especial às relações Sul-Sul
e às possibilidades de mudança no quadro de poder global. Só que <strong>Lula </strong>nem
sempre se portou pautado por uma agenda de condicionalidades
democráticas e de direitos humanos. Ele atropelou e agiu
pragmaticamente. <strong>Dilma </strong>é mais coerente e tem cuidado
com a legitimidade democrática da atuação brasileira, um grande país
emergente, sem bomba atômica, vale a pena ressaltar.<br />
Ela não se atua dominada por um chamado “interesse nacional” acima de
quaisquer princípios éticos e valores democráticos. Aliás, o que é
afinal o “interesse nacional”, que representantes das classes dominantes
e conservadores gostam de jogar na nossa cara, num país tão
profundamente diverso, desigual e com tantos excluídos? A mudança do
governo <strong>Dilma </strong>se nota claramente na nova postura da
diplomacia brasileira no Conselho de Segurança das Nações Unidas e nos
fóruns de direitos humanos. O discurso da presidenta <strong>Dilma </strong>na abertura da Assembleia-Geral da <strong>ONU </strong>é
uma verdadeira tomada de posição e de definição por um Brasil
democrático, bem ao gosto de ativistas de direitos humanos e de
cidadania. Destaco isso sabendo que tal posição vem no bojo de muitas
contradições do governo <strong>Dilma</strong>. Mas a mudança que
assinalei é um forte indício de que Dilma está se fazendo a pergunta
sobre que Brasil o mundo precisa, antes de decidir estratégias e
políticas internacionais.<br />
<strong>Faxina nos ministérios</strong><br />
O que mais? No gosto de muitos e da grande imprensa – e isto rende
grande apoio à Dilma, segundo as sondagens de opinião – ela está fazendo
uma faxina ética no governo, dando um basta à corrupção. É bem verdade
que muitos ministros foram substituídos por causa da corrupção. Mas esse
fato em si não me parece indicar uma grande mudança na Política (com P
maiúsculo mesmo). O poder no Brasil – nos três Poderes, diga-se de
passagem – é visceralmente tomado pela corrupção, com raízes profundas
no patrimonialismo e clientelismo. Isso vem de lá de longe, com suas
sete vidas. Haveria mudança se entrasse na agenda democrática brasileira
uma profunda reforma da Política, que superasse o distanciamento, o
fosso e as barreiras existentes na relação entre cidadania e poder. Isso
nada tem a ver com o debate da reforma política instaurado no
Congresso, mais uma obra do jeitinho que diz que muda para nada mudar.
Como disse, o que Dilma fez até aqui neste campo não passa de gestão
delicada da confederação política de interesses privados que se agarra
ao poder. Tem outro sentido a substituição de uns ministros por outros
do mesmo partido, como se fossem os donos de fato do poder público? A
cidadania não está nesse jogo e por isso a tentativa de recriar algo
parecido ao movimento de ética na política está dando com os burros
n’água. Dilma prestaria relevante serviço à democracia se fosse mais
ousada e determinada no enfrentamento desse estrutural desafio político,
não resolvido pela Constituição de 1988 (apesar de seus enormes avanços
em direitos de cidadania).<br />
<strong>Participação cidadã</strong><br />
Um outro desafio estratégico para o governo <strong>Dilma </strong>é a participação cidadã. <strong>Dilma </strong>não carrega uma história de relações com amplos e contraditórios segmentos da cidadania real do Brasil, como <strong>Lula</strong>.
por exemplo. Isso se reflete numa espécie de burocratização da
participação cidadã nas políticas públicas no governo. É claro que a
sintonia fina com a cidadania faz enorme diferença.<br />
Com <strong>Lula</strong>, o palácio de “portas abertas” à
diversidade brasileira e o estímulo à participação em mais de 50
conferências nacionais e não sei quantos conselhos mobilizou milhões de
brasileiras e brasileiros, mesmo que esses espaços tenham tido pouco
poder real. Geraram muitas frustrações, pois eram e são, acima de tudo,
espaços consultivos para construir consensos e agendas possíveis. Porém,
em termos democráticos o Brasil ganhou do governo <strong>Lula </strong>a
maior escola do mundo de aprendizado da cidadania política, que começa
por reconhecer a diversidade e a necessidade de construção democrática
de consensos e pactos, definindo a dialética dos direitos e das
responsabilidades compartidas, para que avanços sejam possíveis. Os
milhões de pessoas que se engajaram e que voltaram a se engajar, do
local ao nacional, em disputas de ideias, sentidos, posições e projetos,
deram cara nova à democracia brasileira, reconhecida no mundo todo. O
poder político não mudou por isso e ainda vai demorar a mudar, mas a
democracia se fortaleceu como estratégia e processo capaz de operar
mudanças sustentáveis no longo prazo, como são as revoluções
democráticas.<br />
Nesse campo fundamental da democracia, onde a contribuição do <strong>PT </strong>fez diferença <strong>Dilma </strong>parece
que não se move com facilidade e com visão estratégica. O combate à
corrupção sem participação cidadã não passa de maquiagem no governo. A
presidenta <strong>Dilma </strong>passa uma imagem de executora e que o
mais importante no governo é a eficiência em si, quase algo
tecnocrático. Na democracia, eficiência é, sem dúvida, muito importante e
necessária, até mais do que em governos autoritários, onde o poder
bruto, de dominação, sem contestação, pode se dar ao luxo de ser
ineficiente. Mas eficiência só não qualifica o governo democrático, um
governo por definição instável e de incertezas, impregnado pelas
contradições da sociedade, que a democracia as transforma de forças
destrutivas (a tal luta de classes da sociologia e ciência política) em
forças de construção e transformação pactuada. A dinâmica cidadã – a
luta de classes operando segundo valores e princípios democráticos
aceitos por todas e todos – constitui e qualifica o governo e as suas
políticas.<br />
Num país como o Brasil de hoje, com um Congresso e um Judiciário
dominados pelo corporativismo, a estratégia possível para as necessárias
e desejadas mudanças democráticas reside na tensão gerada pela
participação cidadã na Política. Claro que representantes e negociadores
revestidos de mandato pelo voto, um Judiciário legítimo, independente e
efetivo, e bons formuladores e gestores de políticas são indispensáveis
nas democracias. Mas a cidadania ativa é parte que institui e
constitui jogo, ou melhor, a luta democrática, por mais que
conservadores não gostem disso. O que aconteceu e está acontecendo no
mundo árabe é o melhor exemplo do que estou falando. O modo de definir o
que vai ser feito e como vai ser feito nas democracias é mais
importante do que o resultado em si. Os fins não podem justificar os
meios utilizados. Pelo contrário, são os meios que qualificam os fins.<br />
É bom lembrar que cidadania é tanto o direito a ter direitos, como a
responsabilidade pelos direitos, o que implica na participação cidadã
como responsabilidade da própria condição de cidadania. A luta
democrática impõe a seus líderes e seus representantes a capacidade e a
sabedoria para se sujeitar à cidadania, para tirar partido das tensões,
das vaias e dos aplausos, das críticas, das mobilizações de apoio.
Essas, junto com o fundamental ato de votar, são formas como
efetivamente se dá a participação dos constituintes do poder político.
Democracia é voto, mas também é ruído e confusão, é praça pública, é rua
tomada por manifestação, é engajamento em defesa de causas. Sintonia
fina com a cidadania é condição sine qua non para a efetividade de
qualquer governo ou instituição democrática. Enfim, um governo
democrático não pode estar de costas à participação.<br />
<strong>Erradicação da miséria</strong><br />
Para mim, um simples ativista de longa data pela justiça social, nada mais relevante no governo <strong>Dilma </strong>do
que o objetivo de em quatro anos erradicar a miséria, uma chaga a que
estão condenados mais de 16 milhões de cidadãos e cidadãs no Brasil.
Trata-se de uma tarefa ética incontornável e inadiável, porque
possível, dada a pujança de nossa economia. Salta aos olhos, porém, e
explica uma não empolgação com o “Brasil Sem Miséria” a falta de
participação cidadã no desenho dos objetivos e na execução do programa.
Também me incomodou a ausência da presidenta <strong>Dilma </strong>na recente Conferência Nacional de Segurança Alimentar, apesar da participação do ministro <strong>Gilberto Carvalho</strong>
ter mitigado o problema. O fato é que a ausência da presidenta em tão
importante conferência para indicar o rumo que o Brasil precisa trilhar é
muito simbólica. Estou também profundamente intrigado e incomodado com a
decisão governamental de excluir a <strong>ASA</strong>, Articulação do
Semi-Árido, da implantação do programa de cisternas no Nordeste, talvez
uma das políticas mais inovadoras até aqui em termos de efetiva
participação no seu desenho e implementação. Lamentável! Tudo em nome da
eficiência, pelo que suponho.<br />
<strong>Agenda desenvolvilmentista</strong><br />
Por fim, destaco o modo como <strong>Dilma </strong>e seu governo dão
continuidade a uma agenda desenvolvimentista, baseada nos grandes
projetos e grandes corporações empresariais, sem ao menos discutir tal
agenda com amplos segmentos da cidadania ativa. Outro lado igualmente
ruim nessa agenda é a sua elaboração e defesa com renovado ímpeto.
Parece-me ser um grande erro, que vai nos custar muito logo mais,
definir para o Brasil um projeto de desenvolvimento puxado pela
acumulação capitalista, projeto que, no mundo todo, mostra sinais
evidentes de crise e esgotamento. A muita riqueza que ele gera se
concentra em poucas mãos e é feita às custas da destruição ambiental,
com ameaças à sustentabilidade da vida no planeta. Trata-se de produção
de luxo e lixo em benefício de poucos (os movimentos de indignados, que
se espalham pelo mundo, martelam no 1%,como o tamanho dos verdadeiros
beneficiados).<br />
Em tal modelo de desenvolvimento, só a reboque do seu crescimento
contínuo, se vislumbra a possibilidade de fazer maior justiça social. Um
tal desenvolvimento se alimenta da destruição ambiental combinada com
desigualdade e injustiça estrutural, entre os habitantes atuais da Terra
e de nós com as gerações futuras. A globalização das últimas três a
quatro últimas décadas acelerou e exacerbou todas as contradições deste
modelo. A ameaça não é mais aqui ou lá, tem dimensões planetárias. Isso
não leva a mais democracia e nem preserva a condições para a vida digna e
o bem viver. Para a dignidade humana, com garantia de todos os direitos
para todos os seres humanos, para a sustentabilidade da vida, de nossa e
de toda a biosfera, para a preservação do próprio planeta, precisamos
sair da lógica desenvolvimentista atual, ao menos começar a ir em outra
direção, desarmando a bomba relógio da civilização industrial
consumista, social e ambientalmente predatória.<br />
Será que o Governo <strong>Dilma </strong>não vê a possibilidade histórica que está à sua porta, com a conferência <strong>Rio+20</strong>,
para assumir um papel ousado e relevante, tanto ética como
politicamente, em direção a tais mudanças? Nada a esperar dos EUA, do
Japão, nem mesmo da Europa em crise. Da China, do capitalismo selvagem
ou dos outros emergentes o mais provável é aparecerem negociadores para
fazer ativa oposição a qualquer compromisso de mudança mais de fundo. A <strong>Rio+20</strong>,
de junho próximo, poderá ser uma rara oportunidade, sob legítima
liderança do governo Dilma, de arrastar outros governos e de pactuar com
a sociedade civil do Brasil e do mundo uma direção para outro
paradigma, uma outra economia, um outro modo de gerir as sociedades e a
nossa relação com a natureza. Mas, para exercer um papel assim, é
necessário ao menos se dispor ao diálogo democrático, pondo na mesma de
negociação a própria questão do desenvolvimento. A agenda
desenvolvimentista atual do governo <strong>Dilma </strong>não combina
com isso. Fica um desejo e um clamor: gostaria de ser surpreendido neste
ano com a vontade e a determinação da presidenta <strong>Dilma </strong>de
fazer com que nós nos orgulharmos do Brasil emergente, apontando os
caminhos democráticos possíveis para uma civilização sustentável.MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-57931272968068054412011-12-22T10:57:00.000-08:002011-12-22T10:57:23.873-08:00O QUE PENSO EM 2011???<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">OLHA, SELECIONEI POUCAS ENTREVISTAS E OPINIÕES SOBRE AS COISAS E FATOS EM 2011... E ESPERO, PROMETO, EM 2012, PUBLICAR MAIS ENTREVISTAS BOMBÁSTICAS... FRENÉTICAS E CHEIAS DE PIMENTA SOBRE TUDO... ESSA É UMA PROMESSA...AFINAL, 2012, ELEIÇÕES MUNICIPAIS... JOGOS OLÍMPICOS....POLÍTICA, RIO MAIS 20....</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">TEM MUITA GENTE ESCREVENDO COISAS POR AÍ, QUE PRECISAM SER REGISTRADAS AQUÍ...</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">ENTÃO TÁ, ATÉEEEEEE</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">TÔ DE FÉRIAS....</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">FUIIIIIIIIII </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-62079330597999283302011-07-19T14:22:00.000-07:002011-07-19T14:22:05.264-07:00NOVO CÓDIGO FLORESTAL !<div style="text-align: center;">Código Florestal deve integrar agricultura e preservação ambiental. Entrevista com Ricardo Rodrigues </div><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;">Antes de aprovar um novo Código Florestal, é preciso reavaliar o Código vigente e atualizá-lo com o conhecimento científico adquirido nos últimos anos. Essa é a proposta defendida pela Academia Brasileira de Ciência – ABC e pela Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência – SBPC. “Sugerimos, em encontro no Senado e na Câmara, que o Código em vigor seja reescrito incorporando o conhecimento científico existente, pois não podemos pensar a questão ambiental separada da questão agrícola”, disse o biólogo e membro da ABC e SBPC à IHU On-Line por telefone. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Ricardo Rodrigues integra o grupo de pesquisadores responsáveis pelo estudo O Código Florestal e a Ciência – Contribuições para o Diálogo, organizado pela SBPC e pela ABC. Recentemente, ele e outros cientistas apresentaram sugestões de alterações ao Código Florestal aos senadores da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) e da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). Segundo ele, o encontro foi positivo e a perspectiva é que o texto do Código Florestal seja alterado e aprovado até dezembro. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Na entrevista a seguir, Rodrigues diz que o novo texto do Código Florestal apresenta equívocos e não soluciona os problemas do Código atual. Entre as limitações da nova proposta, ele aponta a redução da mata ciliar de 30 para 15 metros. Segundo ele, o conhecimento científico disponível hoje já é enfático em relação à questão. “O conhecimento científico mostra que 30 metros é extensão mínima para o cumprimento do papel da mata ciliar. Com certeza a redução de 15 metros proposta no novo Código Florestal baseia-se em nada”. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Ricardo Ribeiro Rodrigues é graduado em Ciências Biológicas e doutor em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Atualmente é docente na Universidade de São Paulo – USP e coordena o Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal da instituição.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Confira a entrevista. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">IHU On-Line – Qual é a proposta da Academia Brasileira de Ciência e da Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência para o novo texto do Código Florestal? </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Ricardo Rodrigues – Defendemos que o atual Código Florestal tem problemas e precisa ser atualizado em termos de conhecimento científico para depois pensarmos na criação de um novo Código Florestal. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Acreditamos que é possível construir uma política ambiental brasileira ou um novo Código Florestal sustentado no conhecimento científico disponível. Sugerimos, em encontro no Senado e na Câmara, que Código em vigor seja reescrito incorporando o conhecimento científico existente, pois não podemos pensar a questão ambiental separada da questão agrícola. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Aqueles que defendem a criação de um novo Código Florestal justificam que não existem florestas remanescentes no Brasil para o cumprimento da Reserva Legal dentro da perspectiva do Código vigente. Portanto, como não tem floresta para o cumprimento da Reserva Legal, a proposta é mudar o Código. Entretanto, em nenhuma das análises foi incorporada uma reflexão sobre as áreas que já foram inadequadamente disponibilizadas para agricultura. Com a evolução da tecnologia no campo, muitos territórios acabaram se transformando em áreas marginais e foram abandonados e agora querem revertê-los com uma nova ocupação dentro do conceito da Reserva Legal.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">IHU On-Line – Quais são os principais equívocos do novo texto do Código Florestal?</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Ricardo Rodrigues – Uma das propostas do novo Código é reduzir a área das matas ciliares de 30 para 15 metros. Se existe uma faixa de Área de Preservação Permanente – APP de 30 metros, mas só se recupera 15m, o que se faz com o restante? Essa aérea ficará abandonada? O conhecimento científico mostra que 30 metros é extensão mínima para o cumprimento do papel da mata ciliar. Com certeza a redução de 15 metros proposta no novo Código Florestal baseia-se em nada.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Outro equívoco é tentar compensar as degradações da Reserva Legal dentro do bioma. Quando se faz compensação do bioma, compensa-se uma formação ambiental muito diferente daquela que foi degradada, pois dentro do mesmo bioma existem vários ecossistemas. Quando se degrada uma área da Reserva Legal, é preciso recuperá-la e conservá-la. Através do conhecimento científico, mostramos que essas compensações têm um limite espacial de distância que precisa ser respeitado. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">IHU On-Line – O senhor esteve reunido com os senadores da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle e da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária para falar sobre os impactos do Código Florestal. Como foi o encontro?</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Ricardo Rodrigues – Foi muito positivo. Estava desanimado com a aprovação do Código Florestal na Câmara, mas fiquei animado com a recepção dos senadores em relação às nossas propostas. Conseguimos expor nossa posição; apontamos os itens do Código Florestal que precisam ser alterados e fundamentados no conhecimento existente e, principalmente, defendemos que é preciso integrar a questão ambiental com a agricultura. Não existe essa dicotomia, que foi colocada no texto do novo Código Florestal, de que a questão ambiental briga com a questão agrícola. Elas são complementares.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Para se ter uma ideia, as usinas de cana-de-açúcar são altamente impactantes em termos ambientais e não respeitam o Código Florestal atual, no que diz respeito à Reversa Legal, e as áreas de preservação. Ou seja, elas estão irregulares em termos ambientais. Mas quando se faz um diagnóstico ambiental e agrícola destas propriedades, percebe-se que a taxa de ocupação agrícola com cana-de-açúcar é em torno de 70%, enquanto a ocupação de áreas de preservação permanente fica em torno de 8%. Portanto, falta no Brasil um planejamento ambiental e agrícola da atividade de produção. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Outro grande problema ambiental do país é a pecuária: 2/3 da área agrícola é utilizada com pecuária de baixa produtividade. Nesse sentido, é preciso aumentar a produtividade da pecuária, o que permitirá a redução de área com pecuária, a qual poderá ser utilizada para a expansão da agricultura de grãos ou de cana-de-açúcar, por exemplo. Até 2030 o Brasil precisará de 15 milhões de hectares para a expansão agrícola. Ou seja, a solução da agricultura está na própria agricultura.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Alguns argumentam que o café, o arroz e o maracujá estão em áreas de restrição ambiental, mas estas são situações isoladas em relação ao todo. Para esses casos, podem-se pensar alternativas específicas, pois existem algumas soluções técnicas que permitem diminuir o impacto ambiental destas culturas. É besteira mudar um Código inteiro por causa de situações que representam 5% da atividade agrícola brasileira.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">IHU On-Line – Como os agricultores reagem diante da possibilidade de preservar as APPs?</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Ricardo Rodrigues – Quando se propõe aumento de tecnificação da agricultura, eles aceitam preservar as APPs. Eles não conseguem cumprir as regras do Código Florestal por causa da baixa produtividade agrícola. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">IHU On-Line – Como é possível recuperar os 61 milhões de hectares de terra que estão degradadas?</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Ricardo Rodrigues – É possível recuperá-las através da agricultura. Existem práticas agrícolas que permitem esta recuperação. Terras de baixa aptidão agrícola devem ter realocação de uso e podem ser destinadas à Reserva Legal. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">IHU On-Line – Vocês apresentaram aos senadores novas tecnologias para o mapeamento e estudo sobre os recursos naturais brasileiros. Que tecnologias são essas?</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Ricardo Rodrigues – Hoje, dispomos de um pacote tecnológico de imagens de radares e de novos programas de computador que permitem o planejamento agrícola ambiental de forma muito mais efetiva do que 40 anos atrás, quando o Código Florestal foi aprovado. Atualmente, temos imagens de alta resolução que permitem monitorar metro a metro a produção agrícola. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">IHU On-Line – Qual sua expectativa em relação à aprovação ou não do novo Código a partir deste encontro com os senadores?</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Ricardo Rodrigues – Segundo os senadores, a decisão final será da presidente. Até dezembro serão realizadas novas discussões, votações, e certamente o texto voltará para a Câmara com alterações. A expectativa dos senadores é que até dezembro o Código seja aprovado. Saí deste encontro com a perspectiva de que vamos conseguir fazer um planejamento agrícola e ambiental com conhecimento científico.</div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-74943272123182160442011-07-19T14:17:00.000-07:002011-07-19T14:17:49.797-07:00Historiador diz que só fim do euro salva a União Europeia<div style="text-align: center;"><strong>COMO O ASSUNTO DO OMENTO É A CRISE NA UNIÃO EUROPÉIA E NOS EUA, SEGUE ABAIXO, UMA REPORTAGEM, OPINIÃO SOBREO TEMA:</strong></div><div style="text-align: center;">O historiador Niall Ferguson, professor da Universidade de Harvard, nos EUA, sempre foi um crítico do uso de uma moeda única na União Europeia (UE).</div><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;">Em 2000, após a adoção do euro, ele já previa que o moeda não duraria dez anos devido às diferenças fiscais entre os países.</div><div style="text-align: center;">Agora, afirma, a Europa precisa agir rápido: acabar com a união monetária para salvar a União Europeia.</div><div style="text-align: center;">Ferguson deu nesta quarta-feira uma palestra em Edimburgo (Escócia) dentro da TED, conferência sobre tecnologia, entretenimento e design que termina na quinta-feira.</div><div style="text-align: center;">Autor do livro "Civilization: The West and the Rest" (Civilização, o Ocidente e o Resto), falou sobre o declínio do Ocidente, após mais de 500 anos de domínio sobre o resto do mundo.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Depois, conversou com jornalistas sobre a crise econômica na Europa e nos Estados Unidos.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">A entrevista é de Vaguinaldo Marinheiro e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 14-07-2011.</div><div style="text-align: center;">Eis a entrevista.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">O que a Europa deve fazer para conter a crise da dívida?</div><div style="text-align: center;">Quando a Europa adotou o euro, eu já dizia que não iria funcionar, porque você não pode ter uma união econômica sem união fiscal. Em 2000, escrevi que a moeda não duraria mais de dez anos, porque as enormes diferenças entre os países causaria o colapso do sistema. É o que vemos agora.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">A política de empréstimos não está revolvendo o problema. O que fazer?</div><div style="text-align: center;">Há duas opções para a Europa hoje, ou se transformar numa federação, como os Estados Unidos, ou abandonar essa ideia de moeda única. Mas não há vontade política para a federação. Estamos muito próximos de uma crise enorme. Os mercados já se voltaram para países como Itália e Espanha. Não faz sentido manter uma política de moeda única se você questionar a participação desses países.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Não é possível excluir países e salvar a moeda?</div><div style="text-align: center;">Eu acho que é preciso acabar com a moeda única para salvar a UE. Não há outra solução. A Grécia não vai ser competitiva com a mesma política monetária da Alemanha. Portugal também não. Há seis meses, ainda era possível manter o euro e excluir da união monetária um país ou outro. Mas essa solução foi sendo adiada e hoje não é mais uma opção.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Por que a Europa está demorando para tomar uma atitude mais drástica?</div><div style="text-align: center;">Porque as pessoas em Bruxelas (sede da UE) e em Frankfurt (sede do Banco Central Europeu) continuam a negar a realidade.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">E o problema do déficit nos Estados Unidos?</div><div style="text-align: center;">Essa discussão sobre calote é estúpida. Entramos num território muito perigoso quando encontramos na mesma manchete de jornal os termos EUA e calote. Mesmo com o enorme problema fiscal dos EUA, não devemos falar de calote nesse momento. É incrível que os republicanos tenham ficado tão doutrinários que não queiram nem sequer discutir o fim de buracos no sistema tributário e nas despesas do país para reduzir o déficit. Para quem não tem um cérebro histérico, essa ideia de calote nos Estados Unidos é chocante. </div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-16931061463276873592011-03-10T14:50:00.000-08:002011-03-10T14:50:01.996-08:00A força do WikiLeaks. Entrevista especial com Alberto Efendy Maldonado<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1yCVOspOO25NHdVAqlxwedpvb-tCd7sc1fzTToHohwVyfpMzQWEMiR-VeguwHdi-Z2SACE7ZF1SP34lUzXl439JXpG4YLNR5NUF2CSBLpkbmaplaEMyK2hWPiAtV5zhK-tQ6rKjW4gVEw/s1600/WikiLeaks-Logo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" q6="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1yCVOspOO25NHdVAqlxwedpvb-tCd7sc1fzTToHohwVyfpMzQWEMiR-VeguwHdi-Z2SACE7ZF1SP34lUzXl439JXpG4YLNR5NUF2CSBLpkbmaplaEMyK2hWPiAtV5zhK-tQ6rKjW4gVEw/s400/WikiLeaks-Logo.jpg" width="311" /></a></div><div style="text-align: center;">Julian Assange sequer jornalista é, mas as revelações que tem trazido à tona através do WikiLeaks têm “balançado” o jornalismo de todo o mundo. Afinal, o WikiLeaks suscitou, no mínimo, uma revolução no campo diplomático através da internet. Teria, portanto, iniciado a primeira ciberguerra? Para o professor de comunicação social Alberto Efendy Maldonado, “a cultura colaborativa tem mostrado, nos últimos 16 anos, sua incomensurável força. Hoje ela é um aspecto central dos novos poderes comunicativos e sociais”. Em entrevista à IHU On-Line, realizada por e-mail, Efendy analisa o fenômeno WikiLeaks e as consequências da revelação dos documentos “secretos” do governo estadunidense. “No mundo digital, as condições de construção de hegemonias, constituição de poderes e vitalidade política são distintas, significativamente favorecem a democratização das comunicações”, explicou.</div><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alberto Efendy Maldonado é graduado em Comunicação Social pela Universidad Central Del Ecuador. É mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e pós-doutor pela Universitat Autònoma de Barcelona. Atualmente, é professor do PPG em Comunicação da Unisinos. Organizou o livro Internet na América Latina (Porto Alegre: Sulina/Unisnos, 2009) e autor de Teorias da Comunicação na América Latina/ Enfoques, encontros e apropriações da obra de Verón (São Leopoldo/RS: UNISINOS, 2001), entre outras obras.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Confira a entrevista.</div><br />
<div style="text-align: justify;">IHU On-Line – Que sinais a comunicação pode absorver do fenômeno WikiLeaks?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alberto Efendy Maldonado – Os processos de comunicação fluem numa época de mudança profunda de estruturas, possibilidades e configurações. O WikiLeaks mostra ao campo das mídias tradicional, pré-digitalização, pré-internet que os modelos autoritários, concentradores, oligopólicos, controladores e manipuladores de informações e mensagens têm nos contextos atuais configurações, modelos, agires, culturas e realizações que rompem com as lógicas etnocêntricas e excludentes das transnacionais midiáticas comerciais e os governos que as apoiam.</div><div style="text-align: justify;">A cultura colaborativa tem mostrado, nos últimos 16 anos, sua incomensurável força. Hoje ela é um aspecto central dos novos poderes comunicativos e sociais. O livro fluxo de mensagens sem censura que pensava Norbert Wiener [1] já na sua “Cibernética Social” da década dos 1950, hoje é uma realidade que vai adquirindo penetração e reconhecimento crescentes.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">IHU On-Line – Como sai Obama, o homem da internet, depois das revelações que o WikiLeaks traz sobre a diplomacia estadunidense?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alberto Efendy Maldonado – Informações que as universidades estadunidenses, ex-combatentes no Afeganistão e no Iraque, meios de comunicação alternativos e redes de solidariedade têm oferecido durante estes anos se confirmam e ampliam. As caretas de Obama e Hilary Clinton caíram nos documentos e ainda mais nas declarações que deram na sua “defesa”. Fica claro aquilo que os pensadores e pesquisadores críticos do mundo argumentaram desde o surgimento do “fenômeno” Obama, ele responde a um sistema (conjunto de sistemas, complexo militar industrial, etc.) que o escolheram por ser adequado à conjuntura. Para os migrantes nos EUA, os anos Obama têm sido muito mais repressivos do que a era Bush.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">IHU On-Line – Podemos dizer que o WikiLeaks abre portas para uma nova revolução tecnológica?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alberto Efendy Maldonado – A necessidade de se proteger dos ataques do Complexo Militar Industrial; de continuamente ter que reconfigurar, reconstruir, fragmentar, criptografar; e o caráter subversivo da ordem informativa transnacional e política mostra que a desestabilização dos logos neoliberais, neoconservadores e as propostas de novos fluxos e processos expressam formas renovadoras do agir informativo, o livre fluxo aberto atenta contra a continuidade da concentração dos poderes midiáticos em poucas famílias e empresas no mundo. As técnicas, engenharias e as comunicações se reconstituem quando processos desse tipo ganham força e penetração social.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">IHU On-Line – O que há de mais comprometedor no WikiLeaks?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alberto Efendy Maldonado – A possibilidade de quebrar a hegemonia informativa e a concretização de formas de democracia comunicativa. O agir colaborativo orientado para questionar os poderes autoritários contemporâneos. O questionamento do jornalismo subserviente e estandardizado. Saber que em todos os lugares do mundo têm pessoas, em especial jovens, que doam suas vidas pela verdade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">IHU On-Line – O que os ataques contra o WikiLeaks pelos governos demonstram sobre a relação da política e o ciberespaço?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alberto Efendy Maldonado – A miséria espiritual das elites que controlam os sistemas políticos, informativos, militares e financeiros, em especial o degradado império estadunidense. No mundo digital, as condições de construção de hegemonias, constituição de poderes e vitalidade política são distintas, significativamente favorecem a democratização das comunicações. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">IHU On-Line – O que as revelações do WikiLeaks podem significar para a América Latina?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alberto Efendy Maldonado – Um elemento a favor para continuar trabalhando por uma postura unitária independente do poder imperial estadunidense. Esses documentos têm que ser disponibilizados para que as mentes sensíveis, éticas e comprometidas evitem ilusionismos com o modelo político estadunidense.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">IHU On-Line – Podemos dizer que essa é a primeira guerra na web?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alberto Efendy Maldonado – Não tivemos uma magnífica batalha quando a internet foi constituída contra a lógica das redes militares e empresariais de controle, vigilância e enriquecimento de poucos. A grande rede colaborativa abriu trilhas para os movimentos de software livre, estes e outros movimentos contribuíram para os Fóruns Sociais. A educação, a ciência, a comunicação intercultural, a existência humana contam com um recurso de extremo valor para as revoluções culturais necessárias.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">IHU On-Line – O WikiLeaks cunhou mesmo um novo tipo de jornalismo? </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Alberto Efendy Maldonado – Os "novos jornalismos" podem ter no WikiLeaks um referente de cultura Colaborativa/Tornar público que o bom jornalismo cultuou. Trabalhar com fontes múltiplas, proteger as fontes, contrastar, validar, oferecer com um bem simbólico público é um conjunto presente na história jornalística relevante. O que o WikiLeaks traz é uma renovação da valentia revolucionária das gerações que brindaram belas renovações para a humanidade. </div><div style="text-align: justify;">Permite-nos refletir sobre a urgência da reconstituição dos formatos e modelos jornalísticos, a necessidade de diálogo com a as lógicas informacionais, superando o ilusionismo mercantil de culto aos suportes técnicos em detrimento da fortaleza tecnológica comunicacional.</div><div style="text-align: justify;">Notas:</div><div style="text-align: justify;">[1] Norbert Wiener foi um matemático estadunidense que ficou conhecido como o fundador da cibernética. Nasceu no ano de 1894 e morreu aos 69 anos, em Estocolmo. Durante muitos anos, ele trabalhou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde estudou a nova física probabilística e concentrou-se no estudo estatístico do movimento das partículas elementares em um líquido. Quando começou a Segunda Guerra Mundial, ele ofereceu seus serviços ao governo norte-americano e passou a trabalhar com problemas matemáticos referentes a uma arma apontada para um alvo móvel. O desenvolvimento dos sistemas de direção de uma mira automática, seus estudos de física probabilística e seu grande interesse por assuntos que iam desde a filosofia à neurologia apareceram juntos em 1948, quando ele publicou o livro intitulado Cibernética. Wiener morreu em 1964, antes que a revolução do microcomputador começasse. Mesmo assim, ele previu e escreveu sobre muitos dos problemas que iriam surgir nesta nova tecnologia.</div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-49208226221824224992011-02-13T03:52:00.000-08:002011-02-13T03:52:00.010-08:00QUE INÍCIO DE ANO... 2011 VAI SER UM DAQUELES...!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">PROTESTOS NO CENTRO DO CAIRO - EGITO</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8iepq9WhcWP4E5sJuNAPAnL5F7uAqfvimbRouNPCqw88bzAyvFQR0ocYYGC5oWtUHUQfgp6FFXU357sUnJ9-xtYhO-ol95FexU-2ay68kugqVSyOxVBDIznUDEVcogD4f5DFXKXDxDu6m/s1600/Imagem1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" h5="true" height="253" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8iepq9WhcWP4E5sJuNAPAnL5F7uAqfvimbRouNPCqw88bzAyvFQR0ocYYGC5oWtUHUQfgp6FFXU357sUnJ9-xtYhO-ol95FexU-2ay68kugqVSyOxVBDIznUDEVcogD4f5DFXKXDxDu6m/s400/Imagem1.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Olá Galera, estou retornando, com muita preguiça meus trabalhos em 2011...</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Na semana que passou, parece que tive em uma academia todos os dias.... Calor excessivo, aulas, falação....</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Para mim, começou oficialmente 2011...</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Aliás já tinha começado desde 1º de Janeiro, afinal, os fatos estão aí, para merecer de nós uma fala...</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Começa com a posse de nossa 1ª Presidenta - Presidente... que seja como for, pois independente das discussões entre Sarney - 30 anos nos bastidores do poder, e a vice-presidente do Senado, Marta Suplicy..</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">A posse, deu-nos a imagem de uma gerentona, aquela que gosta de trabalhar nos bastidores do poder... herdou os méritos e as falhas de seu patrono, e agora corre contra o tempo para nunca dizer que ..."nos governos anteriores..." "...herdei um país problemático..." nada disso será dito...</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Mas ao que parece, tudo será como nos últimos 8 anos, e que se for para o bem daqueles mais excluídos, como fez com majestade o Lula, que continue, afinal "acabar com a miséria", é a sua bandeira....</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Depois da posse, começaram as avalanches de enchentes por todo o país, aquí em minha "capital secreta", ela veio em dezembro, o pelo que dizem por aí, foi a maior dos últimos 80 anos...</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Mas, </span><span style="color: black; font-size: large;">Teresópoles, Petrópoles, no Rio de Janeiro, e em </span><span style="color: black; font-size: large;"> São Paulo, em suas constantes enchentes e tempestades - depois contarei uma dessas que passei no Estado de São Paulo, as áreas onde está o fenômeno da seca, como na Amazônia, no Sul do Brasil o frio excessivo no Hemisfério Norte...</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">O Clima nos pregou uma peça, e nos mostrou que... do jeito que os homens continuam...com suas ingerência na natureza... a tendência é piorar....</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Então vamos aos fatos internacionais... </span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">O Continente Africano está em "fogo", ou em estado de tensão que nem se imagina tanto...</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Os países do Norte do continente estão passando por revoluções populares que já fizeram cair, ditadores - como a recente revolução no mundo árabe, que desabrochou com a vitória das massas da Tunísia, derrubando a ditadura de Ben Ali, segue, com furor, agora contra o ditador egípcio Hosni Mubarak, grande amigo do imperialismo americano, encastelado no poder há três décadas - ele caiu há dois dias.. não aguentou a força dos protestos do povo... </span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: large;">Se isso virasse moda no Brasil....</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">É, parece que se inaugura no mundo uma Nova Ordem, que ninguém ainda entende como será, mas que parece se estender para o mundo árabe por inteiro...</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">As consequências disso ninguém ainda saberá como será....</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Com essas notícias acima postada, e as imagens que selecionei, voce, caro leitor fiel, aos meus posts, poderá ter uma noção de que, já estamos no segundo mês do ano de 2011...</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;">Em breve, publicarei mais comentário inéditos, para acompanhar a evolução dos fatos que são realidade no mundo de hoje...</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: large;">Abração...</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: large;">Que Venha 2011 com suas REVOLUÇÕES POR MINUTO....</span></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: large;"></span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black;"><br />
<span style="font-size: large;"></span></span></div><div style="text-align: center;"><br />
</div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-77498911405225784332010-12-29T03:14:00.000-08:002010-12-29T03:14:15.867-08:00ENTREVISTA BOMBA COM FRANKLIN MARTINS !<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_6886BCkrAL0/TRsX9Any2uI/AAAAAAAAFh0/onA17CeDMLc/s1600/franklin1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="205" n4="true" src="http://3.bp.blogspot.com/_6886BCkrAL0/TRsX9Any2uI/AAAAAAAAFh0/onA17CeDMLc/s320/franklin1.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: center;"><strong>FECHO ESTE ANO DE 2010 COM UMA ENTREVISTA QUE DEU O QUE FALAR !</strong></div><div style="text-align: center;"><strong>CASO QUEIRA LER MAIS, ENTRE NOS SITES MOSTRADOS NO DECORRER DESTA E COLOQUE SUAS OPINIÕES.</strong> </div><div style="text-align: center;">No entreato de Natal e Ano Novo, com a turma ainda se recuperando da ressaca natalina, o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, concedeu uma daquelas entrevistas que a imprensa costuma dizer “bombásticas”. Pena que a audiência deva ter sido pequena. Kennedy Alencar, em seu “É Notícia”, da Rede TV, deu ao ministro uma chance de falar o que o resto das televisões lhe negou nos últimos quatro anos, desde que assumiu a pasta.</div><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;">Devido ao amadorismo da Rede TV – que, no meio da manhã de segunda-feira, 27 de dezembro, está com seu site fora do ar –, o blogueiro se vê obrigado a escrever “de cabeça” sobre o que assistiu. Mas, assim que possível, o vídeo da entrevista será divulgado, de forma que seja possível ao leitor conferir a quantas anda a memória deste que escreve.</div><div style="text-align: center;">Em verdade, não será tão difícil porque a parte “bombástica” da entrevista não foi tão longa assim. Versou sobre a suposição de Globo, Folha, Estadão, Veja e companhia sobre existência de intenções governamentais de “censurar a imprensa” e sobre a relação do governo Lula com ela.</div><div style="text-align: center;">Note-se que o ministro foi extremamente hábil, pois reconheceu méritos no governo FHC e em seu titular pela estabilização da moeda sem deixar de dizer exatamente em que ponto ele se perdeu – na falta de um espírito desenvolvimentista e social e na adoção dos cânones neoliberais em geral, do que resultou a privataria. E apesar de dizer que o mensalão não passou de caixa-dois, fez a necessária crítica ao PT de que “ver uma devassa saindo de um prostíbulo não choca, mas ver uma freirinha saindo, é chocante”.</div><div style="text-align: center;">Na parte sobre regulação da mídia, Martins deixou muito claro que o tipo de regulação que se quer fazer é exatamente o mesmo que existe em qualquer grande democracia. Explicou a sinuca de bico em que a parcela da mídia supracitada se encontra por ter que combater a regulamentação e ao mesmo tempo almejá-la para que seja protegida das “teles”, ou seja, das multinacionais de telecomunicações que ameaçam esmagar o PIG com um poderio econômico muito acima do que detém a radiodifusão nacional.</div><div style="text-align: center;">Acima de tudo, nessa questão, o ministro da Comunicação Social deu um recadinho a jornais que acusou de terem servido à ditadura militar: “Não venham nos dar aulas de democracia”.</div><div style="text-align: center;">Mas a coisa pegou fogo mesmo quando a entrevista enveredou pelas relações do governo com a mídia corporativa. Martins acusou, nominalmente, Folha, Estadão, Globo e outros de fazerem uma jogada com a oposição tucano-pefelê: “Um levanta e o outro corta”, pontuou o ministro com todas as letras.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">E não ficou por aí…</div><div style="text-align: center;">Ao exemplificar o partidarismo midiático, Martins abordou, primeiro, a questão da “bolinha de papel”, lembrando que a Globo, com o peso de sua “credibilidade” – palavra que proferiu em tom irônico –, veiculou uma reportagem de sete longos minutos bancando a versão de José Serra de que teria sido atingido por um segundo objeto, sustentando-a com um laudo fajuto que, na madrugada que se seguiu àquela edição do Jornal Nacional, foi “desmontado pela blogosfera”.</div><div style="text-align: center;">Como se não bastasse, citou, nominalmente, a Folha de São Paulo e a ficha falsa de Dilma, ponderando com o entrevistador o absurdo de um jornal como aquele publicar uma “falsificação contra um candidato” amparando-se na justificativa mambembe de que não podia confirmar ou negar sua veracidade, concluindo que, dessa maneira, o jornal deixa ver que publica qualquer coisa que lhe chegue às mãos contra adversários políticos.</div><div style="text-align: center;">Esta é a síntese da mais dura crítica ao PIG que alguém do governo fez publicamente em oito anos de mandato do atual presidente. Resta lamentar que assuntos dessa relevância e opiniões tão sonegadas ao público pela grande mídia durante oito anos tenham vindo à tona em um programa que avançou pela madrugada de domingo para segunda em uma época de festas em que ninguém assiste a esse tipo de programa.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">FELIZ NATAL E UM ANO DE 2011 CHEIO DE PAZ E LUZ ! </div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-58517342832307200252010-08-15T08:21:00.000-07:002010-08-15T08:21:53.968-07:00''O latifúndio brasileiro tem origem obscura, muito parecida com a legalização de um roubo''. Entrevista especial com Martinho Lenz<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl0PighkN9xv5BqJt0-fAFxpJoBwJxOybnKBQB9LW-yykctzKMwyQnyXl-FR7EMXvuMa0MNss2oeCGunth9b63zGKSwfluz-RxityzAVtcqm9zExqjRVOuptUcc-IZFprxzB8PMmxAM4Np/s1600/EST+FUNDI%C3%81RIA.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="342" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl0PighkN9xv5BqJt0-fAFxpJoBwJxOybnKBQB9LW-yykctzKMwyQnyXl-FR7EMXvuMa0MNss2oeCGunth9b63zGKSwfluz-RxityzAVtcqm9zExqjRVOuptUcc-IZFprxzB8PMmxAM4Np/s400/EST+FUNDI%C3%81RIA.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: center;">“Com que direito alguém chega a uma terra e se declara seu dono? Para os povos originários, é uma insanidade e um absurdo a pretensão dos ‘brancos’ que invadem terras coletivas para se apropriarem delas como se fosse coisa ‘abandonada’, vazia, objeto a ser possuído. Terra é dom de Deus e direito de todos”. O questionamento e a reflexão são de Martinho Lenz, jesuíta e sociólogo, e fazem parte da entrevista exclusiva que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line. </div><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">De acordo com ele, originariamente, o sentido da propriedade individual “era o de possibilitar a todos o acesso a um mínimo de bens necessários para a vida, um espaço de autonomia e de liberdade – e a garantia que esses bens necessários não fossem usurpados por alguém mais forte”. Mas a lógica capitalista subverteu essa concepção, e possuir terras se tornou sinônimo de poder, além de fonte de miséria e fome. Precisamos lembrar, diz Lenz, que a terra é “um meio para gerar outros bens, necessários para a vida, e não um fim em si”.</div><div style="text-align: center;">Do ponto de vista cristão, acumular bens ociosos é ilegítimo e imoral. “As terras ociosas estão dentro desse conceito”, explica. Por isso, limitar o tamanho da terra por proprietário “aumentaria a disponibilidade de terras para fins de reforma agrária”. Entretanto, destaca, o conceito de Reforma Agrária é muito mais amplo, e implica não apenas em disponibilizar terras, mas criar um projeto agrário e agrícola, que considerasse a agricultura familiar, além de uma política de segurança alimentar e produção de insumos, lembrando-se da sustentabilidade social e ambiental. Nesse sentido, é fundamental que aconteça o Plebiscito do Limite da Propriedade da Terra, nos dias 1 a 7 de setembro, organizado pelos movimentos sociais e pastorais sociais. </div><div style="text-align: center;">Graduado em Filosofia e Teologia, é mestre em Sociologia da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), e doutor em Sociologia pela Universidade Gregoriana, em Roma, com a tese Movimentos sociais na era da globalização. É especialista em desenvolvimento das comunidades e cooperativismo pelo S. Francis Xavier College, no Canadá. É co-autor de Realidade Brasileira - Estudo de Problemas Brasileiros (Sulina) e Temas de Doutrina Social da Igreja (Porto Alegre: Paulinas, 2004-2006). Atualmente é secretário executivo da Conferência dos Provinciais Jesuítas da América Latina (CPAL), com sede no Rio de Janeiro. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Confira a entrevista.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><strong>IHU On-Line – Qual é o sentido de um Plebiscito sobre o Limite da Propriedade da Terra?</strong></div><div style="text-align: center;">Martinho Lenz – As experiências de Reforma Agrária mais exitosas realizadas no mundo e na América Latina tiveram como um dos seus eixos básicos o acesso à propriedade da terra para famílias sem terra com vocação agrícola. Dada a grande concentração da propriedade da terra no Brasil – das terras férteis e bem localizadas –, limitar o tamanho da terra de cada proprietário aumentaria a disponibilidade de terras para fins de reforma agrária. Importa ressaltar que uma Reforma Agrária em moldes modernos implica em muito mais do que disponibilizar terras. Implica em um projeto agrário e agrícola, voltado ao fortalecimento da agricultura familiar, com uma política nacional (e internacional) de segurança alimentar e de produção de insumos, além de uma política de sustentabilidade social e ambiental. O limite da propriedade contribuiria para com um uso mais racional e adequado da terra por parte dos médios e grandes proprietários rurais. Concordo com Sérgio Pereira Leite em entrevista ao IHU-On-Line de que “a Reforma Agrária hoje ainda é necessária”. E o plebiscito popular proposto para o início de setembro constitui uma iniciativa muito válida no sentido da mobilização.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><strong>IHU On-Line – Em que sentido a limitação da propriedade da terra irá diminuir a miséria e a fome e promover a justiça social?</strong></div><div style="text-align: center;">Martinho Lenz – O Brasil apresenta a 3ª pior desigualdade de renda no mundo, de acordo com dados recentes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Qualquer iniciativa séria para mudar esta posição que nos envergonha merece todo apoio. Miséria e fome têm causas políticas e estruturais, entre elas a falta de acesso a um trabalho estável e produtivo. O aumento de terra disponível, junto com outras condições necessárias, seria possível gerar trabalho e renda para uma massa populacional “sobrante”, que vem sendo empurrada para as cidades, já superpovoadas, e jogadas no subemprego. Estudos feitos por autores como Ricardo Abramovay mostram o custo mais reduzido da oportunidade de trabalho dos assentados de reforma agrária em comparação com o custo da criação de oportunidades de trabalho em outros setores. No espaço rural não há apenas empregos na área específica da produção agrícola. Basta pensar em setores novos como o agriturismo e a conservação ambiental.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><strong>IHU On-Line – Como é possível pensarmos a propriedade privada a partir de uma ética cristã? Quais são os limites e as possibilidades dessa concepção?</strong></div><div style="text-align: center;">Martinho Lenz – Segundo a ética cristã, a toda forma de propriedade corresponde, inerentemente, uma função social. É como uma hipoteca social. Não há direitos absolutos de propriedade. Quanto à terra, é um bem público. A terra está aí, há milhões de anos. Com que direito alguém chega a uma terra e se declara seu dono? Para os povos originários, é uma insanidade e um absurdo a pretensão dos “brancos” que invadem terras coletivas (dos povos indígenas) para se apropriarem delas como se fosse coisa “abandonada”, vazia, objeto a ser possuído. Terra é dom de Deus e direito de todos. Na verdade, as terras do Brasil passaram a ser bens da coroa que dava sesmarias de terras para o usufruto de donatários. Terras que não fossem cultivadas pelos donatários dentro de certo prazo, retornavam para a coroa. Eram as chamadas “terras devolutas…” Tudo mudou com a Lei de Terras, de 1850, que (traduzindo para a lei a nova mentalidade capitalista) estabeleceu que a única forma legítima de adquirir uma terra era através de um ato de compra. Os ocupantes de terras encontraram formas de transformarem as posses em propriedades, imensas propriedades. O latifúndio brasileiro tem origem obscura, muito parecida com a legalização de um roubo.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><strong>Terra como direito absoluto, um absurdo</strong></div><div style="text-align: center;">Tudo isso pouco tem a ver com ética cristã. O sentido original da propriedade individual era o de possibilitar a todos o acesso a um mínimo de bens necessários para a vida, um espaço de autonomia e de liberdade – e a garantia que esses bens necessários não fossem usurpados por alguém mais forte. Em nossa sociedade, a propriedade tornou-se o “direito” de você se apropriar do máximo de bens, com exclusão dos outros. É um direito “absoluto”. Outro absurdo.</div><div style="text-align: center;">Numa visão cristã, como explicaram os bispos do Brasil no Documento “Igreja e problemas de terra”, a terra a é um dom de Deus destinado a todos, e não a uns poucos. A lei deve facilitar seu acesso para o maior número possível de pessoas ou de famílias, e coibir o acúmulo de terras para fins especulativos ou como forma de ostentação de poder, ou ainda como mera reserva de valor. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><strong>IHU On-Line – Quais são os principais preceitos da propriedade da terra na concepção cristã?</strong></div><div style="text-align: center;">Martinho Lenz – São poucos, mas de grande sabedoria: a terra é dom de Deus e direito de todos. É a aplicação do princípio básico da destinação universal dos bens. A terra é um meio para gerar outros bens, necessários para a vida, não um fim si (não se pode “possuir por possuir”). Sobre toda propriedade pesa uma hipoteca social. Ninguém tem o direito de acumular terras que faltam para garantir a vida e bem estar dos que trabalham na terra. A terra deve ter cuidada e preservada da degradação, para o bem das gerações presentes e futuras. Terras mal adquiridas e mal usadas devem retornar ao uso comum. Devem ser desapropriadas por interesse público. Para um aprofundamento da doutrina cristã sobre a propriedade e sobre a reforma agrária, pode-se consultar a coleção de Temas da Doutrina Social da Igreja, em três cadernos, que a CNBB lançou em 2004-2006, sobre 24 assuntos importantes da ética social, no contexto brasileiro e latino-americano.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><strong>IHU On-Line – A economia foi feita para a pessoa humana, e não a pessoa humana para a economia. Como essa premissa nos ajuda a entender o conceito de propriedade e sua função social a partir do ponto de vista cristão?</strong></div><div style="text-align: center;">Martinho Lenz – O direito à vida e a uma vida digna é anterior a qualquer forma de propriedade. Baseada nesse princípio, a ética cristã afirma que há um direito de acesso aos bens necessários a uma vida digna; e que, em caso de necessidade, todos os bens são comuns. Cessam os direitos privados e entra o interesse público, social, coletivo. Entra em função a solidariedade e a cooperação. Mas esse interesse público também se expressa nas formas legítimas de propriedade, que são resultados do trabalho remunerado e fruto do esforço de cada um. A possibilidade de acesso aos bens através de trabalho e do espírito inventivo é um estímulo à laboriosidade, ao esforço para produzir com eficiência. A geração de bens, tanto de consumo como de produção, é benéfica para todos. Uma sadia competição (emulação), e não a competição desenfreada, destruidora de pessoas, relações e recursos, é boa e promove o desenvolvimento. Uma sadia competição também pode contribuir para o menor desperdício e o maior cuidado com o meio ambiente.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><strong>IHU On-Line – Em que aspectos a economia global contribui para o desvio do real sentido da propriedade?</strong></div><div style="text-align: center;">Martinho Lenz – Uma distorção deletéria, que se difundiu na economia globalizada, foi a prevalência do capital financeiro sobre o capital produtivo. Criou-se um sistema paralelo, autônomo, de especulação financeira, sem os devidos controles. As bolhas de riquezas fictícias geraram ganhos virtuais, que se desfizeram com a mesma rapidez com que foram geradas, arrastando consigo famílias e instituições. Mais uma vez, isso nada tem a ver com o conceito cristão de propriedade de bens, adquiridos através de um trabalho honesto e justamente remunerado.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><strong>IHU On-Line – Se a Terra foi dada a todos os homens, como compreender o paradoxo da a sua apropriação a partir da propriedade privada? </strong></div><div style="text-align: center;">Martinho Lenz – “A terra foi dada a todos e não somente aos ricos” (São Basílio ). No sentido mais profundo, toda propriedade é um direito de dispor e de gerir determinados bens. Quanto ao uso, como já disse Santo Tomás de Aquino , “o homem não deve ter as coisas como próprias mas como comuns, de modo que facilmente dê participação delas aos outros quando necessitam delas”. Possuir algo não dá direito a abusar, a reter (especular) e acumular. A partir de uma visão cristã da propriedade, toda acumulação de bens ociosos é ilegítima e imoral. As terras ociosas estão dentro deste conceito.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><strong>IHU On-Line – Em que circunstâncias o Estado pode desapropriar terras ociosas ou mal utilizadas?</strong></div><div style="text-align: center;">Martinho Lenz – Embora não tenhamos uma lei de Reforma Agrária no Brasil (há leis esparsas, parciais, programas de assentamentos rurais) o Estado brasileiro dispõe de alguns instrumentos que lhe permitem intervir na propriedade rural (na Constituinte de 1988, a bancada ruralista não conseguiu bloquear uma proposta global de reforma agrária e agrícola, mas não conseguiu que se aprovassem alguns dispositivos que permitem desapropriações de terras). O artigo 184 da Constituição de 1988 permite à União Federal desapropriar por interesse social para fins de reforma agrária o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante justa indenização. Estabelece quatro condições a serem cumpridas em função do interesse social: aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, com reserva florestal legal; observância da legislação trabalhista e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Lei de 1991 (nº 8.257) determina a expropriação imediata e destinação à Reforma Agrária de glebas nas quais se localizem culturas ilegais de plantas psicotrópicas, sem qualquer indenização ao proprietário.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><strong>IHU On-Line – Qual é a função do Estado em relação à propriedade?</strong></div><div style="text-align: center;">Martinho Lenz – Função do Estado é regular o acesso à terra e seu devido uso, dentro do ordenamento jurídico democrático e no interesse do bem comum. É facilitar o acesso à propriedade, à “terra de trabalho”, para todos os que queiram e saibam trabalhá-la, coibindo as diversas formas de apropriação indébita de terras, como é a grilagem e a especulação (a transformação de terra em instrumento de lucro, “terra de negócio”). Recordemos que esses conceitos foram usados pelos bispos do Brasil no documento votado na Assembleia Geral de 1980, “Igreja e Problemas de Terra”.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Em vista do bem comum, caberia ao Estado brasileiro a função maior de ordenar a ocupação da terra, promovendo a utilização produtiva de terras ociosas ou abandonadas, coibindo o desmatamento irracional e predatório, sobretudo na Amazônia. E fazendo cumprir as leis existentes, criadas para regulamentar os dispositivos da Constituição sobre a terra rural. Por exemplo, a de Política Agrícola, de 1991, e a Lei Agrária, de 1993, que fixam os critérios de uma terra produtiva; ou ainda a lei que regula o Imposto Territorial Rural (ITR, lei nº 8.847, de 1994), que estabelece a taxação pelo critério da progressividade: quanto menos produtiva uma terra, mais imposto deveria pagar. Isto em teoria… Infelizmente, essa lei tem pouca aplicação prática devido ao uso de subterfúgios e da influência política. Seria um instrumento muito eficaz para promover redistribuição da terra, penalizando os latifúndios improdutivos e forçando-os a entregar suas terras a quem as possa trabalhar. </div><div style="text-align: center;">Daí a conclusão: só haverá mudança efetiva no acesso à terra mediante pressão popular, através de campanhas como essa da limitação do tamanho da propriedade rural e da ação organizada dos movimentos populares. Como diz o documento 69 da CNBB, Exigências Evangélicas e Éticas de Superação da Miséria e da Fome, de 2002: “Só prevalecem na agenda da política social os direitos respaldados pela consciência da cidadania e pela participação política de entidades e movimentos sociais organizados” (n. 52). </div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-56885141867791618002010-08-07T05:37:00.000-07:002010-08-07T05:37:59.221-07:00Alter do chão: um aquífero de 84 quadrilhões de litros de água. Entrevista especial com André Montenegro Duarte<div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg03jieRifIjbjgC2ure6PFdqcSskBAz9Ni7PL17-jZuEidrniJ-8MSdH6US7BeXx5j5nfUflxAKTCLVnhgL4CwvHxmDH7QZ6OFFCEWBTBKzFsrjfMr5Q2dOdcMZtpKjFNDYukPUU3_LfEL/s1600/aquifero_alter_chao_5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" bx="true" height="350" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg03jieRifIjbjgC2ure6PFdqcSskBAz9Ni7PL17-jZuEidrniJ-8MSdH6US7BeXx5j5nfUflxAKTCLVnhgL4CwvHxmDH7QZ6OFFCEWBTBKzFsrjfMr5Q2dOdcMZtpKjFNDYukPUU3_LfEL/s400/aquifero_alter_chao_5.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: center;"><strong>OBSERVE NO MAPA ACIMA, OS GRANDES AQUÍFEROS, ONDE O BRASIL ESTÁ ENVOLVIDO...</strong></div><div style="text-align: center;"><strong>SENDO QE UM DELES, O GUARANÍ, NÃO É EXCLUSIVIDADE BRASILEIRA, JÁS O ALTER DO CHÃO, ESSE SIM, É EXCLUSIVIDADE BRASILEIRA...</strong></div><div style="text-align: center;"><strong>LEIA ENTREVISTA SOBRE ISSO...</strong></div><div style="text-align: center;">Há cerca de 50 anos se tem conhecimento da existência do Aquífero Alter do chão. No entanto, a partir da sua tese, o professor André Montenegro Duarte descobriu que este reservatório tem, aproximadamente, 84 quadrilhões de litros de água, duas vezes o volume do Aquífero Guarani, no sul do Brasil. Na entrevista que concedeu, por telefone, à IHU On-Line, Duarte aponta as diferenças entre esses dois reservatórios: “O Guarani está localizado numa região mais cristalina, uma área mais rochosa, por isso a água fica armazenada mais nas fraturas, embora lá também existam depósitos de água nos pacotes sedimentares. Já o Alter do Chão é todo sedimentar, ou seja, é uma área muito grande, onde a porosidade é muito maior e, consequentemente, o volume de água também”, explicou.</div><br />
<div style="text-align: center;">André também falou do conceito de valor do “não uso” que, segundo ele, deve ser aplicado na gestão da água do aquífero localizado sob os estados do Amazonas, Pará e Amapá. “Nós estamos fazendo alguns estudos que são uma tentativa de gestão e utilização dessa água de forma estacional e inteligente dando valor para a ideia de ‘não uso’”, analisou.</div><div style="text-align: center;">André Montenegro Duarte é graduado em Engenharia Civil Universidade Federal do Pará – UFPA. Na Universidad Politecnica de Valencia realizou o mestrado na área de Engenharia e, na UFPA, onde atualmente é professor, fez o doutorado em Geologia e Geoquímica, intitulado O Valor Econômico e Estratégico das Águas da Amazônia.</div><br />
<div style="text-align: center;">Confira a entrevista.</div><br />
<div style="text-align: center;">IHU On-Line – Como se caracteriza o Aquífero Alter do chão?</div><div style="text-align: justify;">André Montenegro Duarte – O Aquífero Alter do Chão é uma formação geológica no interior do solo que armazena a água nos poros ou nos vazios. São espaços nos quais, durante milhões de anos, foi armazenada água. Tem grande extensão territorial e abrange os estados do Pará, Amapá e do Amazonas.</div><br />
<div style="text-align: center;">IHU On-Line – Quais as diferenças entre este e o Aquífero Guarani?</div><div style="text-align: justify;">André Montenegro Duarte – São bem diferentes. A principal diferença é o volume. O Alter do chão tem uma capacidade de armazenamento de água muito maior. O Guarani está localizado numa região mais cristalina, uma área mais rochosa, por isso a água fica armazenada mais nas fraturas, embora lá também existam depósitos de água nos pacotes sedimentares. Já o Alter do Chão é todo sedimentar, ou seja, é uma área muito grande, onde a porosidade é muito maior e, consequentemente, o volume de água também.</div><br />
<div style="text-align: center;">IHU On-Line – O Aquífero Alter do chão é conhecido há pelo menos 50 anos, mas não se sabiam sua extensão e seu volume de água, por exemplo. Que dados permitiram o senhor chegar a esses valores?</div><div style="text-align: justify;">André Montenegro Duarte – Ele foi identificado na década de 1950 pelos poços de pesquisa de petróleo da Petrobras. Entretanto, não havia interesse econômico maior na exploração ou na codificação dessa água. A quantidade foi definida, ainda de maneira preliminar, pois existem alguns estudos complementares, de uns cinco anos para cá com os estudos que têm sido feitos aqui na universidade. Utilizamos dados cedidos pela Petrobrás e de outras pesquisas realizadas ao longo dos anos na região. A cidade de Manaus, por exemplo, é abastecida por este aquífero, assim como Santarém, outro município grande no oeste do Pará. Existem alguns poços perfurados operando e isso permite que tenhamos essas informações.</div><br />
<div style="text-align: center;">IHU On-Line – As obras que estão sendo projetadas para a Amazônia podem ameaçar o Aquífero Alter do chão?</div><div style="text-align: justify;">André Montenegro Duarte – A água que está armazenada no Alter do Chão, com aproximadamente 84 quadrilhões de litros, duas vezes o volume do Aquífero Guarani, não será alterada por obras como uma barragem, hidrovia, pois está no subsolo. O que acontece em algumas obras com grandes áreas de desmatamento, é que provocam uma mudança no ciclo da água, que é o responsável pela recarga e manutenção do Aquífero ao longo desses milhões de anos. Em algum momento essa água será explorada, devido ao fato de ela tem um valor econômico muito grande, mas se não houver recarga, ficará insustentável. Então essas intervenções humanas causam problema não ao volume de água que está lá dentro, mas trazem a possibilidade de alterar o ciclo da água na região, prejudicando a manutenção do Aquífero. </div><div style="text-align: justify;">Como já citei, Manaus, Santarém e outras pequenas localidades já são abastecidas com esta água; mas é um volume muito pequeno em relação ao potencial do Aquífero. Sabemos, porém, que a água potável é um bem que está se tornando cada vez mais raro e escasso, por isso está sendo agregado grande valor econômico ao Aquífero, que já desperta o interesse de empresas de grande porte de todo o mundo. Elas estão inclusive adquirindo áreas na região para fazerem a exploração no futuro. Potencialmente tem um mercado muito grande.</div><br />
<div style="text-align: center;">IHU On-Line – Mas há uma forma de preservar esse ciclo da água mesmo com a exploração?</div><div style="text-align: justify;">André Montenegro Duarte – Nós estamos fazendo alguns estudos que são uma tentativa de gestão e utilização dessa água de forma estacional e inteligente dando valor para a ideia de “não uso”. Ou seja, uma parte seria utilizada e outra preservada. E a essa segunda parte também se agrega valor. Existem posturas teóricas que precisamos implementar para que consigamos implementar estas questões de forma mais pragmática. </div><br />
<div style="text-align: center;">IHU On-Line – O senhor pode nos explicar o que é o conceito de valor do “não uso”?</div><div style="text-align: justify;">André Montenegro Duarte – Vou te dar um exemplo real: a floresta tem valor quando um madeireiro corta a madeira e a vende. Ela tem também um grande valor quando essa madeira permanece lá, ou seja, em pé. A floresta preservada pode ter um valor de “não uso” muito maior. Um desses valores está ligado ao sequestro de não uso do CO2, hoje já se consegue auferir receita ou valor econômico para a preservação daquele espaço através desse processo. Hoje, existem mercado de resgate de CO2 que possibilita o “não uso”. </div><div style="text-align: justify;">A água também pode ter um valor de “não uso” agregado. O mais importante, nesse caso, é, principalmente, preservar o ciclo da água do que o reservatório em si. Para manter o Alter do Chão é preciso preservar o ciclo hidrológico e, para isso, é preciso ter um elemento compensatório.</div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-26240879833767100422010-07-25T04:28:00.000-07:002010-07-28T05:04:47.706-07:00Imitar para inovar. Entrevista especial com Glauco Arbix<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRGTiPi_rv_44ev_RW3HufTT5KODEi6ZPD0YeedqsA-O2Yu-ZmzYJP_j5muQ64eIRB95Ihdt-vkv_l5_pdaOvULBjkY7aoGStyNolnKI-5WvR_RTJG1wuS7SNp5hktPLZMRrblI1gZwHdU/s1600/imagem_wallpaper_ideia.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5497807674840929458" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRGTiPi_rv_44ev_RW3HufTT5KODEi6ZPD0YeedqsA-O2Yu-ZmzYJP_j5muQ64eIRB95Ihdt-vkv_l5_pdaOvULBjkY7aoGStyNolnKI-5WvR_RTJG1wuS7SNp5hktPLZMRrblI1gZwHdU/s400/imagem_wallpaper_ideia.jpg" border="0" /></a> <strong><span style="font-size:130%;">DEPOIS DE LER ESSA ENTREVISTA, UMA LUZ BRILHOU EM MINHA MENTE... ESPERO QUE NA SUA, TAMBÉM EXERÇA ESTA TRANSFORMAÇÃO... COPIAR PARA INOVAR....
</span></strong><div align="center"><strong><span style="font-size:130%;color:#000000;"></span></strong></div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;color:#000000;">TEM MUITA GENTE POR AÍ, QUE CONDENAM AS CÓPIAS DE PRODUTOS QUE JÁ EXISTEM, POR SEREM CÓPIAS EM ALTERAÇÕES...</span></strong></div><div align="center"><strong><span style="font-size:130%;color:#000000;">NESTA EXPLOSIVA REPORTAGEM, O ENTREVISTADO É UM FILÓSOFO E DOUTOR EM SOCIOLOGIA, QUE ACREDITA QUE IMITAR, PARA INOVAR É UMA DAS SOLUÇÕES PARA SE CRIAR PRODUTOS NOVOS, DE NOVAS POSSIBILIDADES...</span></strong></div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">E PENSE NISSO, E LEIA A ENTREVISTA... FANTÁSTICA...</span></strong></div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;color:#000000;">"A </span></strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33671"><strong><span style="font-size:130%;color:#000000;">inovação</span></strong></a><strong><span style="font-size:130%;color:#000000;"> é chave em todo o mundo. É uma peça fundamental para que as empresas cresçam rapidamente. Pesquisas indicam que as empresas que inovam pagam melhores salários, dão melhores condições ao funcionário, valorizam mais o tempo de trabalho e a experiência de seus trabalhadores". Essa é uma das principais conclusões do professor </span></strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=15723"><strong><span style="font-size:130%;color:#000000;">Glauco Arbix</span></strong></a><strong><span style="font-size:130%;color:#000000;">.</span></strong> </div>
<div align="center">Em entrevista à IHU On-Line, realizada por telefone, Arbix analisa a relação entre o imitar e o inovar e a noção de propriedade intelectual na era da economia do conhecimento. Para ele, quando se "copia" uma ideia adequando-a a uma nova realidade e necessidade há um processo de inovação. "Não estou falando da cópia vulgar, a cópia significa se basear num processo que já está dado e faz acontecer de tal forma que algo de novo surge", explica.</div>
<div align="center">O filósofo Glauco Arbix é doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo e pós-doutor pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts e pela London School of Economics and Political Science. </div><div align="center">Atualmente, é professor na USP.</div><div align="center">Confira a entrevista.</div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – Porque a ideia do “imitar e inovar” é interessante para ao Brasil?</strong></div><div align="center">Glauco Arbix – A inovação é chave em todo o mundo. É uma peça fundamental para que as empresas cresçam rapidamente. Pesquisas indicam que as<a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=27513"> empresas que inovam</a> pagam melhores salários, dão melhores condições ao funcionário, valorizam mais o tempo de trabalho e a experiência de seus trabalhadores. As empresas inovadoras contratam funcionários com maior tempo de escolaridade e, do ponto de vista da própria economia, elas são as mais dinâmicas, as mais aptas e as que, provavelmente, vão se transformar, ou podem se transformar, em exportadoras. Quando trabalhamos no Brasil com inovação se percebe que, muitas vezes, tanto os empresários, quanto os órgãos públicos ou as Universidades, a palavra em si tem diferentes sentidos. Em todo país é muito forte a tradição que vê a inovação como uma <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=2100&id_edicao=356">atividade de alta tecnologia</a>, que está identificada com as áreas da alta engenharia, com avanços tecnológicos que marcam época, com habilidades que dependem de cientistas e laboratórios. No entanto, o Brasil tem mais de dez milhões de empresas, e a maioria delas não tem laboratório, engenheiros, mestrandos ou doutorandos etc.</div><div align="center">Eu já assisti palestras que falavam que há empresas nos Estados Unidos que investem dois bilhões de dólares por ano em seus laboratórios, departamentos de pesquisa e desenvolvimento. Isso nós não fizemos no Brasil. Qual empresa daqui pode, investir 1 ou 2 bilhões de dólares? São raras as empresas do mundo que fazem isso. Então, a minha preocupação, assim como a de todos os pesquisadores aqui do observatório da inovação da USP, é exatamente mostrar que há<a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=1942&id_edicao=345"> níveis diferenciados de inovação</a>. Temos inovações muito radicais, que é aquela que marca época, como a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=24123">Internet</a>, a Televisão, o Rádio. Mas, ao mesmo tempo, temos inovações tão ou mais revolucionárias que não utilizaram praticamente nada de tecnologia, por exemplo, no começo do século passado um proprietário de uma empresa de automóveis, chamado Henry Ford, desenvolveu um sistema de montagem dos automóveis que revolucionou o mundo da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=13904">indústria</a>, que não foi a mesma depois dele. Veja, ele não inventou a porca, a ruela, a correia, a base em cima da qual as peças eram levadas até os trabalhadores. Ele juntou tudo isso e teve a ideia de aproveitar melhor a capacidade de trabalho de seus funcionários, utilizando uma ideia muito antiga. E foi só isso que ele fez? Não, ele fez isso e aumentou os salários de seus funcionários e, com isso, praticamente triplicou o valor de mercado deles. Assim, a indústria nunca mais foi a mesma, não somente as empresas de automóveis, mas tudo que é industrial passou a utilizar das formas que o próprio Ford inventou.</div><div align="center"></div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line - E como podemos trazer esse exemplo para hoje?</strong></div><div align="center">Glauco Arbix - Um exemplo da era informatizada: uma empresa como a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=34547">Apple</a>, que é uma das empresas mais inovadoras do mundo, fez o Ipod e o NanoPod que foram um sucesso estrondoso, que é objeto de desejo de uma parcela gigantesca da juventude, todo mundo quer um aparelho desses, só que tem um problema: A Apple
Steve Jobs e seu Iphone não foi a primeira, não foi a segunda a fazer esse tipo de produto. Ela entrou bem depois no mercado e não foi a inventora do MP3, nem do aparelho que lê arquivos MP3. Eu acompanhei uma palestra do presidente da Apple, Steve Jobs, uma personalidade muito forte e polêmica, e o que vou repetir eu escutei dele: “Vocês pensam que a Apple inventou esse display do Ipod? Não! Isso foi desenvolvido, em grande parte, pela Secretaria da Energia dos Estados Unidos. Vocês pensam que a Apple inventou a bateria de lítio, que dá uma durabilidade de capacidade de desenvolver as músicas? Isso não é verdade. Quem desenvolveu isso foi o Ministério da Defesa. Então, o que a Apple fez? Ela <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33607">combinou um conhecimento já dado de uma forma inteligente</a>”. Essa última frase é muito marcante, porque ela é bastante elucidativa para o Brasil. </div><div align="center">Enquanto ficamos sonhando com essa ou aquela invenção, deixamos de incentivar milhares de avanços e inovações. Enganam-se aqueles que acham que desenvolver pequenas mudanças não é uma atividade nobre. Vou radicalizar no exemplo: uma <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=1587&id_edicao=319">inovação</a> menor, vamos chamar assim, é aquela que não é de ruptura para o mundo, é quando uma empresa brasileira consegue “tropicalizar” um produto ou uma ideia que já existe fora. Ela não inventou nada, porém adaptou, mostrou, acomodou, fez adequações às realidades brasileiras, arriscou, fez diferente. A empresa está copiando? Praticamente, mas copiar é fácil? Nem um pouco!</div><div align="center">Poucas áreas da economia brasileira trabalham na fronteira do conhecimento. Nós somos um país que ainda tem um longo caminho a percorrer no campo das ciências, da tecnologia, dos sistemas de produção. Agora, se nós acharmos que tudo o que precisamos de inovação só vai ser dirigido e orientado por um grupo seleto e restrito de empresas, estaremos julgando a esmagadora maioria das empresas do país que querem e se dispõem a evoluir. Essa discussão sobre inovação e imitação tem um impacto muito forte para a universidade brasileira, para o conjunto das empresas, associações de empresários e, fundamentalmente, para as políticas públicas.</div>
<div align="center"></div><div align="center"><strong>IHU On-Line – Qual é a contribuição das universidades nesse sentido? </strong></div><div align="center">Glauco Arbix – As universidades brasileiras vêm de uma tradição muito forte na área da pesquisa, e temos pesquisas de qualidade no país. Mas, ao mesmo tempo, podemos e devemos avançar muito mais no que diz respeito ao relacionamento e sintonia com os esforços que o país vem fazendo para se desenvolver. Não tem nada a ver com quebrar a ideia da autonomia. A universidade tem que ser autônoma, o conhecimento tem que se basear na curiosidade, na intuição e disposição do pesquisador. Tudo isso é chave para descobrirmos novos caminhos e gerar novos conhecimentos. Mas isso em absoluto está em contradição com o esforço para trabalhar em conjunto com os agentes econômicos públicos e privados para que eles se capacitem mais e consigam absorver mais o conhecimento para, exatamente, produzir mais e melhor. O grande beneficiário disso será a população. A universidade precisa entrar em sintonia com a economia, sem abandonar a sua pauta de pesquisa e o seu ritmo. </div><div align="center"></div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – A partir dessa ideia de “imitar e inovar”, como o senhor situaria a propriedade intelectual?</strong></div><div align="center">Glauco Arbix – A propriedade intelectual é um regime que permite você preservar, por um determinado período, um certo monopólio de uma ideia brilhante que se teve. A ideia básica daquelas que estão ligadas à propriedade intelectual é a seguinte: eu invisto e, por um período, tenho que me beneficiar e obter vantagens a partir do reconhecimento daquilo que produzi. Quando se discute a propriedade intelectual, o que está em jogo é que a partir de um certo momento quem apresentou um produto ou um processo ou um serviço e conseguiu trazer a luz um bem com características novas para o mercado, economia e para a vida está conferindo uma série de vantagens por um espaço de tempo. Depois disso, o monopólio passa a ser de domínio público. Quando falamos num processo de imitação e inovação, devemos entender que ao imitar, podemos simultaneamente inovar, fazer diferente. Não estou falando da cópia vulgar, a cópia significa se basear num processo que já está dado e faz acontecer de tal forma que algo de novo surge. </div>
<div align="center"></div><div align="center"><strong>IHU On-Line – O senhor acha que a economia do conhecimento pode gerar uma nova divisão do trabalho?</strong></div><div align="center">Glauco Arbix – Aquilo que é chamado de economia do conhecimento pode ter várias interpretações. Tomando uma dela, isso é, a ideia de que estamos caminhando para uma sociedade em que o conhecimento cada vez faz mais parte dos processos de produção e dos serviços, é evidente que vamos ter uma relação completamente diferente no <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_eventos&Itemid=26&task=evento&id=257&id_edicao=325">mundo do trabalho</a> e no lugar em que os países e economias ocupam no conceito das relações. Se não avançarmos da imitação para a inovação, não elevarmos nosso padrão de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=30231">qualidade educacional </a>da população, vamos estar muito mal nesse novo momento. Esse novo momento significa que os países que avançaram mais vão ocupar um lugar completamente distinto dos outros. Com isso, teremos uma nova divisão do trabalho. Estaremos, portanto, mais uma vez jogados para a periferia. Como não é isso que está ocorrendo, os países em desenvolvimento tem se expressado de uma maneira distinta, nós estamos tendo a possibilidade de quebrar essa ideia de periferia que sempre nos marcou e, realmente, abrir uma era nova. Nesse sentido, os trabalhadores mais qualificados vão ter mais possibilidade de ocupar melhor o cenário do mundo da economia do conhecimento. Desse ponto de vista, é possível que tenhamos um reordenamento, interno e externo, dos países, das economias, das pessoas, dos grupos novos sociais que emergem para ocupar um lugar diferente e melhor.</div><div align="center"></div><div align="center">E AÍ, O QUE ACHOU DESTA REPORTAGEM, DESTA ENTERVISTA??? PASSE PARA NÓIS SUA POSIÇÃO...</div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-90292322099786068372010-07-21T03:51:00.000-07:002010-07-21T03:57:07.612-07:00Pelo banimento do amianto em todo Brasil. Entrevista especial com Edson Duarte<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKMGeINBh50rXkj_8ey0Xifz1Mg5uzMFzQoW5ovx-XNuyxHK-jEvy_AxDVHVNIl20lGUhmoXBtw7aUKduqoVZ0l7Xen261E03-chzTcT0xTEgsO8YGknceHHvSoedCQXClLqlauWgtLreB/s1600/amianto.png"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5496311609153430818" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 155px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKMGeINBh50rXkj_8ey0Xifz1Mg5uzMFzQoW5ovx-XNuyxHK-jEvy_AxDVHVNIl20lGUhmoXBtw7aUKduqoVZ0l7Xen261E03-chzTcT0xTEgsO8YGknceHHvSoedCQXClLqlauWgtLreB/s400/amianto.png" border="0" /></a> <span style="color:#000000;"><strong>O </strong></span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=34441"><span style="color:#000000;"><strong>amianto </strong></span></a><span style="color:#000000;"><strong>é uma fibra natural muito utilizada em telhas e caixas d’água. No entanto, o contato, tanto por parte do produtor quanto do consumidor, com esse recurso pode trazer inúmeras e sérias doenças, principalmente respiratórias. O problema é tão grande que o </strong></span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=34390"><span style="color:#000000;"><strong>amianto</strong></span></a><span style="color:#000000;"><strong> é totalmente proibido na Europa, além de Argentina e Chile. O Brasil é um dos principais produtores de materiais com </strong></span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=34162"><span style="color:#000000;"><strong>amianto</strong></span></a><span style="color:#000000;"><strong>, mas está começando a discutir o banimento dele. Nesse sentido, depois de dois anos de estudos, a Câmara dos Deputados, através do Grupo de Trabalho do Amianto, da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, apresentou, recentemente, o </strong></span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33783"><span style="color:#000000;"><strong>relatório do amianto</strong></span></a><span style="color:#000000;"><strong> e propôs o </strong></span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33782"><span style="color:#000000;"><strong>banimento de todas as formas da fibra em todo o território nacional.</strong></span></a>
<div align="center">A IHU On-Line entrevistou, por telefone, o relator do dossiê, o deputado federal Edson Duarte (PV-BA). </div>
<div align="center">Ele falou sobre o conteúdo do documento, explicou os impactos que o banimento pode trazer ao país e analisou a cadeia de produção do amianto e os principais problemas que ele tem causado aos trabalhadores. “É preciso, também, que o governo brasileiro acompanhe todos aqueles que trabalharam ou que tiveram contato com a produção ou produtos feitos a partir desse mineral. Essas pessoas precisam de acompanhamento e tratamento. E o governo deve exigir que isso seja bancado pelas empresas”, disse Duarte.</div>
<div align="center">Confira a entrevista.</div>
<div align="center"></div><div align="center"><strong>IHU On-Line – O que diz o dossiê do amianto?</strong></div><div align="center">Edson Duarte - Esse <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33782">relatório</a> tem mais de 700 páginas e é um estudo profundo sobre a situação do amianto no Brasil. Nós temos diversos projetos tramitando na Câmara dos Deputados e no Senado a respeito do amianto e este relatório é o resultado de um grupo de trabalho que foi formado na Câmara dos Deputados para garantir subsídios em relação ao tema. Esse assunto é extremamente relevante e, no Brasil, foi motivado pelo banimento do amianto em toda a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=32423">Europa</a> e em alguns países da América do Sul. Alguns <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33633">estados</a>, como São Paulo, já proibiram o uso do amianto. Há, portanto, um debate intenso, mas que não tinha subsídios para ir adiante. Desta forma, o grupo de trabalho elaborou este relatório de modo que pudesse garantir conteúdo para a realização do debate em torno das conseqüências do uso do amianto. Creio que, a partir de agora, vamos ter as condições e subsídios necessários para fazer um debate profundo e, com isso, espero que o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=32946">Brasil tenha coragem</a> de tomar a decisão de proibir o amianto de uma vez por todas em todo o país. </div>
<div align="center"></div><div align="center"><strong>IHU On-Line – Há impactos sociais caso a lei seja aprovada?</strong></div><div align="center">Edson Duarte – Há. Isso porque temos, logicamente, empregos ligados à cadeia do amianto, desde a mina até o comércio. Mas não teremos grandes impactos com a proibição do uso desse recurso, porque a partir do momento em que o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31983">amianto seja banido</a>, teremos outras matérias diversas que podem substituí-lo. Não haverá impacto significativo, até porque a cadeia do amianto é hoje uma cadeia bastante restrita. O único local que poderia sofrer um impacto maior é a cidade de Minas Sul, no interior de Goiás, onde está localizada a única mina de amianto do mineral no Brasil. De qualquer forma, independente do banimento, o amianto é um mineral não renovável, então não tem como a cidade de Minas Sul ficar dependendo deste mineral como única fonte de renda, como acontece hoje. O que temos percebido é que em Goiás não há uma preocupação das autoridades em fazer uma transição necessária e inadiável.</div>
<div align="center"></div><div align="center"><strong>IHU On-Line – É verdade que as doenças do amianto não ocorrem mais no Brasil?</strong></div><div align="center">Edson Duarte - <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33784">Não é verdade</a>. Há uma invisibilidade das doenças do amianto no Brasil. Há uma precariedade nos diagnósticos das doenças. Hoje, o acompanhamento das pessoas é feito quase que exclusivamente pelos médicos das empresas. Os trabalhadores não têm a quem recorrer porque o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=14853">sindicato do setor</a> é comprometido também com as empresas. É um sindicato que faz parte do movimento de lobby pró-amianto. Assim, estes trabalhadores não tem como receber outra avaliação, não há estrutura pública que ofereça tanto exames quanto diagnósticos que possam associar os problemas de saúde com o amianto. O que nós sabemos é que algumas das doenças que são associadas ao amianto só aparecem <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31847">depois de 30, 40 anos </a>que o trabalhador teve contato com a fibra. Hoje não podemos dizer de forma segura que não há doentes no Brasil. É claro que os processos industrial e de mineração mudaram muito no país, mas não conseguiram garantir que o trabalho com amianto seja seguro e sem riscos. Todas as formas de amianto são agressivas e prejudiciais à saúde em todos os níveis de exposições e em todos os níveis em relação ao número de partículas em suspensão no ar. Isso é consenso médico e científico. </div><div align="center"></div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – Antes mesmo da elaboração do dossiê, o senhor já havia tomado posição contrária ao uso do amianto. Por quê? </strong></div><div align="center">Edson Duarte - Eu encontrei tantos <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=24796">doentes em função do amianto</a> no Brasil e isso me preocupou muito. Quando visitei as cidades Poções e Bom Jesus da Serra, no interior da Bahia, fiquei assustado com o número de doentes com problemas respiratórios que trabalharam na mina de amianto da região ou tiveram algum contato com ela. Acredito que precisamos conhecer esse assunto com profundidade e, definitivamente, tomarmos a decisão de proibir o amianto no Brasil.Não há razão econômica, científica, tecnológica e comercial que justifique a continuidade do uso desta fibra. Se Europa, Argentina, Chile, Uruguai baniram, é preciso que o Brasil faça isso logo. É preciso, também, que o governo brasileiro acompanhe todos aqueles que trabalharam ou que tiveram contato com a produção ou produtos feitos a partir do <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=18696">amianto</a>. Essas pessoas precisam de acompanhamento e tratamento e o governo deve exigir que isso seja bancado pelas empresas.</div>
<div align="center"></div><div align="center"><strong>IHU On-Line – Como é a cadeia de produção do amianto no Brasil?</strong></div><div align="center">Edson Duarte - A cadeia de produção do amianto hoje no Brasil se restringe a uma mina que é uma das maiores do mundo. Ela é de propriedade da SAMA S.A. - Minerações Associadas que, por sua vez, pertence ao <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28327">Grupo Eternit</a>. Este é o maior <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28287">grupo econômico</a> que transforma amianto em produtos como telhas. Das novas empresas do Brasil, apenas três ainda usam filtros a base de amianto, sendo que duas delas já anunciaram o interesse de fazer a substituição. No setor de telhas já temos uma série de produtos similares, feito com outros recursos e com preços compatíveis. A p<a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28266">rópria Eternit </a>já oferece telhas sem o amianto. </div>
<div align="center"></div><div align="center"><strong>IHU On-Line – Como é feito o controle social na vigilância dos trabalhadores expostos ao amianto e qual a efetividade dessa regulação?</strong></div><div align="center">Edson Duarte - Não há controle, porque não existe estrutura pública para <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28293">fiscalização</a> e acompanhamento. No Ministério do Trabalho nós contamos apenas com uma profissional, que é uma das maiores especialistas no Brasil em relação ao amianto. A Fundacentro, que deveria acompanhar a questão da saúde, tem uma estrutura muito limitada de profissionais para dar atenção a um <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=14940">problema como o do amianto. </a></div>
<div align="center"></div><div align="center"><strong>IHU On-Line – Há alternativas, portanto, para o uso do amianto?</strong></div><div align="center">Edson Duarte – Existem muitas alternativas. Os produtos que eram feitos com <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=14870">fibra do amianto</a> já estão utilizado recursos à base do petróleo, fibras naturais e celulose. Há no mercado hoje material disponível e não há necessidade de continuarmos explorando o amianto. O Brasil deveria investir e financiar pesquisas para o aprimoramento das alternativas, não só para o amianto, mas para toda e qualquer produto que ofereça risco à saúde para a população. </div><div align="center">Hoje, utilizando o amianto, estamos tendo dois custos: </div><div align="center">1) com o uso de uma tecnologia inadequada; e </div><div align="center">2) com a saúde pública daqueles que estão ficando doentes.</div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-87366173782297560972010-07-18T05:10:00.000-07:002010-07-18T05:16:34.489-07:00A economia azul é possível. Entrevista especial com Jorge Alberto Vieira Costa<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKjZ1uVU8uvrmqmYuzhzQHeoFa64Q0RWCaNdiirJtqiCM-PloU3PfHBjmqJJCQ2ORMlMJ08X_tQx3IULfDCOMqH_PyreHSZEFTqdxt_kBF45WmKAKtv5_9Q8hCPd-16hAG-sZC74rHo8Ip/s1600/mapa-mundi+economia+azul.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5495218875021105234" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 326px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKjZ1uVU8uvrmqmYuzhzQHeoFa64Q0RWCaNdiirJtqiCM-PloU3PfHBjmqJJCQ2ORMlMJ08X_tQx3IULfDCOMqH_PyreHSZEFTqdxt_kBF45WmKAKtv5_9Q8hCPd-16hAG-sZC74rHo8Ip/s400/mapa-mundi+economia+azul.jpg" border="0" /></a>
<div align="center"><span style="color:#000000;"></span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">O professor Jorge Alberto Vieira Costa é tão defensor da </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33083"><span style="color:#000000;">economia azul</span></a><span style="color:#000000;"> que faz parte de um seleto grupo no Brasil que já desenvolve pesquisas que estão dentro dessa ideia. Segundo ele, “a economia azul é uma economia voltada ao ambiente, ao social e requer poucos gastos”. Diferente da</span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31580"><span style="color:#000000;"> economia verde</span></a><span style="color:#000000;">, a azul foi pensada por </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33083"><span style="color:#000000;">Gunter Pauli</span></a><span style="color:#000000;">, fundador do </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33886"><span style="color:#000000;">Zero Emissions Research and Initiatives</span></a><span style="color:#000000;">, que em seu mais recente artigo usou a pesquisa desenvolvida pelo professor Jorge Alberto como um exemplo real da sua teoria econômica. A ideia da pesquisa do professor gaúcho é reutilizar o dióxido de carbono residual de uma usina elétrica movida a carvão para alimentar a alga </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33886"><span style="color:#000000;">Spirulina</span></a><span style="color:#000000;">, que por sua vez produz alimento rico em proteínas e é usada para fabricar </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=21016"><span style="color:#000000;">biocombustíveis</span></a><span style="color:#000000;">.Na entrevista a seguir, realizada por telefone, Jorge Alberto explicou as funcionalidades e resultados da sua pesquisa com a spirulina. “Quando os espanhóis chegaram ao México, os astecas comiam a Spirulina, uma massa verde que até então não se sabia o que era, e viviam muito mais que outros povos”, relatou.Jorge Alberto Vieira Costa é graduado em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal do Rio Grande.</span> </div>
<div align="center">Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul fez especialização em Biotecnologia Moderna e é doutor em Engenharia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas.Confira a entrevista.</div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – O que é a economia azul?</strong></div><div align="center">Jorge Alberto Vieira Costa – É uma visão diferenciada da economia. Esperamos que ela mude a forma como está sendo conduzida a questão do capital. A <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=1496&id_edicao=313">economia azul</a> é uma economia voltada ao ambiente, ao social e requer poucos gastos.</div><div align="center"></div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – O senhor pode nos explicar como funciona e para que serve a pesquisa que desenvolve com dióxido de carbono residual de uma usina elétrica movida a carvão?</strong></div><div align="center">Jorge Alberto Vieira Costa – Para produzir energia, utiliza-se a maneira biológica e sustentável ou <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31626">combustíveis fósseis</a>. Estes existirão durante algum período. Ao queimar combustível fóssil, gera-se CO2 que estava no subsolo durante milhões de anos e que vai para atmosfera. O que fazemos é tentar utilizar a biologia para trazer de volta esse CO2. Então, queima-se o carvão e usamos <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31330">microalgas</a> para se alimentarem do CO2 através da fotossíntese. Assim, elas produzem energia e crescem. Crescendo, geram uma biomassa que terá várias utilidades, como a criação de novos biocombustíveis ou até alimentos. Como o carvão pode estar contaminado por metais pesados, só estamos produzindo biocombustíveis, como biodiesel, biometano e biohidrogêngio. Com isso, esse biocombustível vai para a caldeira, substituindo aquele que, inicialmente, era queimado em quantidade maior. Ou seja, há um ciclo completo. Vamos diminuindo cada vez mais a quantidade de combustível fóssil queimado e de CO2 jogado na atmosfera.</div><div align="center"></div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – Que impactos os resultados dessa pesquisa pode ter sobre a economia local?</strong></div><div align="center">Jorge Alberto Vieira Costa – O Rio Grande do Sul tem 90% das <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=1444">reservas de carvão</a> do país, que é um dos mais baratos do planeta. No futuro, se não for resolvida a questão do CO2, ele se tornará inviável. Hoje já existem tecnologias para diminuir outros gases que são produzidos durante a queima do carvão, como os responsáveis pela chuva ácida. Além disso, equipamentos resolvem o problema da grande quantidade de cinzas. Mas ainda não existe uma tecnologia disponibilizada comercialmente que resolva a questão do gás carbônico. Há duas soluções por enquanto: injeção de CO2 em poços de petróleos e em <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=156">minas de carvão</a> desativados e a outra é a biofixação. Os poços de petróleo mais próximos do Rio Grande do Sul estão a milhares de quilômetros, por isso essa primeira hipótese está descartada. Além disso, as <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=13792">minas de carvão</a> brasileiras são a céu aberto, diferentes de outros países. No Brasil não há muitas outras alternativas a não ser a fixação biológica.</div>
<div align="center"></div><div align="center"><strong>IHU On-Line – É possível manter a ideia de crescimento que o Brasil e países em desenvolvimento têm a partir da economia azul?</strong></div><div align="center">Jorge Alberto Vieira Costa – Sim, é possível. Mas as autoridades responsáveis e os órgãos reguladores precisam começar a tomar atitudes. Não estou vendo isso, por exemplo, nas termoelétricas que estão sendo instaladas na Amazônia, por exemplo. Existe preocupação com o dióxido de enxofre, com o SO2, mas não há preocupação com o CO2. Essa não é uma questão que deve ser tratada só pelo Ministério de Minas e Energia. Deve vir do Ministério do Meio Ambiente, que é o grande responsável por este tema. Fazer os empresários entenderem a economia azul me parece mais difícil do que fazer os organismos controladores entenderem e passarem a ideia para todos.</div>
<div align="center"></div><div align="center"><strong>IHU On-Line – Qual a viabilidade técnica da utilização de microalgas para a redução da emissão de gás carbônico proveniente da geração termelétrica?</strong></div><div align="center">Jorge Alberto Vieira Costa – Toda essa questão de não deixar o gás carbônico chegar à atmosfera ou retirá-lo de lá é feita pelas árvores e microalgas. Todo oxigênio que respiramos vem daí também. As microalgas são responsáveis por cerca de 70% do oxigênio que respiramos, mas todo mundo pensa que são as árvores. É fácil observar isso, é só pegar um mapa mundi e ver onde há área verde e onde há área azul, que corresponde a dois terços do planeta. Onde há <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=18182">área azul</a>, há microalgas.</div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – O que é a Spirulina?</strong></div><div align="center">Jorge Alberto Vieira Costa – Spirulina é uma microalga que se adapta muito bem ao consumo humano. Ela tem liberação em todos os órgãos internacionais relacionados à saúde humana e alimentação. Foi uma descoberta riquíssima. Quando os espanhóis chegaram ao México, os astecas comiam a Spirulina, uma massa verde que até então não se sabia o que era, e viviam muito mais que outros povos. Ela é rica em aminoácidos essenciais e uma das principais fontes de proteínas existentes. Mais de 50% da biomassa dela é composta por proteína. Além disso, a Spirulina tem uma série de ácidos graxos essenciais, como o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=27041">ômega-3</a> e o ômega-6, que são tão falados, e também tem uma quantidade de antioxidante muito grande. O antioxidante é a substância da moda, que diminui os problemas relacionados ao envelhecimento celular.
Spirulina em pó.</div><div align="center"></div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – Como ela pode mudar nosso padrão de consumo alimentar?</strong></div><div align="center">Jorge Alberto Vieira Costa – Esse padrão tinha de ser modificado com uma reeducação alimentar. Isso passaria, entre outras coisas, pelo aumento do consumo de fontes ricas de aminoácidos, ácidos graxos e antioxidantes. A Spirulina caberia muito bem nesse sentido. O ser humano não precisaria, por exemplo, deixar de comer um bolo de chocolate, que é algo que todo mundo gosta. Nós já formulamos o bolo com a Spirulina, receita que até já saiu no <a href="http://grep.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-16211-3-262644,00.html">Globo Repórter</a>. As crianças adoram tomar leite com achocolatado, então formulamos o achocolatado com Spirulina. Tentamos adaptar na alimentação diária das pessoas a Spirulina sem mudar alguns padrões alimentares. Claro, não vai dar para fazer um churrasco com microalgas. Mas até não acho que o churrasco seja o maior problemas, mas sim os “fast-foods”.</div><div align="center"></div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – De que forma a economia azul pode resolver os problemas atuais em relação ao meio ambiente?</strong></div><div align="center">Jorge Alberto Vieira Costa – Economia Azul passa a ser um passo além do desenvolvimento sustentável. Se já pensávamos no desenvolvimento sustentável como forma de corrigir as coisas erradas que fizemos no planeta nos últimos 150 anos, quando começamos a destruir o meio em que a gente vive, o que é uma burrice muito grande, a Economia Azul já passa a ser o passo seguinte. O meio ambiente irá agradecer.</div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-9229612860504426772010-07-07T10:20:00.000-07:002010-07-07T10:23:33.053-07:00CAMPANHA SOLIDÁRIA CONTRA A FOME....<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNunyOQ7UxQiGncwK-fC1WimYj86P7pa3-ZULXw-WwpXQjauTU8rZZ3r-WXTeSjmEda77lg1iyNIR6MCKMtT-pcKt8FeinyaLoM085PPioDWV5fl782lxRXbnEHhiWsqj5GeW9U0gJzVfk/s1600/CONTRA+A+FOME"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5491216082773436578" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 210px; CURSOR: hand; HEIGHT: 356px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNunyOQ7UxQiGncwK-fC1WimYj86P7pa3-ZULXw-WwpXQjauTU8rZZ3r-WXTeSjmEda77lg1iyNIR6MCKMtT-pcKt8FeinyaLoM085PPioDWV5fl782lxRXbnEHhiWsqj5GeW9U0gJzVfk/s400/CONTRA+A+FOME" border="0" /></a> <strong><span style="font-size:130%;">A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou uma campanha denominada 1billionhungry (Um bilhão de pessoas com fome). O propósito é recolher um bilhão de assinaturas em todo o mundo para fazer uma pressão política junto à ONU, mostrando que a fome é um crime.</span></strong>
<strong></strong>
<div align="center"><strong>O que é a fome?</strong></div><div align="center">Para os mais afortunados, é apenas a sensação no estômago que lhes diz que "são horas de comer.” Para os que têm menos sorte, e não conseguem ter a comida suficiente todos os dias, a fome fá-los-á sentir débeis e cansados, incapazes de concentrar-se, e até doentes. A única coisa em que conseguem pensar é quando vão ter alguma coisa para comer. Para centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro, esta sensação dura todo o dia, todos os dias, e nunca sabem se, e quando, esta sensação vai acabar. Para eles, a fome pode levar à doença e a danos temporários ou permanentes para a sua saúde. Eles não têm comida suficiente para mantê-los ativos e sãos, e não consomem as vitaminas e os sais minerais de que o corpo necessita para funcionar bem. Isto é a fome crônica. Quando a fome é extrema e depois de dias com comida insuficiente ou nenhuma, o corpo começa a alimentar-se da única coisa que pode: ele mesmo, decompondo a sua própria gordura e tecidos, o que consequentemente pode levar à inanição e à morte.</div>
<div align="center"><strong>O por que da fome ?</strong></div><div align="center">O problema não é a falta de alimentos. Atualmente são produzidos no mundo alimentos suficientes para que todas as pessoas possam ter uma alimentação adequada e possam levar uma vida sã e produtiva. A fome existe por causa da pobreza. Existe porque as catástrofes naturais, como terremotos, inundações e secas, ocorrem muitas vezes em lugares onde as pessoas pobres têm muito pouco ou nada para poder reconstruir, quando ocorrem danos. Existe porque, em muitos países, as mulheres, apesar de serem quem mais trabalha na agricultura, não têm o mesmo acesso que os homens à formação, ao crédito ou à posse da terra. A fome existe por causa dos conflitos, que impedem as pessoas de ter qualquer possibilidade de levar uma vida decente e alimentar as suas famílias. Existe porque as pessoas pobres não têm acesso à terra ou a infra-estruturas agrícolas sólidas para produzir culturas viáveis.</div>
<div align="center"></div><div align="center"><strong>Quem são os que sofrem com a fome?</strong></div><div align="center">São, sobretudo, os rurais pobres que vivem em países em desenvolvimento – nas aldeias na Ásia, na África, na América Latina e Caribe – que dependem na sua maior parte da criação de gado ou do cultivo de produtos alimentares em pequenas parcelas, destinados a satisfazer as suas necessidades básicas de nutrição. Os sem terra também são ainda mais vulneráveis e no grupo da fome encontram-se ainda viúvas, órfãos, idosos, trabalhadores eventuais, refugiados. Esses pobres rurais não conseguem um rendimento estável, e por isso não conseguem complementar as suas necessidades de nutrição comprando os alimentos que necessitam. Frequentemente migram para as cidades à procura de trabalho, que é muitas vezes escasso e mal pago. O baixo rendimento traduz-se em poucos meios para comprar alimentos nos mercados locais. As mulheres são normalmente mais afetadas, as que são mal alimentadas durante a gravidez e terão maior probabilidade de dar à luz a crianças desnutridas. Quando catástrofes, como inundações, terremotos e secas atingem países vulneráveis, os pobres vêem-se forçados a abandonar as suas casas e os seus meios de sustento, aumentando assim o número de vítimas da fome.</div>
<div align="center"><strong>O que se pode fazer para lutar contra a fome?</strong></div><div align="center">Partilhar a esperança de um mundo sem fome é o primeiro passo. Acabar com as desigualdades de gênero e dar às mulheres poder para desempenhar um maior papel no desenvolvimento agrícola, é outro. O problema da fome deve ser uma prioridade nos países mais empobrecidos. Aos pequenos agricultores devem ser facultadas as oportunidades e a educação de que necessitam para poderem produzir alimentos e gerar rendimento em quantidade suficiente para as suas famílias. As economias rurais têm de crescer para aumentar as oportunidades de emprego para aqueles que o necessitam e assim reduzir as migrações do espaço rural para as cidades. Tem que se dar mais ênfase à melhoria do acesso dos pequenos agricultores, tanto a mercados domésticos como internacionais. Os nossos recursos naturais têm de ser geridos de forma sustentável, para assegurar que a terra não seja explorada em excesso. Os setores público e privado têm de colaborar para acabar com a pobreza e a desigualdade e melhorar o acesso a uma alimentação segura para todos. </div>
<div align="center"><strong>Como participar da campanha?</strong></div><div align="center">A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou uma campanha denominada 1billionhungry (Um bilhão de pessoas com fome). Solicita que divulguemos esta campanha, através da coleta de assinatura. O propósito é recolher um bilhão de assinaturas em todo o mundo para fazer uma pressão política junto à ONU, mostrando que a fome é um crime.O slogan da campanha é: 1 bilhão de pessoas vive com fome crônica e eu estou louco de raiva.Para assinar a petição. </div><div align="center">Veja como:Acessar o seu link </div><div align="center"><a href="http://www.1billionhungry.org/">http://www.1billionhungry.org/</a></div><div align="center">Pode-se fazer a assinatura eletrônica, ou baixar o texto do abaixo-assinado e recolher as assinaturas, que é muito simples e não necessita de nenhum documento.Esta campanha foi assumida pelo CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) em sua reunião plenária no dia 01 de julho. O Mutirão pela superação da miséria e da fome quer fazer-se presente nesta campanha, solicitando que todas as pessoas envolvidas em nosso trabalho social, à luz da fé cristã, abracem esta causa.A data limite proposta para o recolhimento das assinaturas é o dia 7 de setembro de 2010. Elas deverão chegar à ONU no dia 16 de outubro – dia mundial da alimentação</div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-12693034169128567912010-07-03T05:16:00.000-07:002010-07-03T05:22:54.747-07:00Entendendo o vazamento de petróleo nos EUA. Entrevista especial com Gerson Fauth<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiALlgjnGbj3CR0W-zvcEKw3-URZPusawZMJfIGf4dFdHWcIzWlN6Nmm_MrNa8V2-gc8jrZ9BMRaT8v5YFs2l0nqWZzZY72a_zDTsfuZjRQmiN3dwu3nKeaZWgHEA1BZul7ftBNYo2a70lo/s1600/o+golfo+do+m%C3%A9xico+e+a+imagem+do+vazamento.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5489653855121947186" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 268px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiALlgjnGbj3CR0W-zvcEKw3-URZPusawZMJfIGf4dFdHWcIzWlN6Nmm_MrNa8V2-gc8jrZ9BMRaT8v5YFs2l0nqWZzZY72a_zDTsfuZjRQmiN3dwu3nKeaZWgHEA1BZul7ftBNYo2a70lo/s400/o+golfo+do+m%C3%A9xico+e+a+imagem+do+vazamento.jpg" border="0" /></a><strong><span style="font-size:130%;"> IMAGEM DO GOLFO DO MÉXICO, E EM DESTAQUE O VAZAMENTO DE ÓLEO... E A ÁREA DE ATUAÇÃO DO MESMO....
</span></strong><div align="center"><strong><span style="font-size:130%;"></span></strong></div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">As vezes pensamos estar informados sobre tudo, ou todas as circunstãncias do vazamento de petróleo no golfo do méxico, esta entrevista mudará seus conceitos e opiniões...</span></strong></div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;"></span></strong></div><div align="center"><strong>As informações que chegam à população são de que pelo menos cinco mil litros de óleo vazam diariamente do “buraco” do poço de </strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33519"><strong>petróleo</strong></a><strong> que sofreu acidente no </strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33915"><strong>Golfo do México</strong></a><strong>. Este volume é cinco vezes maior do que o estimado quando a plataforma que extraia óleo deste poço afundou.</strong> </div>
<div align="center">A IHU On-Line conversou com o professor de Geologia da Unisinos, Gerson Fauth, sobre as implicações técnicas para conter o vazamento e se há chances de ocorrer algo semelhante no Brasil, que, com o <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_eventos&Itemid=26&task=evento&id=225&id_edicao=304">pré-sal</a>, começa a investir pesado na extração de petróleo. A entrevista foi realizada por telefone. </div>
<div align="center">“Nesse final de semana, uma tormenta forte deve chegar à região e empurrará o óleo em direção ao litoral. Esse vazamento deve levar até dois meses para ser estancado, e isso causará uma série de consequências no litoral sul dos Estados Unidos, principalmente para a população da Louisiana. Como essa região é pantanosa, o problema é mais grave ainda. Isso porque, se o óleo entrar nessa região de pântano, será impossível retirá-lo”, disse.
Gerson Fauth é mestre em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutor em Geologia pela Universitat Heidelberg (Alemanha). Atualmente, é professor do PPG em Geologia da Unisinos, onde ministra as disciplinas de Bioestratigrafia e Ostracodes.
Confira a entrevista.</div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line – Para entendermos a questão do vazamento do petróleo no Golfo do México. Porque o processo de contenção do óleo é tão demorado?
</span></strong>Gerson Fauth – As condições de onde está sendo retirado esse óleo são de mar profundo. Existe uma série de dificuldades técnicas para se chegar a esse lugar e ter condições para pegar todo esse petróleo que está jorrando do poço. Este óleo, quando sai do “buraco” que se abriu, tende a migrar para a parte mais superficial, mais leve e, na medida em que sai do poço, se espalha bastante, impactando uma área gigantesca. A imprensa tem dito que eram cinco mil barris por dia, mas a conta pode ser muito maior do que essa.</div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line – Que implicações técnicas são necessárias para a contenção desse vazamento?</span></strong></div><div align="center">
Gerson Fauth – A implicação técnica exata ninguém sabe ao certo. Esses tipos de problemas que ocorreram agora não são muito comuns. Ainda assim, há uma série de precauções que devem ser tomadas quando se vai perfurar para extrair o óleo, é preciso ter muitas válvulas e portas que são trancadas caso exista um erro. Comenta-se que uma determinada válvula que precisava ser colocada, não foi. A British Petroleum não tomou certas precauções para evitar problemas que decorreram nessa catástrofe ecológica. Ou seja, houve uma economia que causou esse problema. Quando é uma empresa séria, esse tipo de situação não ocorre.</div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line – Por quanto tempo se sofrerá com as consequências desse vazamento?</span></strong></div><div align="center">
Gerson Fauth – Não se sabe ainda ao certo. Nesse final de semana, uma tormenta forte deve chegar à região, e ela deve empurrar o óleo em direção ao litoral. Esse vazamento levará até dois meses para ser estancado, e isso vai causar uma série de consequências no litoral sul dos Estados Unidos, principalmente para a população da Louisiana. Como essa região é pantanosa, o problema é mais grave ainda. Isso porque, se o óleo entrar nessa região de pântano, será impossível retirá-lo. Provavelmente, muitas gerações vão sofrer com as consequências desse desastre.</div><div align="center">
<strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line – Que danos ambientais, especificamente, esse vazamento pode causar?</span></strong></div>
<div align="center">Gerson Fauth – Os mais prejudicados são os ambientes pantanosos no sul dos EUA. Dessa forma, o desastre atinge as aves que vivem sobre a água e a própria população ribeirinha que vive da pesca. Imagine um lugar pantanoso, muita água, pouca energia, poucas ondas, que é invadido por um óleo que bate nos troncos e nas folhas. Dificilmente ele vai ser retirado. A mesma coisa aconteceu no Alasca, só que num lugar pedregoso. Lá, as pedras foram “lavadas” e o problema praticamente solucionado. Como lavar um lugar pantanoso? Quando chega na areia é fácil de tirar, mas nos pântanos não. </div><div align="center">
<strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line – Algo parecido pode acontecer no Brasil?</span></strong></div><div align="center">
Gerson Fauth – É pouco provável. Bom, pode acontecer com qualquer sonda, qualquer plataforma no mundo em que não sejam tomadas as devidas precauções. As chances de isso acontecer no Brasil são pequenas, porque as empresas que trabalham aqui são mais sérias. No caso dos EUA, houve uma espécie de “quarteirização”, pois uma empresa cedeu à outra empresa, que cedeu para uma terceira. No final, ninguém se responsabilizou e assumiu a culpa. Mas a BP, que é uma das maiores petroleiras do mundo, está sendo culpada por ser a principal responsável por aquele poço, embora ela não estivesse naquele lugar, naquele momento.</div><div align="center">
<strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line – O Brasil teria condições de amparar um problema assim?</span></strong></div><div align="center">
Gerson Fauth – Nenhum país tem condições. Os EUA são o país mais rico do mundo, com melhor tecnologia, com os profissionais mais capacitados, e não conseguem resolver o problema. O presidente Obama está sendo humilhado por não conseguir contornar a situação. Ninguém está preparado para isso.</div><div align="center">
<strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line – Esse vazamento no Golfo do México pode mudar de alguma forma a economia do petróleo?</span></strong></div><div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">
</span></strong>Gerson Fauth – Eu entendo que não, não muda nada. Agora, o que muda é que haverá maiores estudos a respeito de aperfeiçoamento de técnicas para evitar esse tipo de problema no futuro. Na história da extração do petróleo no mundo, existiram vários vazamentos, mas nenhum tão intenso, tenso e catastrófico para o meio ambiente como esse. E também este vazamento no Golfo do México só está na mídia porque é nos EUA. A Nigéria está vivendo o mesmo problema e não está na mídia. O que é lamentável, pois sempre que uma catástrofe como essa acontecesse, a população e o mundo deveriam ser alertados.</div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-81782529592541857182010-06-29T03:23:00.000-07:002010-06-29T03:28:12.486-07:00‘A Reforma Agrária hoje ainda é necessária’. Entrevista especial com Sérgio Pereira Leite<div align="center"><span style="color:#000000;">Autor de Um futuro para o campo - Reforma Agrária e Desenvolvimento Social (Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2007), o professor Sérgio Pereira Leite concedeu a entrevista a seguir, por telefone, à IHU On-Line, na qual falou sobre a </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33144"><span style="color:#000000;">Reforma Agrária</span></a><span style="color:#000000;">. </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">Para ele, “não basta somente pensar a </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=32005"><span style="color:#000000;">Reforma Agrária </span></a><span style="color:#000000;">como política de combate à pobreza, mas também é fundamental pensar nela como uma política de desenvolvimento e como uma política de combate à desigualdade social”. Leite refletiu sobre a política brasileira em torno da Reforma Agrária, apresentando pesquisas que defendem o quanto ela ainda é necessária no Brasil.Sérgio Pereira Leite é graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Unesp. </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">Mestre em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e doutor em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas. Fez o pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales (França). Hoje, é professor na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ</span>.</div><div align="center">Confira a entrevista.</div><div align="center"><strong>IHU On-Line – No livro Um futuro para o campo - Reforma Agrária e Desenvolvimento Social, o senhor explica o que é Reforma Agrária. Por que ainda é importante explicar essa questão?</strong></div><div align="center">Sérgio Pereira Leite – Apesar de estar presente na agenda política, econômica e social brasileira há muito tempo, essa é uma questão que ainda é atual, sobretudo quando constatamos dados como os do censo agropecuário brasileiro. Esse estudo foi feito, em 2006, pelo IBGE, e aponta que o Brasil ainda é um dos países com maior índice de concentração fundiária do planeta. Havia uma expectativa de que este censo revelasse uma concentração um pouco mais atenuada em relação à pesquisa feita em 1995, no entanto, as revisões que o IBGE fez demonstraram a permanência de um Índice de Gini da terra extremamente elevado. Lembrando que quanto mais próximo de 1 está o Índice de Gini, maior é a concentração absoluta da terra; e quanto mais próximo de 0, significa que há uma maior distribuição dos ativos fundiários.
"O Brasil ainda é um dos países com maior índice de concentração fundiária do planeta"Assim, no caso brasileiro, o índice está acima de 0,85. Isso significa que existe uma concentração extremamente forte da propriedade fundiária no Brasil. Só esse fato justifica a atualidade do debate acerca <span style="color:#000000;">da </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31864"><span style="color:#000000;">Reforma Agrária</span></a><span style="color:#000000;">, que</span> é uma forma de distribuir os ativos fundiários. Além disso, há uma quantidade grande de pessoas demandando terra, portanto, sem terra. Não se trata apenas de um distributivismo agrário, e sim de pensar em lógicas, em projetos de desenvolvimento efetivamente includentes. Portanto, não basta somente pensar <span style="color:#000000;">a </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31509"><span style="color:#000000;">Reforma Agrária como política de combate à pobreza</span></a><span style="color:#000000;">, mas também é fundamental pensar nela</span> como uma política de desenvolvimento e como uma política de combate à desigualdade social. Essas duas atribuições políticas de desenvolvimento e mecanismo de combate à desigualdade social são atributos estratégicos e atuais da Reforma Agrária hoje.</div><div align="center"> </div><div align="center"><strong>IHU On-Line – O que o senhor pensa do Brasil ter uma das maiores liberações de recursos para safras do mundo?</strong></div><div align="center">Sérgio Pereira Leite – Nos últimos oito anos, houve um aumento relativamente acentuado na oferta de recursos para esta finalidade quando comparamos, por exemplo, com as décadas de 1980 e 1990. Estamos trabalhando hoje com uma oferta de crédito bastante superior, e isso me parece um dado bem interessante no sentido de disponibilizar recursos para atividades produtivas no meio rural ligadas ao custeio e ao investimento agrícola. Mas é preciso chamar atenção para a distribuição desSes recursos. O Brasil possui dois Ministérios para tratar das questões rurais: o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Na lógica da política de crédito rural, há um predomínio na oferta de recursos para os segmentos vinculados a uma agricultura mais empresarial em detrimento da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28592"><span style="color:#000000;">agricultura familiar</span></a><span style="color:#000000;"> na distribuição</span> global dos recursos. Porém, há de se constatar também um aumento importante na oferta de recursos do crédito para os agricultores familiares, ainda que eles absorvam uma quantidade na distribuição de recursos bem menor do que aquela destinada aos grandes e médios empreendimentos rurais.
"No que tange à capacidade de gestão do crédito, há bons indicadores na agricultura familiar, salvo determinados segmentos e modalidades de empréstimos"
Agora, por outro lado, o censo agropecuário de 2006 revela outra questão interessante que é a participação dos agricultores familiares na geração da riqueza. Apesar de ocuparem uma parcela de terra relativamente pequena quando comparado ao número total de hectares e <span style="color:#000000;">estabelecimento </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28575"><span style="color:#000000;">agropecuários</span></a><span style="color:#000000;">, eles</span> geram empregos e produzem recursos e riquezas acima do percentual das terras que ocupam. Esses agricultores mostram que a agricultura familiar possui uma boa efetividade econômica, no sentido não só da eficácia e da eficiência, mas de uma certa capacidade de, com seus recursos e mão-de-obra, gerarem valores bastante expressivos. Neste sentido, poderia manter ou vir a fazer jus de uma parcela maior dos recursos direcionados ao crédito rural, mas, enfim, diria também que boa parte dos créditos agrícolas destinados à agricultura familiar é empréstimo que é devolvido às agências financiadoras, segundo a <span style="color:#000000;">legislação. No entanto, quando observamos, por exemplo, a destinação de créditos para o segmento de médio e grande porte da </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=26469"><span style="color:#000000;">agricultura brasileira</span></a><span style="color:#000000;">, a situação de endividamento é muito mais expressiva, o que tem gerado sucessivos pacotes do Governo Federal na renegociação destas dívidas. Já no que tange à capacidade de gestão do crédito, há bons indicadores na </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=26474"><span style="color:#000000;">agricultura familiar</span></a><span style="color:#000000;">, salvo determinados segmentos e modalidades de empréstimos.</span></div><div align="center"><span style="color:#000000;"></span> </div><div align="center"><span style="color:#000000;"><strong>IHU On-Line – O que o Brasil pode aprender com as experiências já realizadas em outros países?</strong></span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">Sérgio Pereira Leite – Em geral, podemos pensar que, se olharmos um conjunto significativo de países, tanto do lado ocidental quanto do lado oriental do planeta, parece evidente que todo o processo de crescimento e estratégia de desenvolvimento para as diferentes sociedades implica necessariamente numa prévia distribuição dos ativos fundiários. Pensar uma sociedade com maior grau de justiça social e de desenvolvimento implica em pensar uma sociedade que realizou, em algum momento de sua história, um efetivo processo de </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=26260"><span style="color:#000000;">Reforma Agrária</span></a><span style="color:#000000;">. Essa conta, o Brasil ainda não fechou. Há experiências - tanto relacionadas às economias capitalistas ocidentais como a outras trajetórias - que vão mostrar que uma sociedade com condições de crescer e se desenvolver a passos mais amplos, mais prudentes e mais justos, com menor heterogeneidade social, realizou, em algum momento desta trajetória, uma distribuição destas terras. Vários resultados internacionais apontam nesta direção, e isso poderia ser aproveitado pelo Brasil. Alguma coisa já foi feita, como, por exemplo, a </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=25771"><span style="color:#000000;">experiência dos assentamentos rurais</span></a><span style="color:#000000;">. O impacto que eles produzem nas regiões onde são efetivamente criados mostra que há uma modificação sensível nas condições de vida da própria família comparada à sua situação anterior ao assentamento. Há diversas pesquisas que demonstram isso. Essas famílias têm maior segurança alimentar e dinamizam as regiões onde os assentamentos foram criados. Eu me refiro aqui a uma dinamização econômica, a uma dinamização política, a uma dinamização social, mostrando que, em diferentes contextos, a presença dos assentamentos, por exemplo, reativou circuitos de comercialização, feiras, implicou na construção de unidades de beneficiamento, produção de sementes etc.</span></div><div align="center"> </div><div align="center"><span style="color:#000000;"><strong>IHU On-Line – Analisando as propostas colocadas em jogo em relação às eleições deste ano, quando a Reforma Agrária, no Brasil, será realizada?</strong></span></div><div align="center"> </div><div align="center"><span style="color:#000000;">Sérgio Pereira Leite – Essa é uma pergunta difícil. Minha impressão é de que é preciso intensificar o ritmo de realização da política de assentamentos rurais do Brasil. Há diversas ordens de obstáculos e de elementos que implicam em certa morosidade do processo, inclusive na chamada fase judicial de desapropriação dos imóveis rurais. Porém, dado o contexto e a quantidade de pessoas que esse processo envolve, é preciso intensificar a realização da </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=23770"><span style="color:#000000;">Reforma Agrária </span></a><span style="color:#000000;">e o ritmo da implementação</span> da política de assentamentos rurais do Brasil. Espero que o próximo governo encampe e abrigue estrategicamente <span style="color:#000000;">este </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=23600"><span style="color:#000000;">programa de Reforma Agrária.</span></a> Espero que não só o contemple, mas também estimule uma maior capacidade de implantação dos projetos, o que envolve não somente o Governo Federal, mas uma série de outros atores sociais vinculados à realização desta política, bem como a capacidade de pressão dos diferentes movimentos sociais rurais que demandam terras para assentamento das famílias que hoje se encontram excluídas deste processo social. </div><div align="center"> </div><div align="center"><strong>IHU On-Line – Como o senhor vê as possíveis mudanças que o Código Florestal brasileiro pode sofrer?</strong></div><div align="center">Sérgio Pereira Leite – É preciso pensar com muito cuidado as mudanças do Código Florestal, porque parte das demandas pela modificação da lei está mais relacionada a um movimento de expansão das atividades da grande lavoura, especialmente aquela direcionada à exportação. No <span style="color:#000000;">ponto de vista da </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=22348"><span style="color:#000000;">Reforma Agrária</span></a><span style="color:#000000;">, é</span> possível sim fazer e ampliar o número de assentamentos sem que para tanto seja necessário mexer no Código Florestal, que não deixa de ser uma demanda do segmento de produção de monoculturas em larga escala.</div><div align="center"> </div><div align="center"><span style="color:#000000;"><strong>IHU On-Line – A </strong></span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=15525"><span style="color:#000000;"><strong>revisão dos índices de produtividade</strong></span></a><span style="color:#000000;"><strong> pode colaborar com o início da Reforma Agrária efetiva no Brasil?</strong></span></div><div align="center"> </div><div align="center"><span style="color:#000000;">Sérgio Pereira Leite – Estou totalmente de acordo com isso. Segundo a Constituição Federal, para que você identifique uma terra que não cumpra sua função social e, portanto, seja passível de desapropriação para </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=21211"><span style="color:#000000;">realização da Reforma Agrária</span></a><span style="color:#000000;">, é preciso observar justamente, além do cumprimento da legislação trabalhista e do cumprimento da legislação ambiental, dois indicadores relacionados ao processo de eficiência econômica na exploração e no grau de utilização das terras. O problema é como calcular estes dois indicadores. No momento, os cálculos são feitos ainda com base nas estatísticas produzidas pelo</span> IBGE, tendo como referência o censo agropecuário dos anos 1970. Acontece que entre 1970 e 2010, houve uma mudança substantiva na forma de produzir no campo, que, inclusive, é objeto de declaração dos mais diferentes segmentos e setores de nossa agricultura, rebatendo no aumento importante da produtividade <span style="color:#000000;">física de </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=21208"><span style="color:#000000;">culturas e criações</span></a><span style="color:#000000;">. Nada mais justo do que atualizar estes índices trazendo-os mais próximos à realidade na qual nós estamos efetivamente trabalhando hoje. O IBGE recentemente divulgou os dados relativos aos estabelecimentos </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=30500"><span style="color:#000000;">agropecuários brasileiros </span></a><span style="color:#000000;">no censo agropecuário de 2006. Por que não tomar os indicadores levantados a partir das estatísticas</span> recentes sobre a situação atual do campo e aí se fazer os cálculos necessários? A renovação e a atualização dos índices são, inclusive, mais fidedignas ao quadro real da realidade agropecuária hoje, e, portanto, mostram quem é e quem não é produtivo hoje, no campo. </div><div align="center"> </div><div align="center"><strong>IHU On-Line – A Reforma Agrária depende de mobilização social?</strong></div><div align="center"> </div><div align="center"><span style="color:#000000;">Sérgio Pereira Leite – A experiência histórica, não somente brasileira, mostra claramente que, sem mobilização e sem pressão, não haverá Reforma Agrária. Ela é estratégica, tem efetivamente a capacidade de levar o problema como uma demanda concreta, objeto da intervenção do Estado através de seus instrumentos de política. A </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=20836"><span style="color:#000000;">política de Reforma Agrária</span></a><span style="color:#000000;">, por ser uma política redistributivista, é conflitiva e provoca um resultado de ganhadores e perdedores muito claros. Então, se o projeto estratégico de desenvolvimento do país é aquele que busca uma melhor capacidade de desenvolvimento mais justo e equânime, é preciso entender que, neste projeto, tem que entrar claramente uma</span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=21575"><span style="color:#000000;"> política de Reforma Agrária</span></a><span style="color:#000000;">, e, para que essa </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19602"><span style="color:#000000;">política de Reforma Agrária</span></a><span style="color:#000000;"> ocorra, é fundamental que os setores diretamente relacionados à mesma se mobilizem, lutem e se organizem em torno deste projeto.</span></div><div align="center"><span style="color:#000000;"></span> </div><div align="center"><span style="color:#000000;"><strong>IHU On-Line – Qual é o futuro que o senhor prevê para o campo brasileiro?</strong></span></div><div align="center"><span style="color:#000000;"></span> </div><div align="center"><span style="color:#000000;">Sérgio Pereira Leite – Há um futuro que desejamos: um</span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=21785"><span style="color:#000000;"> futuro rural </span></a><span style="color:#000000;">com gente no campo, </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19828"><span style="color:#000000;">um rural mais equânime</span></a><span style="color:#000000;">, uma sociedade mais justa, que efetivamente expresse uma expansão das capacidades humanas com melhores capacidades de vida e de produção. Mas o futuro, propriamente dito, é resultante das ações e processos contraditórios. Cabe a nós, pesquisadores, esta tarefa de mostrar que a </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=15419"><span style="color:#000000;">Reforma Agrária </span></a><span style="color:#000000;">hoje ainda é necessária, é uma questão atual e estratégica para o Brasil e uma condição necessária para a promoção do desenvolvimento.</span></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-71183973157574190362010-05-31T17:28:00.000-07:002010-05-31T17:33:29.022-07:00Degradação ambiental na sociedade do risco. Até onde podemos ir? Entrevista especial com Carlos Machado<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9553VAnnOoNhpdtx65DUtGZ0ff4GZcm9a6bkdd3Bvhnd092J6wfpHgrXgdbSKzl-njvNbXmQf71TjDB0KAJKARy0UwoxrtYaIzm2wK6cYhvgeKALk8FBFhaboAopcFeEusimmPCRQAT_H/s1600/homem_e_meio_ambiente.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5477596723815013170" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 276px; CURSOR: hand; HEIGHT: 219px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9553VAnnOoNhpdtx65DUtGZ0ff4GZcm9a6bkdd3Bvhnd092J6wfpHgrXgdbSKzl-njvNbXmQf71TjDB0KAJKARy0UwoxrtYaIzm2wK6cYhvgeKALk8FBFhaboAopcFeEusimmPCRQAT_H/s400/homem_e_meio_ambiente.jpg" border="0" /></a> <strong><span style="font-size:180%;">O MEIO AMBIENTE ME FASCINA: A LUTA POR MELHORES TRATAMENTOS AO MEIO É UMA DE MINHAS BANDEIRAS...</span></strong>
<div align="center"><strong><span style="font-size:180%;">ENTÃO VEM ESTA ENTREVISTA, E FICO TORCENDO PARA QUE MUITOS MUDEM SUAS OPINIÕES...</span></strong></div>
<div align="center">"O consumo médio de um cidadão de um país rico pode ser até 40 vezes maior do que outro cidadão vivendo em um país pobre". Essa é a contastação do professor Carlos Machado de Freitas, que, em entrevista à IHU On-Line, realizada por e-mail, apontou que vivemos uma importante melhoria na<a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31250"> qualidade de vida</a>, mas que os <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31505">indicadores ambientais</a> têm piorado, cada vez mais, em função do aumento do consumo e da degradação e uso dos recursos naturais. Para ele, essa questão também “se acopla ao crescimento tanto da população como ao consumo per capita, que também cresceu ao longo do século XX, ao mesmo tempo acompanhado de grandes desigualdades”.</div>
<div align="center">Carlos Machado de Freitas é historiador formado pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizou o doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz e obteve o título de pós-doutor pela Universidade de São Paulo. Em suas pesquisas, o professor tem relacionado a ideia de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19117">sociedade do risco</a> à questão da saúde. Confira a entrevista.</div>
<div align="center">IHU On-Line – O senhor tem analisado a questão dos riscos aplicados aos problemas ambientais. Que tipo de riscos estão presentes nesse cenário atual?</div>
<div align="center">Carlos Machado – Temos pesquisado sobre os <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=17023">problemas ambientais</a> porque consideramos que apontam para os processos de degradação que vêm atingindo os sistemas de suporte à vida, como os ciclos das águas, do clima e dos solos, o fornecimento de alimentos e de água, a disponibilidade de recursos naturais fundamentais a nossa vida. Assim, podemos falar que há melhoria da qualidade de vida (acoplada à ideia de que quanto mais consumo, melhor a qualidade de vida) tendo ao mesmo tempo a piora dos indicadores ambientais (quanto mais consumo, mais recursos naturais são utilizados ou degradados, de modo que não há uma fórmula mágica que permita aumentar o consumo sem aumentar os danos ambientais).E isto também se acopla ao <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=1312&id_edicao=302">crescimento</a>, tanto da população como ao consumo per capita, que também cresceu ao longo do século XX, ao mesmo tempo acompanhado de grandes desigualdades, já que o consumo médio de um cidadão de um país rico pode ser até 40 vezes maior do que outro cidadão vivendo em um país pobre. Assim, consideramos que não podemos tratar de melhoria da qualidade de vida, sem tratar dos sistemas de suporte à vida, sendo que, na inter-relação entre um e outro, temos a questão do crescimento e das desigualdades.</div>
<div align="center">IHU On-Line – E como o senhor avalia a agenda ambiental brasileira no que diz respeito aos projetos em desenvolvimento?</div>
<div align="center">Carlos Machado – Tem avançado em muitos aspectos em termos de diagnósticos e até de proposições. Porém, creio que o mais importante é destacar que se encontra subordinada a um <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=4534">modelo de desenvolvimento econômico</a> que considera que crescer explorando recursos naturais é o único caminho (uma visão do século passado ainda dominante nas mentes dos gestores) e é bastante setorial, não tendo avançado efetivamente na transversalidade fundamental para as ações. Um exemplo disto pode ser visto na poluição atmosférica resulta da emissão de gases poluente, principalmente dos carros questão da poluição atmosférica por veículos automotores. Enquanto o Ministério do Meio Ambiente procurava demonstrar os veículos automotores mais poluentes, colocando em discussão este tema até para as questões ligadas ao consumo, o governo incentivava que os consumidores comprassem mais carros novos, ao invés de investir na manutenção dos empregos do setor a partir de investimentos na produção de transportes coletivos. Não precisamos ir muito longe para ver os resultados disto, pois basta ficar refletindo sobre o tema em um engarrafamento nas grandes cidades, seja em um ônibus, seja em um carro.</div>
<div align="center">IHU On-Line – O Brasil viveu, nos últimos verões, grandes problemas em função de causas naturais. Onde a ideia de sociedade do risco se apresenta em situações como essa?</div>
<div align="center">Carlos Machado – Quando Ulrich Beck trata da questão da sociedade do risco, aponta para a capacidade das tecnologias perigosas tornarem-se difusas por cada parte, ao mesmo tempo em que temos a inadequação das formas tradicionais de processos políticos decisórios (que não incorporam os novos atores sociais) e do reducionismo científico (que não consegue tratar estes riscos e incertezas inerentes a este processo). Com isto, temos não só a reconfiguração de riscos tradicionais como o surgimento de novos. O debate sobre os eventos com causas "naturais" (que são determinadas socialmente em vários aspectos) também se reconfigura neste <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=1734">processo</a>. Isso porque temos hoje eventos como enchentes e inundações que embora sejam em termos objetivos iguais as do passado, trazem como novidade o fato de muitas das suas causas estarem relacionadas desde o precário ou ausente planejamento urbano até as mudanças ambientais mais globais, como as climáticas, o que significa que as causas atuais e associadas ao homem podem ter consequências que transcendem as gerações presentes e que não encontram, nos mecanismos correntes, formas de controle (basta ver o fracasso do último acordo sobre o clima). É na reinterpretação destes riscos "antigos" ou mesmo no surgimento de novos riscos (nanotecnologia, por exemplo) que a sociedade do risco se aplica, pois, já não podemos separar o que é natural do que é social, ao mesmo tempo em que os <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=204">mecanismos de decisão e compreensão</a> se apresentam como insuficientes. Estes são sinais de uma crise que não é só ambiental, mas também social.</div>
<div align="center">IHU On-Line – O progresso implica, necessariamente, em algum momento, efeitos catastróficos?Carlos Machado – A trajetória do homem sempre acompanhou história das mudanças ambientais em função da apropriação dos recursos naturais. Em um primeiro momento, relacionadas à sobrevivência, e num segundo momento, relacionadas às diversas formas de acumulação de poder, riquezas e distinção social. O que temos hoje é a potencialização do uso da natureza em uma escala muito maior, mediada pelas tecnologias que propiciam a acumulação de recursos.Até 1800, nunca havíamos ultrapassado um bilhão de habitantes. A partir daí, rapidamente passamos para seis bilhões em apenas 200 anos, sendo que demoramos cerca de 150 mil anos para chegar ao primeiro bilhão. Mas não só isto. Cada um de nós consome hoje, em média, uma quantidade muito maior de água, alimentos, energia etc. Nesta lógica, não temos como ter este crescimento (que é bastante desigual) sem gerar uma crise. A questão é até onde podemos ir.</div>
<div align="center">IHU On-Line – O senhor estuda a caso de Manaus. Esta cidade está inserida dentro da ideia de sociedade do risco?</div>
<div align="center">Carlos Machado – Não estudamos Manaus dentro da ideia da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=3542">sociedade do risco</a>, embora os argumentos anteriores possam também ser aplicados a este caso. Estudamos porque boa parte do debate sobre a Amazônia está centrada na questão ambiental, esquecendo ou ocultando que lá vivem milhões de pessoas, concentradas principalmente nas cidades, cercada por florestas. Trabalhamos em uma perspectiva de que não é possível pensar a questão ambiental sem pensar a questão dos humanos e sua saúde, assim como o inverso.</div>
<div align="center">IHU On-Line – Quais são os principais riscos que Manaus corre?</div>
<div align="center">Carlos Machado – Os principais riscos ambientais à saúde em Manaus encontram-se associados ao processo de urbanização. Manaus possui os mesmos problemas que muitas das cidades do país, como poluição, doenças crônicas, acidentes de trânsito e violências. Estas questões estão associadas ao precário desenvolvimento, expresso na precária infra-estrutura de saneamento e ocupação do solo (dengue e doenças diarréicas, agravadas em casos de enchentes, por exemplo), assim como doenças associadas à pobreza (tuberculose e leishmaniose) e a expansão urbana nas bordas da floresta (malária, por exemplo). Ou seja, Manaus vivencia uma situação bastante complexa, com riscos associados ao processo de urbanização, à pobreza e à precária infra-estrutura urbana, com riscos que podem ser agravados por mudanças ambientais globais, como dengue e malária.</div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-45226228175251159092010-05-14T16:20:00.000-07:002010-05-14T16:26:26.606-07:00Belo Monte: “Precisamos de outro modelo de desenvolvimento”. Entrevista especial com Dion Monteiro<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEIDehXd5BeNVMAz8iKJ7EfG6qko64I8MU07QqEmEz7UoMcjdcqpfc7JIkq5T_AkAUsZGZhEBR_xp-BiiY3FKNGFW6CjW8ez0AHLlQDpae7LvHHt_lEsC_r_id7UblnlVytd6mBHGj1n0C/s1600/belo-monte.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5471271070745246546" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 226px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEIDehXd5BeNVMAz8iKJ7EfG6qko64I8MU07QqEmEz7UoMcjdcqpfc7JIkq5T_AkAUsZGZhEBR_xp-BiiY3FKNGFW6CjW8ez0AHLlQDpae7LvHHt_lEsC_r_id7UblnlVytd6mBHGj1n0C/s400/belo-monte.jpg" border="0" /></a> <strong>Na avaliação do economista Dion Monteiro, “o que está por trás da questão da Usina de Belo Monte é a concepção de vida de modelos de desenvolvimento e relações econômicas, sociais, políticas, culturais e ambientais que existem onde o econômico se destaca”. Em entrevista concedida, por telefone, à IHU On-Line, Monteiro analisa a situação da região após o leilão da Usina, realizado no dia 20 de abril. </strong></div><div align="center"><strong>Sobre a polêmica arrematação, Monteiro diz que a cassação da suspensão do leilão é muito “interessante” de ser avaliada, no sentido dos interesses políticos escondidos neste processo. “Sabemos que a decisão do presidente do TRF foi política, não levando em consideração os aspectos técnicos que tanto o MPF quanto o juiz federal de Altamira levantaram no decorrer do processo. Isso aponta, infelizmente, subordinação e conivência entre o executivo, no caso do governo federal, e o servidor público do judiciário, que cassou as liminares”, afirma.A respeito dos próximos capítulos da história de Belo Monte, Monteiro destaca que o processo de denúncias e as manifestações irão continuar. “Vamos continuar com nossas ações políticas. Acreditamos que o governo incorre um erro gravíssimo sobre modelos de desenvolvimento. O governo ainda insiste em um modelo atrasado, considerado no mundo todo como responsável pelos graves problemas ambientais e sociais, não consegue ver além do componente econômico, e, desta forma, só acentua os desastres climáticos, ambientais e o ataque ao planeta”, lamenta.Dion Márcio C. Monteiro é economista e membro do comitê metropolitano do Movimento Xingu Vivo para Sempre.</strong>
<div align="center">Confira a entrevista.</div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – O senhor afirma que a Usina Hidrelétrica de Belo Monte será construída para atender com energia barata as empresas do eixo centro-sul do país. Que empresas são essas? O que elas produzem?</strong></div>
<div align="center">Dion Monteiro – São <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31285">indústrias</a>, algumas trabalham na produção de bens duráveis, e outras, na produção de bens de consumo. Na região norte, são as empresas eletrointensivas, aquelas que precisam de muita energia para mover sua atividade produtiva, em especial as mineradoras que trabalham com exploração de recursos minerais, como a Vale, a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=27247">Alcoa</a>. Há algumas que extraem, mas se beneficiam desses recursos, como metalúrgicas e siderúrgicas. Em suma, são empresas que desenvolvem a atividade produtiva pautada na extração e industrialização dos recursos. Temos visto que o desenvolvimento de suas atividades tem trazido consequências muito graves em relação à questão ambiental. É o aprofundamento de um modelo de desenvolvimento pautado no fator econômico. É um modelo atrasado, antigo e que não dá conta das necessidades do mundo na atualidade.</div>
<div align="center"></div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – Os 11 mil megawatts de potência dessa usina só serão gerados durante quatro meses no ano. O que significa deixar “parada” essa potência nos outros meses?</strong></div>
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<div align="center">Dion Monteiro – Os estudos mostram que, devido ao fluxo do Rio Xingu, só durante três ou quatro meses, e em alguns momentos até dois, os 11 mil megawatts serão gerados. Em outros quatro meses, será gerada uma quantidade entre 30 e 40%, e nos outros meses, muito menos do que isso, no máximo mil megawatts. Isso implica diretamente na viabilidade econômica da obra, porque vão se gastar 20 bilhões de reais para construí-la, segundo o governo; 30 bilhões de reais, segundo as empresas; e 40 bilhões, segundo outros <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31905">analistas</a>. Isso para uma obra que só irá gerar grande quantidade de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=32061">energia</a> durante quatro meses.
"Como a usina irá trabalhar com menos de 50% da sua capacidade máxima de viabilização, isso quer dizer que, economicamente, a obra não se sustenta"Como a usina irá trabalhar com menos de 50% da sua capacidade máxima de viabilização, isso quer dizer que, economicamente, a obra não se sustenta. Isso sem levar em consideração as questões ambientais que estão sendo tratadas por especialistas independentes, pelo Ministério Público Federal, por organizações de movimentos sociais e pelas comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas e agrícolas da região. Essa situação ambiental e social é séria, mas, se olharmos somente pelo aspecto <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=30794">econômico</a>, é uma situação que inviabiliza a obra. </div>
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<div align="center"><strong>IHU On-Line – No dia 20-4-2010, foi anunciado que o leilão de Belo Monte estava suspenso. Mas, no mesmo dia, a liminar que suspendia o leilão foi cassada. Em sua opinião, porque esse processo se deu dessa forma? </strong></div>
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<div align="center">Dion Monteiro – O que aconteceu foi algo muito interessante de se avaliar no sentido dos interesses políticos que estão por trás de todo esse processo que aconteceu no dia 20. O Ministério Público Federal ficou mais ou menos um mês preparando as duas últimas ações que deu entrada. Uma que falava dos impactos sobre as terras indígenas, e outra que falava sobre os problemas nos estudos de impacto ambiental. O <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31663">juiz</a> federal de Altamira ficou uma semana analisando os argumentos do MPF, antes de conceder essas duas liminares. Menos de três horas após receber o recurso da advocacia geral da união, o presidente do Tribunal Regional Federal cassou as liminares. Um processo que o MPF demorou um mês preparando, que o juiz federal de Altamira ficou uma semana analisando, foi cassado em menos de três horas. A afirmação do presidente é que a localização do leilão traria graves prejuízos à economia pública, entre outros argumentos. Isso nos mostra que a decisão do presidente do TRF foi política, não levando em consideração os aspectos técnicos que tanto o MPF quanto o juiz federal de Altamira levantaram no decorrer do processo. Isso aponta, infelizmente, subordinação e conivência entre o executivo, no caso do <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31539">governo</a> federal, e o servidor público do judiciário, que cassou as liminares. IHU On-Line – E como o senhor analisa o leilão de Belo Monte?Dion Monteiro – O <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31731">leilão</a>, como ocorreu, mostra exatamente todo o processo que vem acontecendo há 35 anos, se considerarmos o período da ditadura militar. O desfecho do leilão é emblemático e bem adequado para essa situação toda, porque mostra as contradições que esse processo apresenta, traz uma insegurança jurídica e técnica muito grande e uma postura autoritária do governo federal no trato com a região amazônica, dando sequência a essa relação histórica com a região. Na Amazônia, em relação aos grandes projetos, principalmente, não mudou quase nada do período da
"O leilão, para mim, é simbólico, no sentido de mostrar os grandes problemas que existem no processo de Belo Monte, a relação autoritária que o poder central tem com a região e também a insegurança desse projeto"<a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31990">ditadura</a> militar, quando Belo Monte começou a ser discutido, até hoje. A relação continua autoritária e não considera os povos e a experiência amazônica. Isso foi expresso de forma muito clara. Quem fala isso não são só os movimentos sociais, também são pessoas de outros grupos políticos, partidos, o próprio MPF e representantes do Congresso Nacional. O <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31736">leilão</a>, para mim, é simbólico, no sentido de mostrar os grandes problemas que existem no processo de Belo Monte, a relação autoritária que o poder central tem com a região e também a insegurança desse projeto.</div>
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<div align="center"><strong>IHU On-Line – Qual sua opinião sobre a não participação da Odebrecht e a Camargo Corrêa do leilão?</strong></div>
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<div align="center">Dion Monteiro – Eles se retiraram, alegando uma grande dúvida pautada nas questões econômico-financeiras, principalmente na questão do preço do megawatt-hora. São <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31867">empresas</a> com larga experiência neste processo, com interesses apenas econômicos e que estudam o projeto de Belo Monte há muito tempo. Basta lembrarmos que quando o Consórcio Nacional de Engenheiros e Construtores (CNEC) começou a estudar o projeto, em 1975, ele era ligado à Camargo Corrêa. Para uma empresa como essa, que está presente desde o início do processo, retirar-se no momento final, é porque para as empresas existem problemas sérios. Outras empresas já alegaram, como representantes da Suez, que, além da insegurança econômico-financeira, há a questão da insegurança jurídica, por conta das ações do MPF e no processo como um todo. Logicamente que as empresas vão participar ou não do processo conforme a avaliação conjuntural, econômica e política que elas fazem. Para nós, este é mais um elemento que mostra os equívocos que estão sendo cometidos no projeto de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31728">Belo Monte</a>, desde seu início até o momento.</div>
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<div align="center"><strong>IHU On-Line – Em função de Belo Monte, Altamira espera por dez mil empregos. Que impacto isso causará na cidade depois de finalizada as obras?</strong></div>
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<div align="center">Dion Monteiro – Primeiro, é interessante ver a situação de Altamira e da região do entorno. A cidade de Altamira tem aproximadamente 100 mil habitantes. O relatório de impacto ambiental, feito pela empresa contratada pelo governo, fala que cerca de 100 mil pessoas migrarão para a região. Isso significa que a população da cidade irá dobrar. Como cidade-pólo, a maioria irá se concentrar na cidade entorno de Altamira. Mesmo no pico da obra, serão gerados 40 mil <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31792">empregos</a>, entre empregos diretos e indiretos, durante dois anos, segundo o governo. Isso quer dizer que 160 mil não terão emprego na região. Na região da Amazônia, a taxa de desemprego é muito elevada, atinge, muitas vezes, 30 ou 40% da população economicamente ativa. Se a população de Altamira tem 100 mil habitantes, muito mais de 10 mil pessoas em idade produtiva estão desempregadas. Isso quer dizer que esta estimativa de 11 mil empregos para a região, mesmo que seja verdadeira, não atenderia a taxa de desemprego que já existe.
"Segundo o relatório de impacto ambiental, mais de 32 mil pessoas ficarão na região depois que a obra for concluída"Junte a isso a migração das 100 mil pessoas. Esse argumento, que é utilizado pelos interessados em construir a obra, é facilmente desconstruído quando avaliamos aprofundadamente os elementos. Outro dado interessante é que, no final da obra, só ficarão cerca de 700 empregos diretos e serão empregos de qualificação mais elevada. Segundo o relatório de impacto ambiental, mais de 32 mil pessoas ficarão na região depois que a obra for concluída. Esta relação entre quantidade de emprego gerados, migração e taxa de desemprego existente da região amazônica, mostra que os empregos prometidos de forma alguma atenderão a população da região conforme sua necessidade. Pelo contrário, aumentará os desempregos com o aumento de pessoas e não servirão para desenvolver socialmente e para garantir uma vida melhor ao pessoal da região. </div>
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<div align="center"><strong>IHU On-Line – Que análise o senhor faz da atuação do grupo Bertin, vencedor do leilão?</strong></div>
<div align="center">Dion Monteiro – Temos informações que são muito complicadas em relação à questão do grupo <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31831">Bertin</a>. Sabemos que o grupo responde a processos ambientais, trabalhistas e outros em quatro estados diferentes. Se não me engano, responde a processos no Pará, no Tocantins, em São Paulo e no Mato Grosso do Sul. Por si só essa já é uma informação muito preocupante. Fora a própria capacidade do grupo de dar conta de um projeto de tamanha envergadura. Primeiro a competência técnica, financeira e econômica do grupo já levanta uma questão preocupante, mas, principalmente, a grande quantidade de processos que esse grupo responde no Brasil, em dois Estados do norte, um do centro-oeste e outro do sudeste. A questão ambiental é algo mais complicado ainda. A empresa responde processos por questões ambientais e trabalhistas e estará em uma obra que vai afetar, evidentemente, o meio ambiente, que vai impactá-lo de forma intensa. Isso além da quantidade de trabalhadores que serão deslocados para as atividades. Para nós, essa <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31794">empresa</a> é muito preocupante, especialmente por seu conjunto.</div>
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<div align="center"><strong>IHU On-Line – Em sua opinião, quais serão os próximos capítulos de Belo Monte?</strong></div>
<div align="center">Dion Monteiro – Depois da realização do leilão, o governo vai tentar validar as empresas, vai emitir posteriormente a licença de instalação e de operação. Porém, para nós, seja dos movimentos sociais, dos pesquisadores que têm desenvolvido trabalhos importantíssimos, quanto para o MPF, que já se manifestou em relação a essa questão, esses processos mais burocráticos e administrativos não definem a resistência, a forma de atuação e os passos que vamos dar. Independente da realização do leilão, da emissão das licenças, nossa luta política de denúncia, de divulgação dos problemas no Brasil e fora dele e as nossas ações judiciais levando para os tribunais internacionais, seja para a ONU, para a OEA, OIT e para outros tribunais, vão continuar. Na minha avaliação, os próprios passos serão uma continuação do processo que já vem sendo desenvolvido, ou seja, de denúncias, manifestações, atos políticos e públicos, realizados pelos movimentos sociais, comunidades, povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas. No campo jurídico, acompanhando e apoiando as ações do MPF, que já recorreu da suspensão das liminares, outros processos estarão sendo julgados pela justiça de Altamira, implementadas tanto pelo MPF quanto por entidades a resistência indígena vai se acentuar. </div>
<div align="center">A resistência <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=32084">indígena</a> também vai se acentuar. Os indígenas já deixaram claro que não aceitarão a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Os movimentos sociais estarão junto com as comunidades tradicionais, com os povos originários, com o MPF, os pesquisadores da academia que compreenderem que é importante desenvolver um outro modelo para a região amazônica. Acreditamos que o governo incorre um erro gravíssimo de compreensão sobre modelos de desenvolvimento. O governo ainda insiste em um modelo atrasado, considerado no mundo todo como responsável pelos graves problemas ambientais e sociais, não consegue ver além do componente econômico, e desta forma só acentua os desastres climáticos, ambientais e o ataque ao planeta.
"O governo ainda insiste em um modelo atrasado, considerado no mundo todo como responsável pelos graves problemas ambientais e sociais"Vamos continuar com nossas ações políticas, também no campo jurídico, porque defendemos outros modelos de desenvolvimento, que levam em consideração as questões ambientais, sociais, culturais, econômicas, mas que não estejam acima dos outros componentes, e sim trabalhando com eles. Vamos nos contrapor a Belo Monte, às hidrelétricas do Tapajós, que serão as outras hidrelétricas que o governo quer implementar. Acreditamos que esse modelo é ultrapassado e não serve para o planeta. Acho que minha fala explicita nossa posição em relação a Belo Monte, que não é puramente ideológica e dogmatizada. É uma posição a partir de uma ampla reflexão, feita há dezenas de anos, não começa agora. São elementos que vêm das reflexões coletivas dos <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=30981">moradores da região</a>, dos movimentos sociais, da academia, e que nos mostra que, se continuarmos seguindo neste rumo, chegaremos à insustentabilidade do planeta. O que está por trás de toda essa questão, na qual Belo Monte se mostra como o projeto que explicita essa situação, é a concepção de vida de modelos de desenvolvimento e relações econômicas, sociais, políticas, culturais e ambientais que existem onde o econômico se destaca. Acreditamos que o modelo que tenha a possibilidade de garantir a vida na Terra, em conjunto com o meio ambiente, precisa estar pautado em outra concepção de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=30936">relações sociais</a>, de produção e ambientais, onde o meio ambiente esteja no mesmo patamar das necessidades humanas. Isso é possível ser feito. Algumas experiências a partir das comunidades dos povos tradicionais e de pesquisas acadêmicas mostram que podemos superar esse modelo de desenvolvimento vigente e que podemos garantir a vida no planeta, para esta e todas as outras gerações. </div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-78765031645878973802010-05-14T16:14:00.000-07:002010-05-14T16:18:06.174-07:00Bioeconomia. Paradigma da economia contemporânea. Entrevista especial com Federico Chicchi<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgocTAUBD8dlD9xC2fzmsRAWgRuquf5y2_59Orl-NtW92UonNA41GvKMyBdsd3Ck66XzjoAO-VKPxmqiiV1WQjamX4Nifxjlms5K0WNBynSs7e045O7bor_nJDnMHolkI6bRE_WnHNJX6Wf/s1600/BIOECONOMIA.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5471268949308714722" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 293px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgocTAUBD8dlD9xC2fzmsRAWgRuquf5y2_59Orl-NtW92UonNA41GvKMyBdsd3Ck66XzjoAO-VKPxmqiiV1WQjamX4Nifxjlms5K0WNBynSs7e045O7bor_nJDnMHolkI6bRE_WnHNJX6Wf/s400/BIOECONOMIA.jpg" border="0" /></a> <strong><span style="font-size:130%;">Na entrevista que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line, Federico Chicchi se debruça sobre o conceito de bioeconomia, que, para ele, refere-se “ao processo de captura da vida e à produção da própria vida no interior das regras do ‘discurso’ econômico. Em outras palavras: o econômico pretenderia, no capitalismo biopolítico, colocar-se como única textura possível do Sentido e, paradoxalmente, como uma espécie de fundo antropológico originário”. </span></strong>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">O professor continua sua explicação, afirmando que “a bioeconomia (desta vez entendida como paradigma da economia contemporânea) introduz um verdadeiro e próprio efeito perturbador, porque nos mostra e desvela, sobretudo em suas mais recentes aplicações técnicas, a própria vida, o bios, o que é comum por definição, como uma mercadoria de todo contingente e agora, sob o impulso (ir)racional das paixões aquisitivas, exposta sem mais mediações ao risco das mais impensáveis coisificações / alterações / utilizações”.
</span></strong>E, ao refletir sobre o mundo do trabalho neste novo cenário, Federico Chicchi percebe que “nas teorias da modernidade industrial não é suficientemente tematizado nem compreendido o papel crescente do lado imaterial do trabalho (o cognitivo, intelectual, afetivo, emotivo, simbólico, relacional etc.) que, ao invés, torna-se hegemônico e central nas fileiras contemporâneas de produção do valor”. Na sua visão, “tornam-se cada vez mais relevantes, também graças às revoluções digitais, as produções sociais “de baixo”, as redes cooperativas, as fileiras sem centro hierarquicamente definido, os territórios, os saberes locais, e as ecologias que estão em condições de se auto-organizar para a produção de riqueza e de semânticas sociais”.
Federico Chicchi é professor de Sociologia do processo econômico e do trabalho na Faculdade de Ciência Política da Universidade de Bologna, Itália. É graduado em Ciência Política e doutor em Sociologia e Política Social pela Universidade de Bologna.
Confira a entrevista. </div>
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<strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line - O senhor afirma que uma análise eficaz do capitalismo contemporâneo deve ser colocada para além do paradigma da economia política sugerida pelos autores clássicos. Pode explicar por quê?
</span></strong>Federico Chicchi - No que se refere ao papel que a disciplina econômica clássica pode desempenhar na compreensão dos processos contemporâneos de produção, minha opinião é clara: os seus paradigmas se tornaram heuristicamente (e politicamente) insuficientes, porque o cenário econômico e social contemporâneo se reproduz através de processos no interior dos quais os principais construtos teóricos clássicos (lucro/renda, trabalho produtivo/improdutivo, capital constante/capital variável, salário/rendimento etc.) são caracterizados por inéditas porosidades e coalescências recíprocas, que tornam sua utilização analítica pelo menos complicada. Os esquemas conceituais da economia clássica são, de fato, o resultado teórico da análise de uma modalidade de organizar a acumulação de capital que hoje não mais se apresenta como prevalente e hegemônica (nem em termos objetivos, nem em termos subjetivos).
Além disso, de um ponto de vista metodológico, parece-me importante sublinhar – como nos convidava a fazer Claudio Napoleoni (1), um dos mais importantes economistas marxistas italianos do século passado – o modo como os paradigmas econômicos (clássicos e neoclássicos) tendem a representar os fenômenos escolhidos segundo sua competência direta, dentro de modelos demasiado rígidos, estáticos e simplificados, perdendo, deste modo, quase de todo, sua intrínseca (e hoje sempre mais intensa) dinamicidade, interna às relações entre processos de produção e relações sociais de produção.
Creio, portanto, que, na análise do presente, é preciso absolutamente dotar-nos de paradigmas novos – que devem, em primeiro lugar, aceitar o ônus do desbalanceamento transdisciplinar – para tematizar de modo eficaz as modalidades através das quais o valor se produz hoje em relação aos novos dispositivos de poder/saber de cunho governamental (em sentido foucaultiano, naturalmente).
Além disso, não é possível evitar que hoje se considere ser preciso sempre empenhar-se mais na fundação teórica de uma nova teoria do desfrute, para que ela seja adequada às profundas mudanças sociais, econômicas e culturais em curso. E, para andar nesta direção, a teoria marxiana do mais-valor continua como ponto de partida e ponto de articulação filosoficamente irrenunciável; insuficiente, portanto, mas não contornável. </div>
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<strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line - Por que as categorias interpretativas da sociedade industrial são insuficientes para se compreender a mutação do capital em curso?
</span></strong>Federico Chicchi - Creio ser necessário sublinhar o modo pelo qual hoje está em andamento uma passagem a uma nova época que, por comodidade, chamaremos de pós-moderna, na qual as categorias conceituais de análise da sociedade industrial encontram pouca e escassa legitimidade. Por exemplo, nas teorias da modernidade industrial não é suficientemente tematizado nem compreendido o papel crescente do lado imaterial do trabalho (o cognitivo, intelectual, afetivo, emotivo, simbólico, relacional etc.) que, ao invés, torna-se hegemônico e central nas fileiras contemporâneas de produção do valor. Além disso, os “objetos” sobre os quais a análise econômica sobre a sociedade industrial se afirmava eram os mais confinados e realizados no interior dos muros da fábrica (a grande empresa industrial). E agora se tornam cada vez mais relevantes, também graças às revoluções digitais, as produções sociais “de baixo”, as redes cooperativas, as fileiras sem centro hierarquicamente definido, os territórios, os saberes locais, e as ecologias que estão em condições de se auto-organizar para a produção de riqueza e de semânticas sociais. </div>
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<strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line – O que podemos entender por bioeconomia?
</span></strong>Federico Chicchi - A bioeconomia é, a meu ver, um grande e irrenunciável desafio teórico. Na Itália, muitos autores (como o próprio <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31992">Andrea Fumagalli</a>, que organizou o volume sobre a Crise Global (2) )estão trabalhando sobre a possibilidade de ler o capitalismo cognitivo dentro do “registro” bioeconômico. Em primeiro lugar, é preciso especificar que a bioeconomia (entendida neste sentido como um paradigma interpretativo) de fato não circunscreve um campo de formações discursivas internas à esfera econômica. A bioeconomia constrói realmente o seu sujeito, e não pode deixar de fazê-lo, na jamais saturada tensão entre economia e política.
Em outras palavras: raciocinar em termos bioeconômicos nos impele ao interior daquele lugar onde a síntese entre o econômico e o político se demonstra sem solução de uma vez por todas; isto é, que deve ser continuamente gerenciada e organizada, ou, numa palavra: governada. Neste sentido, e, a partir disso, a bioeconomia emerge da crescente vocação da economia contemporânea em recusar todo espaço de mediação de seu código operativo, ou seja, a inscrever-se sem exclusões significativas no próprio ponto no qual a vida mostra sua insurgência subjetiva e valorizadora, a tornar-se, portanto, consubstancial à potência intrínseca do vivente, imanente à própria vida. A bioeconomia refere-se, portanto, ao processo de captura da vida e à produção da própria vida no interior das regras do “discurso” econômico. Em outras palavras: o econômico pretenderia, no capitalismo biopolítico, colocar-se como única textura possível do Sentido e, paradoxalmente, como uma espécie de fundo antropológico originário.
A bioeconomia (desta vez entendida como paradigma da economia contemporânea) introduz, portanto, um verdadeiro e próprio efeito perturbador, porque nos mostra e desvela, sobretudo em suas mais recentes aplicações técnicas, a própria vida, o bios, o que é comum por definição, como uma mercadoria de todo contingente e agora, sob o impulso (ir)racional das paixões aquisitivas, exposta sem mais mediações ao risco das mais impensáveis coisificações / alterações / utilizações. </div>
<div align="center">Além disso, o modo pelo qual se realiza o circuito do valor bioeconômico (a vida expressa em valor), implica novas coordenadas e novas modalidades de configuração das relações sociais de produção e de sua programática de poder. Desta maneira, se põe radicalmente em discussão (até quase invertê-la) a função de ordem da política, assim como tinha sido argumentada pelos clássicos da filosofia moderna (Hobbes (2), mais do que todos). A bioeconomia de fato também é descritível através de inéditos dispositivos de apropriação proprietária do valor (de desfrutamento biopolítico, portanto) que se complementam e interseccionam, representando um peso sempre mais relevante, com as precedentes práticas disciplinares ou anátomo-políticas, sem, no entanto, jamais torná-las de todo residuais. O resultado de tal complexo, e, sob certos aspectos, acéfalo aparelho de captura, é declinável e melhor descritível, em primeiro lugar, fazendo referência, como já dizíamos, aos delineamentos da foucaultiana prática governamental.
E, por último, mas não menos importante, é preciso sublinhar o modo como o bioeconômico gerenciamento das vidas que daí deriva se refere aos dispositivos de captura e tradução da “potência” do bios e de sua capacidade de se auto-organizar no interior dos atuais processos de acumulação. Para dizê-lo com as palavras de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=24455">Andrea Fumagalli</a>, “por bioeconomia, entendemos aquele processo que procura subsumir realmente (e não só formalmente) o inteiro agir humano para fins de acumulação” (FUMAGALLI, 2005, p. 41). Neste sentido, a bioeconomia necessita, a nosso ver, também uma nova sintaxe do desfrutamento, a ser entendida não mais unicamente como atividade de arbitrário entretenimento de um adicional ou excedente, mas também como persuasivo e, em geral, consensual atividade de produção e disposição da vida na cifra do útil, através de sua estruturação em mercadoria e através da regulação mercantilista e proprietária de seu “valor” intrínseco. Eis que mais-valor, mais-gozo (em sentido lacaniano) e mais-vida se interseccionam num abraço tão invasivo quanto circulatório, dando vida a uma espiral inédita de valorização. </div>
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<strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line - Quais são as principais características que o trabalho assume na bioeconomia?
</span></strong>Federico Chicchi - Em primeiro lugar, é necessário destacar que o trabalho, na bioeconomia, está perdendo muitas das características que assumiu no interior da assim dita sociedade salarial. A prática laboral de uma parte cada vez maior de pessoas de fato, hoje, já não tem mais a ver com a execução passiva e hétero-dirigida de operações, mas sim com o tratamento de informações e conhecimentos, com o investimento da própria subjetividade em relações de trabalho e/ou com o desenvolver inovações de produtos e de processo.
Em outras palavras, a importância da atividade produtiva “rotineira” e do trabalho material, que consiste em transformar a matéria-prima através da ajuda de instrumentos e de máquinas, também materiais, diminui em favor de um novo paradigma do trabalho contemporâneo mais intelectual, imaterial e relacional. Para ser eficiente e apetecível, o trabalho deve hoje fazer-se de fato empreendedor, capaz de contribuir à solução (segundo as competências e em diferentes níveis de responsabilidade) dos problemas que uma atividade de empresa encontra em seu acidentado caminho competitivo.
Naturalmente, esta transformação está ligada a uma causa “estrutural” que é tida em alta consideração, ou seja: ela tem a ver com a transformação do saber-poder capitalista, que tem como objetivo irrenunciável e transversal em cada fase de sua evolução histórica, sob pena de sua crise irreversível, a produção de um excedente, de um extra a incorporar no interior de sua “obsessiva” dinâmica econômica de valorização. De fato, somente a inovação e a criatividade, não dedutíveis do existente, podem salvar o sistema da estagnação e da superprodução. Para garantir tal efeito, é a própria estrutura do comando do capital sobre o trabalho que vem modificar-se radicalmente, mudando os seus princípios de funcionamento: o que hoje é requerido é uma espécie de cooperação da parte de quem trabalha e que não se promove somente através da repressão e da passividade, mas através da estimulação do eu desejoso e daqueles caracteres pessoais que, no esquema da relação salarial tradicional, não eram significativos.
Hoje são a inteira produtividade do homem, sua fantasia, sua imaginação, sua sociabilidade, seu papel inovador e maleável às circunstâncias que são necessários. Ultrapassam, portanto, os contratos coletivos; e a relação com a empresa se personaliza através de incentivos especiais, férias-prêmio etc.
A perda de centralidade do trabalho assalariado, o progressivo tornar-se autônomo (auto-organizado), descentralizado e reticular da cooperação social, e o instaurar-se na relação entre capital e trabalho de uma norma sempre mais individualizada, traz consigo outra transformação econômica e social fundamental do trabalho que é central e imprescindível para reconstruir o sentido do nosso presente percurso interpretativo: o trabalho se apresenta hoje, ao mesmo tempo, no interior da empresa, mas contemporaneamente se organiza cada vez mais fora dela. Isto, no entanto, também significa que os limites tradicionais do trabalho (aqueles da competência profissional) tendem a tornar-se sempre mais porosos para acabar invadindo – com as lógicas instrumentais que lhe são consubstanciais – aqueles espaços de vida (antes ditos reprodutivos) que eram, num certo sentido, impermeáveis, porque eram considerados improdutivos, e não diretamente desfrutáveis para fins econômicos. Em outras palavras: o modo pelo qual o capital conseguiu aumentar a produtividade, a partir de um trabalho necessário (em sentido marxiano) e reduzido ao mínimo de automação e de informatização, foi aquele de sair da relação salarial, apropriando-se de toda uma série de atividades reprodutivas cujo contributo à valorização do capital permite liberar-se dos limites que a relação salarial coloca aos aumentos de produtividade. </div>
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<strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line - O conceito de multidão proposto por Negri como resistência ao novo capitalismo lhe parece oportuno? Como o senhor interpreta esse conceito?
</span></strong>Federico Chicchi - O conceito de multidão na organização das práticas de resistência e subtração do trabalho-vivo ao desfrutamento de parte do capitalismo bioeconômico é, a meu ver, um conceito tão necessário quanto insuficiente. Necessário, porque sublinha e capta atual impossibilidade de recompor as lutas revolucionárias dentro de uma lógica “sintética” que reduza sempre e, em geral, todas as suas expressões subjetivas ao Uno. A multiplicidade ou, se quisermos chamá-la diversamente a diferença que descreve a multidão como espaço de ação das diversas singularidades é, certamente, uma instância por si revolucionária, que permite exercitar uma incessante liberação/experimentação social da criatividade autônoma e do desejar do trabalho-vivo.
A multidão interpreta e certamente descreve do melhor modo tal necessidade histórica; a forma multitudinária da luta é, de fato, hoje, a única que pode deslocar, em seu contínuo exercício de produção de excedentes éticos, o comando capitalista de tradução parasitária do fazer social no interior de uma forçosa medida proprietária da riqueza autonomamente produzida. No entanto, é, ao mesmo tempo, insuficiente porque nela mesma já não se encontram expressas e definidas aquelas formas necessárias de organização, capazes de “transferir” a um plano de “sustentabilidade” biopolítica e subjetiva as desmesuradas potencialidades produtivas que a multidão exprime numa dimensão antropológica de tipo pós-proprietário.
Por isso, o conceito de multidão, como, aliás, o próprio Negri sublinha por diversas vezes, em seus últimos trabalhos, é entretecido para se tornar politicamente eficaz, com uma prática social que se proponha como seu primeiro objetivo o de produzir “a partir de baixo” de suas novas constelações institucionais e normativas, que podemos chamar de Instituições do comum, que tornem o território habitado pelas singularidades menos escorregadio, menos instável e menos exposto à captura do capital.
Num certo sentido, e para concluir, a atividade de produção de novas instituições democráticas, a solicitar em torno da defesa dos bens comuns e da produção de espaços sociais do comum, representa o cenário no interior do qual as diferenças que animam a potência multitudinária poderia encontrar uma composição própria afirmativa e biopolítica. </div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-75887753540734534732010-05-02T14:53:00.000-07:002010-05-02T14:58:42.737-07:00A financeirização como forma de biopoder. Entrevista especial com Stefano Lucarelli<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbkpKuWWYtSdnuFpsBSJefH5w8VQKlUJwyUZzyHmlU9iV_coYNP3VOeeN3g7ZWgRIc5-ZQD4oCPPJAaZLBUWgivPO0STlxJKQ4BwCsimbMvkDxg5DPb94gL0ekZBSZq4ugPvtk4l6KNNX4/s1600/biopoder.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5466795296287614626" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 167px; CURSOR: hand; HEIGHT: 170px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbkpKuWWYtSdnuFpsBSJefH5w8VQKlUJwyUZzyHmlU9iV_coYNP3VOeeN3g7ZWgRIc5-ZQD4oCPPJAaZLBUWgivPO0STlxJKQ4BwCsimbMvkDxg5DPb94gL0ekZBSZq4ugPvtk4l6KNNX4/s400/biopoder.jpg" border="0" /></a> <strong><span style="font-size:130%;">“Considero a financeirização (o que, em primeira instância, aparece como o deslocamento da poupança das economias domésticas para os títulos de ações), como a forma de controle social necessária para que a população contribua à reprodução das formas institucionais do novo capitalismo. O biopoder não é simplesmente uma forma de controle social, mas é um conjunto de técnicas de governo que representa um investimento na vida da parte das relações de poder”.</span></strong>
<div align="center">A definição é do professor Stefano Lucarelli, em entrevista exclusiva concedida à IHU On-Line, por e-mail. E ele completa: “as técnicas, nas quais se concretiza o biopoder, mantêm certa ambiguidade: talvez se poderia dizer que os traços da sujeição e da subjetivação tendem a se sobrepor”. </div>
<div align="center">Lucarelli explica o que são os “efeitos riqueza”, e considera que os mesmos “não representam uma característica inata de todo consumidor, mas dependem da liquidez crescente que os mercados financeiros trazem. </div>
<div align="center">Os efeitos riqueza seriam então interpretados como uma transformação das relações sociais, uma característica da população que se torna objeto de biopoder. Num regime de acumulação puxado pelas finanças, o conjunto de técnicas de submissão-subjetivação se torna sempre mais incisivo, enquanto a poupança das economias domésticas é desviada para os títulos acionários. Aqui está o traço do biopoder”. Ao contextualizar o mundo do trabalho com a crise do capitalismo financeiro, Lucarelli entende que “a crise do fordismo é necessária, sobretudo ao capital, para restabelecer o seu controle sobre o trabalho e sobre a sociedade”. E continua: “Num regime de acumulação em que as finanças ditam a lei, as forças produtivas estão sujeitas a formas de controle que não se exaurem no comando direto. Para analisar estas modalidades de comando que se entrelaçam com as lógicas da produção e do consumo, a dicotomia foucaultiana sujeição/subjetivação é absolutamente decisiva”.
Stefano Lucarelli é professor no Departamento de Economia "Hyman P. Minsky" da Università degli Studi di Bergamo, Itália. Doutor em Economia Política pela Università Politecnica delle Marche, sua tese intitula-se Cicli politici elettorali e finanziamento della sanità pubblica in Italia.
Confira a entrevista.
<strong>IHU On-Line - Qual é a atualidade da categoria biopoder proposta por Foucault para se compreender as mudanças em curso no capitalismo mundial?
</strong>Stefano Lucarelli - Preciso fazer uma indispensável premissa. Não sou um especialista do pensamento de Foucault. Comecei a estudar com ele nos cursos oferecidos pelo grande pensador francês no Collège de France em 1977-78 e 1978-79, já que me despertou curiosidade e fui estimulado pelo trabalho conduzido pela rede Uninomade, que desde 2003 iniciou um percurso possível de recomposição das inteligências críticas para construir um dispositivo de autoformação e debate para pesquisadores, estudantes e ativistas de movimentos. A finalidade é acentuar a necessidade de uma ciência da transformação do presente estado de coisas. Neste projeto, as categorias propostas por Foucault parecem decisivas: não só porque se pode, de tal modo, continuar uma análise do poder capitalista que concebe o poder como campo de poderes, isto é, como um conjunto de correlações entre formas institucionais de saberes e de práticas, mas também porque o próprio Foucault coloca o problema da produção de subjetividade. Nesta nossa conversação sobre a financeirização como forma de biopoder, veremos que o principal problema a enfrentar consiste precisamente na produção de subjetividade. Nos cursos no Collège de France, Foucault se esforça por delinear as características do conceito de biopoder, uma categoria que ele havia introduzido no último capítulo de A vontade de saber, de 1976. Naquele contexto, Foucault define biopoder como uma “grande tecnologia de duas faces, anatômica e biológica, que age sobre o indivíduo e sobre a espécie”.
Nos anos subsequentes, ele procura clarear o nexo existente entre esta categoria e o paradigma neoliberal. No curso de 1977-78, ele enfrenta a gênese de um saber político que coloca no centro de suas preocupações a noção de população e os mecanismos capazes de assegurar sua regulação. A população não é simplesmente concebida como o conjunto dos “súditos de direito”, nem como um conjunto de braços destinados ao trabalho, mas como um conjunto de elementos que se conectam ao regime geral dos seres vivos e que pode funcionar como suporte de intervenções combinadas; neste contexto, biopoder é “o conjunto dos mecanismos graças aos quais os traços biológicos que caracterizam a espécie humana se tornam objeto de uma estratégia geral de poder”. Trata-se das modalidades de racionalização das técnicas de governo destinadas à “segurança”, que caracterizam o início da idade moderna: a saúde, a higiene, a natalidade, a longevidade e a raça em relação a uma população. Com o curso de 1978-79, é dado um passo em frente: Foucault estuda o modo pelo qual, a partir do século XVII, a racionalização dos problemas levantados pela prática governamental dos fenômenos que caracterizam uma população é associada ao liberalismo. A pergunta que surge é: com que regras pode ser administrado o fenômeno “população” no contexto do “liberalismo”, aqui entendido como sistema atento ao respeito dos sujeitos de direito e da liberdade de iniciativa dos indivíduos? O biopoder não é, pois, um conceito cristalizado de uma vez por todas.
O que procurei fazer na minha contribuição sobre a financeirização foi perguntar com que regras pode ser administrado o fenômeno “população” no contexto do neoliberalismo, isto é, no novo regime de acumulação rebocado pelas finanças.
Neste contexto, considero a financeirização (o que, em primeira instância, aparece como o deslocamento da poupança das economias domésticas para os títulos de ações), como a forma de controle social necessária para que a população contribua à reprodução das formas institucionais do novo capitalismo. O biopoder não é simplesmente uma forma de controle social, mas é um conjunto de técnicas de governo que representa um investimento na vida da parte das relações de poder. As técnicas, nas quais se concretiza o biopoder, mantêm certa ambiguidade: talvez se poderia dizer que os traços da sujeição e da subjetivação tendem a se sobrepor.
<strong>IHU On-Line - O senhor afirma que a financeirização da economia manifesta-se como biopoder. Como isso ocorre?
</strong>Stefano Lucarelli - Para responder a esta pergunta, é preciso recordar os principais acontecimentos que caracterizaram o capitalismo contemporâneo. Deflagrado em 1971 pela decisão unilateral dos EUA de decretar o fim dos acordos de Bretton Woods, gerando a flexibilidade no mercado cambial, e acelerado pelas políticas monetárias de Volker (1), de 1979, em concomitância com o acesso ao poder de Reagan nos EUA e de Tatcher no Reino Unido (a assim chamada contrarrevolução monetária), o regime de acumulação, que foi se afirmando no decurso dos anos 1980, tem seu motor nos mercados financeiros: a modernização salarial favorece a rentabilidade da empresa e aumenta o valor dos títulos financeiros, dos quais também dependem os fundos de pensão, os fundos de investimento, os seguros e parte das retribuições dos trabalhadores. Estes últimos, sobretudo no decurso dos anos 1990 (os anos da new economy), foram sempre mais incentivados pelos Governos, pelos próprios sindicatos e pela opinião pública, no sentido de confiar os próprios rendimentos às bolsas. Como nos deixou claro Robert Boyer (já em 2001), no modelo de crescimento que emerge, a economia real e a economia financeira estão profundamente entrelaçadas: os perfis das empresas, mas também o consumo das famílias são redes do andamento das bolsas. Sustentar os rendimentos financeiros torna-se o imperativo do manager e o horizonte de realização de muitos pequenos poupadores (endividados). A própria “cartolarização” – a transformação dos créditos bancários em atividades negociáveis - é analisada como a última etapa da profunda transformação dos sistemas financeiros, iniciada no final dos anos 1970 e relacionada com a virada da política monetária estadunidense de outubro de 1979. O consumismo, que se desenvolveu nas fases de crescimento que precederam a contrarrevolução monetarista, era incentivado pelos aumentos salariais e voltado principalmente aos bens de massa estandardizados; aquilo a que depois se assistiu é um consumismo que se manifestou acima de tudo na aquisição de estilos de vida, através do desenvolvimento da indústria cultural e do divertimento. Esta tendência é muito bem descrita nas Cartas Luteranas de Píer Paolo Pasolini (1975), onde ele reconhece a morte dos valores proletários na homologação dos comportamentos juvenis “sob o signo e a vontade da civilização do consumo”. A taxa de substituição dos “status symbol” é aumentada com o tempo, e o consumismo se tornou um fenômeno invasivo que toca os mais jovens, mas também os adultos.
Esta última fase ainda se desenvolveu num contexto de crescimento econômico, porém, no interior de um regime de acumulação finance-led, no qual o consumo não aumenta mais graças ao aumento dos salários (a quota dos salários sobre o produto total diminui), mas graças aos efeitos riqueza apoiados pelo boom das bolsas, num mundo em que parte das retribuições em contracheque (as stock options), os salários diferidos (os fundos de pensão) e as poupanças das famílias se deslocam massiçamente para as atividades financeiras. Quando o boom das bolsas perdeu a força dos anos 1990, a estrutura psicológica dos consumidores já estava comprometida. Em outros termos, os efeitos riqueza não representam uma característica inata de todo consumidor, mas dependem da liquidez crescente que os mercados financeiros trazem. Os efeitos riqueza seriam então interpretados como uma transformação das relações sociais, uma característica da população que se torna objeto de biopoder. Num regime de acumulação puxado pelas finanças, o conjunto de técnicas de submissão-subjetivação se torna sempre mais incisivo, enquanto a poupança das economias domésticas é desviada para os títulos acionários. Aqui está o traço do biopoder.
Devo acrescentar que a financeirização não se exaure somente na mudança dos comportamentos dos consumidores-poupadores. Também as lógicas inerentes aos investimentos das empresas se modificaram. O dinamismo da economia americana, durante os anos 1990, nos setores das tecnologias de informação e comunicação (TIC) e das biotecnologias e seus efeitos invasivos sobre os setores tradicionais da economia, procede paralelamente à difusão de novas tipologias de mercados financeiros especializados na mercantilização dos direitos de propriedade intelectual - IPR (International Property Rights): o NASD (National Associaton of Security Dealers) Regulation, de 1984, que introduz a possibilidade de valorizar os intangíveis (compostos prevalentemente de IPR) como vozes do ativo no balanço das empresas; a constituição do Nasdaq National Market: a modificação da lei sobre os fundos de pensão, de modo a permitir enormes fluxos de liquidez diante de empresas em déficit, mas de alta rentabilidade, levando em conta o potencial dos intangibile assets. A complementaridade entre mercados financeiros e o IPR foi o coração pulsante da new economy e representa a origem do superinvestimento, favorecido pela política das baixas taxas de interesse do Fundo Europeu de Desenvolvimento (FED). A dinâmica dos investimentos privados como cota do PIB mostra que, entre 1992 e 2001, os investimentos privados aumentaram progressivamente, para depois despencar entre 2002 e 2003 (Flow of funds of the United States, 6 de dezembro de 2007). As raízes da crise desencadeada em 2007 devem ser buscadas nos anos da new economy. A crise brota do excesso de investimento nas novas tecnologias da informação e da comunicação e da exaustão das oportunidades de lucro oferecidas pelas novas tecnologias. Transferida e contida principalmente pela política monetária, a bolha enfim explodiu.
<strong>IHU On-Line - Que características assumem o trabalho na atual fase de expansão do capitalismo financeiro?
</strong>Stefano Lucarelli - Em primeira instância, pode-se dizer que o trabalho vai sempre se fragmentando mais ao longo da linha de produção, e isso põe em crise o próprio conceito de representação dos trabalhadores. A dinâmica dos mercados financeiros incide profundamente sobre as características que o trabalho assume: a partir da crise do paradigma industrial e fordista – que procede paralelamente ao abandono dos acordos de Bretton Woods – os mercados financeiros se tornam o lugar onde o processo de valorização, próprio de uma nova divisão internacional do trabalho, encontra uma (des)medida; uma medida sujeita às convenções financeiras. As convenções financeiras que se sucederam de 1993 até hoje e que puseram sob xeque-mate as políticas monetárias dos Bancos Centrais, afirmam-se no interior de um mesmo paradigma tecnológico, no qual o trabalho se atomiza. A recomposição de classe da multiplicidade dos vetores produtivos se complica. Como sustenta, por exemplo, <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=24044">Carlo Vercellone</a>, a figura do trabalho cognitivo assume particular relevância. No entanto, não creio que a definição de trabalho seja simples. É dificilmente contestável o que escrevia Adam Smith em 1776: “não os recursos naturais, mas o trabalho desenvolvido num ano é a base da qual cada nação extrai todas as coisas necessárias e cômodas da vida que consome num ano”.
Todavia, é difícil compreender realmente em que consistiria hoje a divisão do trabalho. Esta de fato mudou, tanto em escala nacional como em escala mundial, e a crise do fordismo é o sinal desta mudança. A crise do fordismo é necessária, sobretudo ao capital, para restabelecer o seu controle sobre o trabalho e sobre a sociedade. Num belo romance de 1989, que Paolo Volponi dedica a Adriano Olivetti, As moscas do capital, as plantas de fícus falam com um terminal de computador. Fícus e computador são expressões daquele poder industrial que decide sobre a divisão do trabalho. A diferença é que os primeiros pertencem ao mundo fordista em plena crise, enquanto o segundo representa o que há de vir. Dizem os fícus: “Somos a criativa cultura industrial. Não temos mais ligações com a natureza e os climas ancestrais; nada nos inibe e nos condiciona. Temos o espírito e o metabolismo da empresa. Os dirigentes olham para nós para pensar e decidir”. Mas, o terminal é cínico e impiedoso na consciência das novas regras que vão se afirmando: “Sois o sinal de uma estação da indústria: plantas nanicas de relações humanas. Mas, hoje não é mais a época das “human relations”. Vocês não servem às automações, às “joint ventures”, aos contratos; não influís sobre os custos, nem sobre os lucros. Ainda sois projetados sobre a tratativa, sobre as mediações segundo as infiltrações político-sociais e também sentimentais. Não sois sequer patrimoniais, conversíveis, fracionáveis e não podeis adaptar-vos à velocidade do capitalismo hodierno, nem favorecer sua abstração. Ainda sois verdadeiros e até vivos”. O desafio dos fícus que, num ímpeto de raiva gritam ao computador que ele é construído para a negação da indústria e de sua cultura e não tem nenhuma função gerencial, é sancionada pelas seguintes afirmações: “O que ainda conta um dirigente?
Atualmente é só o seu substantivo que corre entre os meus fluxos, codificado com um relevo e um cargo não muito relevante. Ainda devo explicar-vos que não há mais partes? Que agora só existem os programas e o sistema que eu posso estabelecer e desenvolver? Só conta o que eu introduzo, codifico, coleto, calculo, transmito. Todo o resto está fora, também os implantes da energia às sociedades de todo tipo, as pessoas físicas e jurídicas, que são somente um material; figuras e volumes do passado que eu, a meu bel prazer, posso introduzir no presente e desenvolver no futuro”. As empresas, uma vez reorganizado o trabalho pelo desfrute das descobertas da informática, pretendem encurtar o tempo necessário à obtenção dos lucros, sendo que toda mediação é abolida. Vale a pena relembrar precisamente a história de Paolo Volponi, humanista, ex-dirigente da Olivetti, assumido pela Fiat e licenciado após menos de três meses, a poucas horas da aparição, na Unidade, de sua declaração de voto comunista para as eleições de 1975.
Na Itália, após a reestruturação tecnológica dos anos 1980 e após o abandono de boa parte da cultura industrial italiana, os trabalhadores se apresentam fragmentados, apavorados e incapazes de promover um conflito nas formas clássicas. No entanto, ainda há os mortos no lugar de trabalho, há as nocividades (físicas e mentais) que caracterizam a produção e que atingem os trabalhadores e o contexto social no qual a produção ocorre. E se multiplicam profissões que comportam um prolongamento não certificado da jornada laboral. Emergem até novas modalidades de conflito, mas estas investem sempre mais nas relações externas à fábrica, aqui entendida como o lugar tradicional da produção. Num regime de acumulação em que as finanças ditam a lei, as forças produtivas estão sujeitas a formas de controle que não se exaurem no comando direto. Para analisar estas modalidades de comando que se entrelaçam com as lógicas da produção e do consumo, a dicotomia foucaultiana sujeição/subjetivação é absolutamente decisiva.
<strong>IHU On-Line - O senhor afirma que “a construção de uma biopolítica é determinante para o próprio funcionamento da financeirização como forma de biopoder”. Como isso se manifesta na sociedade do trabalho?
</strong>Stefano Lucarelli - O capitalismo contemporâneo funciona através de dispositivos de sujeição-subjetivação. A produção de subjetividades resistentes pode ser paradoxalmente funcional a este regime de acumulação. Para se reproduzir, o capitalismo deve renovar-se e o faz sugando a linfa vital à população, que ele deixa viver. Basta pensar no debate atual sobre a green economy: o pensamento ecológico e a pesquisa política e de engenharia, que são dele derivadas, representam exatamente a base sobre a qual os mercados financeiros podem voltar a crescer. Subjetivação e submissão procedem pari passo, e por isso a construção de uma biopolítica pode ser determinante para o conjunto de técnicas que definem o biopoder.
<strong>IHU On-Line - A “biopolítica” apresenta-se como resistência ao “biopoder”. Como isso é perceptível nas novas resistências de exploração ao capital?
</strong>Stefano Lucarelli - Seguindo uma sugestão presente nos escritos de Toni Negri (2) e de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19140">Judith Revel</a>(3), se pode definir a biopolítica como um poder constituinte. A construção de instâncias constituintes, em condições de não serem logo reabsorvidas nas relações capitalistas, é questão complexa. Numa discussão sobre as formas de resistência ao biopoder, é importante questionar-se por que o fordismo tenha entrado em crise. Com ele, entra em crise também uma forma particular da sociedade do trabalho (para usar a terminologia que me propus). Isso pode ajudar a compreender o ponto de um romance nascido na Itália, Vogliamo tutto [Queremos tudo] de Nanni Balestrino (1971) (4) Neste romance, emerge o fato de que os direitos dos trabalhadores não se conquistam somente graças a uma carta constitucional: as lutas operárias de 1969, na Itália, são necessárias a fim de que se chegue a um Estatuto dos trabalhadores (1970). Porém, há mais: a composição de uma classe que possa ser reconhecida nessas lutas é animada pelo ódio nos confrontos do trabalho de fábrica: “E nós éramos verdadeiramente todos a mesma coisa... a coisa que não tinha diferença era a nossa vontade, a nossa lógica, a nossa descoberta que o trabalho é o único inimigo e a única doença. Era o ódio que todos tínhamos por este trabalho e pelos patrões que nos obrigavam a fazê-lo. Era por isso que todos estávamos enfurecidos, e era por isso que, quando não fazíamos greve, entrávamos em benefício. Tudo isso para evitar aquela prisão onde nos tiravam a nossa liberdade e a nossa força todos os dias. Estes pensamentos, que eu tinha há muito tempo por minha conta, eu finalmente via que eram o que todos pensavam e diziam. E as lutas, que até então eu fazia por iniciativa própria contra o trabalho, acabei vendo que eram as lutas que todos nós podíamos fazer juntos e assim vencê-las.”
Um novo modo de regulação
Este nível de conflito produz direitos efetivos porque compele as instituições democráticas a definirem um modo de regulação à altura das reivindicações dos operários e da sociedade. Hoje, a composição de classe narrada por Balestrino não existe: quando se olha somente ao mundo do trabalho, emergem, em todo o caso, significativos episódios de luta (penso nas novas formas de luta que fizeram notícia em setembro passado na Itália) que falam tanto da debilidade quanto da força dos trabalhadores: os trabalhadores são débeis porque sofrem a fragmentação da produção e são desambientados ante a mobilidade dos capitais, sob os quais o regime de acumulação contemporâneo se estrutura. Os trabalhadores tentam reconhecer-se entre si, tentam conceber-se como um grupo de interesses coeso. Os trabalhadores são indivíduos explorados, e o são quando trabalham ou quando não trabalham. Por exemplo, o caso INNSE nos mostra a força que há na subjetividade no momento em que organizam a luta, no momento em que põem em ação a própria inteligência, indo combater aqueles aspectos da produção capitalista que prejudicam os interesses do capital. Um importante sociólogo do trabalho italiano, <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=27185">Luciano Gallino</a>, escreveu que extrair indicações de caráter geral do caso INNSE parece uma temeridade. Todavia, o entrincheiramento de poucos operários sob altas estruturas, com o apoio de outros trabalhadores, e a solidariedade de quem se sente partícipe do sentido de desespero e de coragem daqueles operários, atinge um dos pontos nevrálgicos do novo capitalismo: a mídia, os processos informativos que assumiram um papel sempre mais incisivo na valorização de uma atividade produtiva qualquer. Com seu gesto, ditado por um lúcido desespero, os operários revelaram que uma fábrica em condições de saúde teria sido fechada para extrair algo útil do encerramento. São os interesses imobiliários, a cessão dos setores empresariais, as reestruturações, as operações de Mergers & Acquisitions que caracterizam este capitalismo. Ante estas novas lógicas (financeiras) de maximização dos úteis de empresa, facilitadas pelas irresponsabilidades dos governos e dos sindicatos que aceitaram o enfraquecimento dos direitos dos trabalhadores, é preciso repensar as formas do conflito. Foi sempre Gallino que teve a honestidade de relatar as palavras de um operário do INNSE que, nos microfones da Rádio Popular, dialogava com outro operário da CIM de Marcellina: “O velho tipo de luta, a paralisação, não funciona mais. É preciso utilizar outras formas de luta”. Palavras que, em alguns âmbitos de movimentos (penso nos precários que organizam a Euro May Day Parade) são difundidas há tempo.
O conflito pode retornar, se se desenvolve uma coesão entre aqueles que sofrem a crise e se reassume a consciência que a luta paga. Permitam-me, uma vez mais, recorrer à literatura. Vasco Pratolini contou em Metello a longa greve que, no início do século 20, paralisou os canteiros de obras de Florença: “O grevista é um trabalhador que tomou consciência de sua condição de explorado e deliberadamente enfrenta a luta e sacrifícios cada vez maiores, onde reivindicar os seus direitos. Todas estas palavras são verdadeiras no momento da ação, mas depois? Quando uma paralisação se arrasta, como crescem as dificuldades, crescem as tentações. Durante uma greve, trata-se de resistir, isto é, de esperar”. As mesmas palavras valem também quando a luta assume uma forma diversa da paralisação. Hoje, no meu ponto de vista, as reivindicações do mundo do trabalho e as reivindicações no terreno das políticas sociais deveriam proceder conjuntamente.
<strong>Notas:
</strong>1.- Paul Adolph Volcker (1927): economista americano. Desde fevereiro de 2009, é presidente do Conselho Consultivo de Recuperação Econômica do presidente Barack Obama.
2.- Antonio Negri (1933): filósofo político e moral italiano. Durante a adolescência foi militante da Juventude Italiana de Ação Católica, como Umberto Eco e outros intelectuais italianos. Em 2000 publica o livro-manifesto Império (5ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003), com Michael Hardt. Atualmente, após a suspensão de todas as acusações contra ele, definitivamente liberado, ele vive entre Paris e Veneza, escreve para revistas e jornais do mundo inteiro e publicou recentemente Multidão. Guerra e democracia na era do império (Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2005), também com Michael Hardt. Sobre essa obra, publicamos um artigo de Marco Bascetta na 125ª edição da IHU On-Line, de 29-11-2004.
3.- Marie Judith Revel (1966): filósofa francesa, é professora da Universidade de Roma - La Sapienza e colaboradora no Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universiade de Consenza e do Centro Michel Foucault (Paris). Suas pesquisas abordam o pensamento francês contemporâneo, particularmente a obra de Michel Foucault. Foi diretora da edição italiana dos Ditos e Escritos de Foucault (Feltrinelli, 1996-1998).
4.- Nanni Balestrini (1935): poeta e escritor italiano.</div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-88673208877653730842010-04-12T05:36:00.000-07:002010-04-12T05:41:48.496-07:00O valor da biodiversidade brasileira é maior que todo o PIB. Entrevista especial com Roberto Gomes de Souza Berlinck<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqZJrRKgWddQU-vSdcN67sOv2qUzEyR_9Gg6f7BZiUzzYq40OXQXd2fYO9t3uHsMldbts_XZfdVIk2D95X1RFSAT1rtHrC7MnNBss6tTI1sScAngKJoozZZ1xueowX_QBAsHZTY3z8OAjU/s1600/BIODIVERSIDADE+DO+BRASIL.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5459229912055710354" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqZJrRKgWddQU-vSdcN67sOv2qUzEyR_9Gg6f7BZiUzzYq40OXQXd2fYO9t3uHsMldbts_XZfdVIk2D95X1RFSAT1rtHrC7MnNBss6tTI1sScAngKJoozZZ1xueowX_QBAsHZTY3z8OAjU/s400/BIODIVERSIDADE+DO+BRASIL.jpg" border="0" /></a> <strong><span style="font-size:130%;">“A biodiversidade que hoje conhecemos (pelo menos em parte) no nosso planeta é o fruto de 3,5 bilhões de anos de evolução biológica através dos processos de seleção natural. Foi este processo, ao longo de todo este tempo, que levou ao surgimento de todas as espécies biológicas conhecidas (e ainda não conhecidas)”. A definição é do professor e pesquisador Roberto Berlinck, em entrevista concedida, por e-mail, para a IHU On-Line. </span></strong>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">Ele enfatiza que a espécie humana faz parte da biodiversidade do planeta, mas que nenhuma outra espécie viva da Terra depende dos humanos. “Se a espécie humana for extinta, por qualquer razão, provavelmente a maioria das outras espécies vivas continuarão a existir, como bactérias, fungos, cianobactérias, plantas e animais. A espécie humana deixaria de existir muito antes que as espécies vegetais desaparecessem por completo”, argumenta. Para Berlinck, “as sementes constituem a fonte de informação e de geração de vida de diversas espécies vegetais. Com a perda da biodiversidade, espécies vegetais estão desaparecendo porque não conseguem se reproduzir”.
</span></strong>Roberto Gomes de Souza Berlinck possui graduação em Química pela Universidade Estadual de Campinas e doutorado em Ciências (Química Orgânica) pela Université Libre de Bruxelles. Atualmente é professor no Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP).
<strong>Confira a entrevista.</strong></div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line - Quais as principais características que diferenciam a biodiversidade marinha e terrestre?</strong></div>
<div align="center">Roberto Berlinck - A biodiversidade marinha e terrestre é fundamentalmente diferente por um motivo simples: o meio marinho é aquoso, salino e, em função da profundidade onde os organismos vivos são encontrados, estes estão sob uma pressão muito grande (em termos de pressão atmosférica). Já os organismos terrestres vivem em um ambiente aéreo, constituído principalmente por nitrogênio (N2, 70% da atmosfera), intensa radiação luminosa e com fortes correntes de ar. Tais características ambientais fizeram com que as espécies terrestres e marinhas adquirissem características muito diferentes ao longo da evolução biológica. Por exemplo, as espécies de animais marinhos tiveram que desenvolver mecanismos para utilizar oxigênio dissolvido na água do mar. Já as espécies terrestres tiveram que desenvolver mecanismos para tolerar uma alta concentração de oxigênio no ambiente em que vivem. As espécies marinhas também tiveram que desenvolver maneiras de tolerar uma significativa concentração de sais no seu ambiente, o que não ocorre no ambiente terrestre. Desta forma, as espécies marinhas apresentam características anatômicas e fisiológicas inexistentes nas espécies terrestres. Por exemplo, vários tunicados (invertebrados marinhos) têm, em seu sangue, átomos de vanádio, um metal relativamente raro, que não ocorre na maioria dos organismos terrestres. Por outro lado, muitos insetos utilizam substâncias químicas voláteis, que se dispersam no ar, para se comunicar, o que não ocorre no ambiente marinho.</div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line - Como entender a disparidade do número de espécies entre ambiente terrestre e marinho? O que provocou esse fenômeno? </strong></div>
<div align="center">Roberto Berlinck - A resposta a esta pergunta não é simples. Recentemente foi publicado um artigo na revista científica Science que discute exatamente esta questão. O artigo foi comentado no meu <a href="http://bit.ly/c10pc4" target="_blank">blog</a>, Química Viva, e a ideia que os autores do artigo apresentam é que a biodiversidade marinha é muito menor do que a biodiversidade terrestre, quando se considera o número de espécies nos dois ambientes. O levantamento mostra que de cada 10 espécies biológicas, nove situam-se em ambiente terrestre. Tal distribuição é relativamente recente, uma vez que, há 400 milhões de anos, a predominância era de espécies marinhas. Contudo, há cerca de 110 milhões de anos, as plantas terrestres começaram a sofrer um intenso processo de especiação (surgimento de novas espécies), bem como seus respectivos agentes polinizadores, micro-organismos associados e herbívoros predadores. Com a “explosão” das plantas floríferas há cerca de 110 milhões de anos, estas ocuparam praticamente todos os ambientes terrestres onde podiam se desenvolver. Como a dispersão das espécies pelo ar é muito mais rápida e pode atingir longas distâncias, o surgimento de um número excepcional de espécies terrestres foi muito favorecido.
Sendo a dispersão no meio marinho muito mais difícil, as espécies marinhas tendem a viver de forma aglutinada, formando comunidades de alta densidade populacional – os recifes de corais. As espécies que vivem intimamente associadas aos recifes de corais se tornam particularmente vulneráveis a doenças, predação e fatores ambientais, como aquecimento e ocorrência de desastres como maremotos e furacões. Tais fatos já foram extensivamente observados nos corais da região caribenha e das Bahamas. Os corais destas regiões estão continuamente expostos a enormes furacões que movimentam as águas oceânicas de maneira extremamente agressiva, deixando um enorme rastro de destruição de corais e suas espécies associadas. São necessárias décadas para que tais recifes voltem a apresentar suas características originais. O mesmo vale para corais da Grande Barreira de Corais da Austrália, que sofrem particularmente com efeito de branqueamento dos corais (morte de zooxantelas e outras cianobactérias) em decorrência de mudanças na temperatura da água bem como nas taxas de dissolução de dióxido de carbono na água do mar.
Outro fator que pode ter contribuído para um aumento significativo na biodiversidade terrestre é o aumento na vascularização das plantas superiores. Tal fator levou a um incremento importante na biomassa das plantas, e pode ter contribuído para a ocupação de nichos ecológicos ainda disponíveis. Em consequência, o número de espécies biológicas terrestres aumentou muito, deixando a biodiversidade marinha muito aquém em número de espécies. Vários fatores podem ter influenciado esta diferença, como a maior densidade da água quando comparada com a do ar, fazendo com que larvas de animais sejam transportadas com muito mais dificuldade no meio marinho do que no terrestre. A dissipação de calor na água é muito mais difícil, tornando os organismos marinhos mais suscetíveis a eventuais variações de temperatura. Desta forma, o ambiente terrestre seria muito mais propício para os processos adaptativos que regem o processo de evolução através da seleção natural.</div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line - Qual a importância de conhecer e preservar a biodiversidade? Ela é algo bom para quem e para o quê? </strong></div>
<div align="center">Roberto Berlinck – Atualmente, este é um tema constante nos meios de comunicação, e vale a pena enfatizar: somos parte da biodiversidade. O ser humano é um animal como qualquer outro. Não somos especiais. Fundamentalmente, as únicas diferenças entre a espécie humana e as outras espécies biológicas são a consciência e a linguagem. Tais características tornaram a espécie humana única, porém não mais importante ou melhor. Por exemplo, a maior parte da fotossíntese é realizada por microalgas oceânicas (cerca de 80-90% de toda a fotossíntese do planeta Terra é realizada no mar). O processo de fotossíntese captura dióxido de carbono e, na presença de luz e água, transforma o CO2 em matéria orgânica (glicose) e oxigênio. No meu ponto de vista, considero os organismos fotossintetizantes muito mais importantes do que a espécie humana, pois as espécies de algas e plantas que realizam a fotossíntese mantêm a vida de todas as outras espécies que dependem delas. Nenhuma outra espécie viva da Terra depende da espécie humana. Se a espécie humana for extinta, por qualquer razão, provavelmente a maioria das outras espécies vivas continuarão a existir, como bactérias, fungos, cianobactérias, plantas e animais. A espécie humana deixaria de existir muito antes que as espécies vegetais desaparecessem por completo.
A percepção da importância da biodiversidade não se reduz a preservar e conservar a natureza porque ela é boa e bela, e sim porque a vida na Terra é uma gigantesca rede de inter-relações entre animais, vegetais e micro-organismos. Se, por acaso, partes desta rede forem severamente comprometidas, toda a rede estará comprometida. Uma vez que esta rede se estabeleceu, não é possível simplesmente ignorá-la. É preciso conhecê-la, cada vez melhor, para que possamos não apenas gerar conhecimento, mas também utilizarmos a biodiversidade de várias maneiras (na produção de alimentos e medicamentos; como lazer em zoológicos, museus, aquários etc.; em pesquisa biomédica), de forma responsável e sustentada.</div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line - Qual a especificidade da biodiversidade das sementes?</strong></div>
<div align="center">Roberto Berlinck - As sementes constituem a fonte de informação e de geração de vida de diversas espécies vegetais. Com a perda da biodiversidade, espécies vegetais estão desaparecendo porque não conseguem se reproduzir. Sendo assim, a constituição de bancos de sementes vegetais (atualmente existem vários no mundo todo) é extremamente importante para melhor se conhecer a distribuição dos vegetais na Terra, como estas sementes são importantes para a disseminação de espécies vegetais dos quais dependem insetos, aves e outros animais, bem como para servir de material de referência para análise genética de diferentes tipos de plantas e também propiciar o plantio de espécies raras e nativas que se encontram em extinção.</div>
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<strong>IHU On-Line - Como relacionar a biodiversidade com o processo de evolução e seleção natural das espécies?</strong></div>
<div align="center">Roberto Berlinck - A biodiversidade que hoje conhecemos (pelo menos em parte), no nosso planeta, é o fruto de 3,5 bilhões de anos de evolução biológica através dos processos de seleção natural. Foi este processo, ao longo de todo este tempo, que levou ao surgimento de todas as espécies biológicas conhecidas (e ainda não conhecidas).</div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line - O que significa para o mundo o conhecimento de que nossa biodiversidade é tão rica? Quais as implicações da abundância da biodiversidade para os outros setores da nossa sociedade, como a economia, por exemplo? </strong></div>
<div align="center">Roberto Berlinck - Como indiquei anteriormente, a biodiversidade é a parte mais importante de uma enorme rede, extremamente complexa, que chamamos de VIDA. O fato de o Brasil ser um país denominado “megadiverso” o coloca em destaque no cenário internacional, uma vez que possui entre 15% e 25% de toda a biodiversidade da Terra. É um dos poucos países que ainda possui uma biodiversidade tão extensa, boa parte ainda desconhecida. Portanto, é extremamente importante que sejam criados programas de pesquisa, desenvolvimento e aplicação de processos e produtos oriundos da biodiversidade brasileira. Estima-se que o valor da biodiversidade brasileira seja de 2 trilhões de dólares por ano, muito maior do que o PIB do Brasil. O potencial de utilização dos recursos oriundos da biodiversidade brasileira é incalculável. Apenas uma parte muito, mas muito pequena mesmo, destes recursos foi pesquisada e se tornou produtos de importância econômica, cultural e social. É importante assinalar que a exploração racional da biodiversidade também pode gerar produtos culturalmente importantes. A história do Brasil está intimamente relacionada à sua biodiversidade, a começar pela exploração do Pau-Brasil. A culinária brasileira está intimamente ligada à sua biodiversidade, como várias plantas do gênero Piper (que são os diferentes tipos de pimentas), peixes da região norte e centro-oeste, diferentes tipos de mandioca, uma enorme variedade de frutas, alimentos que fazem parte da cultura social. Além disso, muitas plantas foram (e ainda são) utilizadas na construção civil, móveis, embarcações, e que atualmente estão felizmente protegidas.
A biodiversidade brasileira não somente deve ser explorada para fins econômicos diretos, mas também para gerar conhecimento. Não se conhece quase nada sobre os mais diversos tipos de micro-organismos, insetos, plantas e organismos marinhos que podem gerar produtos de alto valor tecnológico agregado, como enzimas. Tais produtos podem beneficiar enormemente a população brasileira de diferentes maneiras: promovendo avanço científico, gerando conhecimento, possibilitando a geração de processos e produtos de interesse para a saúde humana, para a agricultura, e de muitas outras formas. Por isso, é muito importante que se estimule a pesquisa e o conhecimento sobre a fauna e a flora brasileira. Existem inúmeros pesquisadores no Brasil inteiro que se dedicam a estudar a biodiversidade brasileira, como forma de melhor conhecer e possibilitar a utilização racional dos recursos naturais. Tais pesquisas devem ser muito estimuladas, e o acesso à biodiversidade brasileira deve ser facilitado para os pesquisadores e estudantes que queiram se dedicar a melhor conhecer as plantas, animais e micro-organismos do Brasil.</div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line - Como a perda da biodiversidade pode influenciar na longevidade da vida terrestre, inclusive da sobrevivência da espécie humana?</strong></div>
<div align="center">Roberto Berlinck - Como eu disse acima, a espécie humana é parte da megarrede de VIDA do nosso planeta. Porém, não é parte essencial desta rede. Existem outros organismos que são muito mais importantes nesta rede, como aqueles que fazem fotossíntese (plantas, algas e microalgas) e os que degradam a matéria orgânica (bactérias e fungos). Se o desenvolvimento humano prolongar a utilização não-racional, não planejada, irresponsável e não-sustentada da biodiversidade, é muito provável que em algum momento esta rede de vida fique comprometida. A própria sobrevivência da espécie humana depende de ações que minimizem a exploração da biodiversidade de maneira inconsequente. Infelizmente, parece que os governos de muitos países ainda não estão cientes do problema real e não estão implementando ações efetivas que minimizem a perda de biodiversidade. Porém, a história da humanidade nos mostra, várias vezes, que é melhor se conhecer a fundo potenciais problemas que nos cercam, para tentar evitar que estes problemas se tornem crônicos, para que eventualmente possam ser solucionados. A conservação e preservação da biodiversidade não são diferentes. É extremamente difícil prever quais seriam as consequências de uma perda significativa de biodiversidade. Tenho certeza que ninguém gostaria de vivenciar esta experiência. </div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-66028270741440417562010-04-07T09:41:00.000-07:002010-04-07T09:50:02.395-07:00O Pantanal ameaçado. Entrevista especial com Débora Calheiros<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0FUzVOrO25wdUtRXJZKu1sXXA4gJff-JmfbF4jMCkbwvCXDtmS5T77cYRMTDX6eQkIY5ewrvhvCXi2hyphenhyphenoN6n2pZhQtOFPwIoYSdxNBhBE1n3_JyeNQnQzSZaxV11BspBWX_pO4q7TsARB/s1600/pantanal.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5457438636012009490" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 295px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0FUzVOrO25wdUtRXJZKu1sXXA4gJff-JmfbF4jMCkbwvCXDtmS5T77cYRMTDX6eQkIY5ewrvhvCXi2hyphenhyphenoN6n2pZhQtOFPwIoYSdxNBhBE1n3_JyeNQnQzSZaxV11BspBWX_pO4q7TsARB/s400/pantanal.jpg" border="0" /></a> <strong><span style="font-size:130%;">Imprevisível dizer como será o novo perfil do Pantanal caso os 116 projetos de centrais hidrelétricas forem instalados nessa região. De acordo com Débora Calheiros, “o que se sabe é que, muito provavelmente, irá mudar o fluxo natural das águas de cada rio, e, por conseguinte, do sistema Pantanal como um todo”. </span></strong>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">Ela concedeu à IHU On-Line uma entrevista, por telefone, sobre as ameaças colocadas ao Pantanal em nome da produção de energia em função do crescimento econômico do país. </span></strong></div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">Débora respondeu também questões sobre o desmatamento e criação de gado na região, além do que ela acha que está em jogo quando se trata da implementação de centrais hidrelétricas e barragens. “Criar 116 barragens sem nenhum estudo prévio, em uma região que deveria ser conservada, que é patrimônio nacional e da humanidade, além de ser uma reserva da biosfera, é temerante. Por isso, nós pesquisadores junto das ONGs e a sociedade civil do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul alertamos para esta questão”, opinou.</span></strong></div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">Débora Calheiros é biológa e, atualmente, trabalha na Embrapa Pantanal.Confira a entrevista.</span></strong></div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – O que significa, para o Pantanal, a instalação de 116 pequenas centrais hidrelétricas?</strong></div>
<div align="center">Débora Calheiros – Na verdade, são vários tipos de centrais, não só as pequenas. Existem as Usinas Hidrelétricas (UHEs) que têm potência superior a 30 megawatts, as PCHs, que têm potência de até 30 megawatts, e as Centrais Geradoras de Eletricidade (CGHs) que são menores ainda. Dessas 116, a maioria serão PCHs, mas também estão previstas as CGHs e as UHEs. Estamos preocupados com o efeito conjunto e cinérgico de todos esses <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=30908">empreendimentos</a> nos rios formadores do Pantanal que estão ao redor do planalto. Fizemos um workshop intitulado “A influência de usinas hidrelétricas no funcionamento hidroecológico do Pantanal Brasil”, na 8ª Conferência Internacional de Áreas Úmidas, a Intecol, que ocorreu em Cuiabá, em julho de 2008. Fizemos uma carta de recomendações que foi enviada a todos os órgãos envolvidos, tanto em nível federal quanto estadual. Agora o Ministério Público Federal também está atuando nesta questão, justamente para tentarmos fazer com que haja um planejamento e um estudos dos impactos de todo o conjunto de barragens que estão previstas. Atualmente, existem 29 barragens em operação, tanto grandes quanto pequenas, e 87 já em construção, licenciamento e sob estudo. O que queremos é evitar a mudança do pulso de inundação, dos ciclos de cheias e secas natural do sistema Pantanal. </div>
<div align="center"><strong>IHU On-Line – Se forem instaladas essas PCHs no Pantanal, qual seria o novo perfil da região?</strong></div>
<div align="center">Débora Calheiros – É imprevisível. Como cada rio terá um regime diferente, por conta do funcionamento do regime da hidrelétrica, seja grande ou pequena, não temos como prever. O que se sabe é que, muito provavelmente, irá mudar o fluxo natural das águas de cada rio, e, por conseguinte, do sistema Pantanal como um todo. Por exemplo, a bacia do Rio Cuiabá, principal tributário do Rio Paraguai, é responsável por 40% da água do sistema. Esta bacia já tem barragens grandes em seus principais rios, o Manso, Itiquira, Correntes e São Lourenço. Já temos evidências de que o curso de inundação já é alterado abaixo da cidade de Cuiabá, pela hidrelétrica de Manso. O conjunto dessas quatro hidrelétricas na mesma bacia é um problema. No fim dos rios Paraná e Paraguai, temos o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, que possui uma área ransa, além de ser uma unidade de conservação nacional. Temos que conservar esse ambiente. A mudança do pulso de inundação é um potencial importante para operar a ecologia da própria área do parque. </div>
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<div align="center"><strong>IHU On-Line – Neste momento, qual a situação do desmatamento na região do Pantanal?</strong></div>
<div align="center">Débora Calheiros – Na planície, ainda temos uma boa conservação do sistema, segundo dados do último levantamento realizado por ONGs, como WWF, TNC, SOS Pantanal e outras da região, junto com a EMBRAPA Pantanal. O levantamento na planície aponta que temos 15% de área alterada. No caso do Pantanal, não podemos falar só de desmatamento, pois não é só mata. A vegetação nativa inclui pastagens e arbustos. Falamos de supressão da área vegetal nativa. O problema está no planalto. No planalto secundante estão as nascentes dos rios, formadores do Pantanal. Nesta região do planalto, de 60% a 80% da área está alterada. Isto é muito preocupante, pois é um desmatamento que não respeita a nascente e não respeita a mata ciliar, em geral. Não respeita, também, o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=26432">código florestal</a> e as áreas de preservação permanente que conservam os rios. Os rios que formam o Pantanal estão comprometidos já na área de nascente. Na região de planície, ainda há conservação e boa qualidade ambiental, pelo menos por enquanto.</div>
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<div align="center"><strong>IHU On-Line – Em que áreas estão concentradas as criações de gado? Essas áreas modificadas em pastagens têm diminuido?</strong></div>
<div align="center">Débora Calheiros – Na região de planície, a maioria dos sistemas de produção agrícola é tradicional. Este sistema respeita o ciclo das águas e se utiliza, na maior parte, de pastagens nativas. O <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=2160">manejo do gado</a> é feito conservando o ambiente, tanto é que temos um dos biomas mais conservados do Brasil. O problema é que as fazendas estão mudando de dono, que estão vindo de fora da região. Geralmente são pessoas de São Paulo e do Paraná que têm a cultura de desmatar tudo e colocar pastagens exóticas, como a braquiária, uma gramínea africana. Isso altera profundamente o ambiente, e não respeita a questão das APPs. O desmatamento é indiscriminado e temos evidências de que isso está aumentando. Hoje as <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=22836">áreas desmatadas</a> estão em 15%, mas, em 1999, eram apenas 5%. A tendência é que aumente, justamente por que as fazendas estão mudando de dono. </div>
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<div align="center"><strong>IHU On-Line – O que está em jogo em relação à construção dessas PCHs?</strong></div>
<div align="center">Débora Calheiros – É a questão da ampliação da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=30622">matriz energética</a> do país. Só que as PCHs geralmente têm um licenciamento muito superficial e são muitas no mesmo rio. Uma PCH é uma coisa, mas várias no mesmo rio é praticamente uma grande barragem. Elas, em geral, são um fio d’água, ou seja, não criam reservatório de água, mas alteram o fluxo das águas. Embora não se tenha um reservatório, quando se tem muitas <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=24690">PCHs</a> no mesmo rio, há uma variação na vazão e a retenção de nutrientes, o que altera a qualidade da água, e, por conseguinte, o funcionamento ecológico do rio juzante da barragem. Este é um problema sério, mas o maior problema é essa proliferação indiscriminada de barragens sem planejamento. Ainda mais no caso do Pantanal, uma área que deve ser preservada. Se fosse em um rio, em São Paulo, onde já encontram vários problemas ambientais, é uma coisa. Mas criar 116 barragens sem nenhum estudo prévio, em uma região que deveria ser conservada, que é patrimônio nacional e da humanidade, além de ser uma reserva da biosfera, é temerante. Por isso, nós pesquisadores junto das ONGs e a sociedade civil do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul alertamos para esta questão. Uma reportagem de um jornal de São Paulo apontou que, recentemente, o presidente da empresa de pesquisa energética, a EPE, afirmou que eles vão realizar, finalmente, o estudo que estávamos pleiteando, a Avaliação Ambiental Integrada. Este é um estudo feito pelo setor elétrico para saber o efeito sinérgico de várias barragens em uma mesma bacia. Pela Resolução Conama de 1985, relacionada com estudos de impacto ambiental e com a lei de recursos hídricos de 1997, temos que trabalhar sempre com a visão de bacia hidrográfica. Não se pode licenciar um empreendimento sem ter a noção do que irá acarretar na área da bacia hidrográfica. No caso da bacia do Rio Paraguai, como ela é grande e possui vários empreendimentos, deve se fazer uma análise de todos eles em conjunto. O setor elétrico já tem esse tipo de análise, que já fizeram no Rio Uruguai e em outros rios do país, por isso, estávamos pleiteando, desde 2008, para que colocassem a bacia do Rio Paraguai como prioridade. Uma outra solicitação que fizemos na carta de recomendações é que se faça, também, uma avaliação ambiental estratégica. Esta é uma outra ferramenta e poderia ser feita pelo Ministério do Meio Ambiente. Inclusive, anteriormente, já houve uma tentativa de se fazer estudo na região, quando existia o Programa Pantanal, atualmente não existe nenhuma política pública voltada para o Pantanal. O estudo começou a ser feito, mas não teve finalização, para ver a questão do desenvolvimento da bacia como um todo, incluindo principalmente a questão da industrialização pesada que existe aqui na região e não só para a questão das hidrelétricas. A avaliação ambiental estratégica tem uma visão geral do sistema e de opções de desenvolvimento sustentável para o sistema, levando em conta todos os fatores dos empreendimentos e os propósitos de desenvolvimento. Estamos pleiteando esses dois estudos profundos, para que possamos, pelo princípio de precaução, evitar que se altere um ecossistema tão importante mundialmente como o Pantanal. </div>
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<div align="center"><strong>IHU On-Line – Porque não se fez uma avaliação ambiental integrada da região anteriormente?</strong> </div>
<div align="center">Débora Calheiros – Não tenho ideia. Sabemos que existem várias bacias já contempladas. Além do Rio Uruguai, existem outros como Trombetas, no Pará. No site da EPE, encontra-se a lista de todos os rios contemplados e os estudos completos. Estamos sugerindo o estudo desde 2008, e o próprio Conselho Estadual de Recursos Hídricos do Mato Grosso do Sul e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente estão preocupados com essa problemática, que levantamos durante a realização do workshop. Questionamos, ainda em 2008, a EPE sobre essa questão. O problema é que 70% de todos esses empreendimentos estão previstos para a parte norte da bacia, no estado de Mato Grosso, e isso pode alterar o pulso de inundação e o fluxo das águas para Mato Grosso do Sul, que está rio abaixo. A preocupação mais evidente foi do estado de Mato Grosso do Sul. O Ministério Público Federal também se sensibilizou com a questão e está atuando. Provavelmente, agora, em abril, eles irão informar a decisão de que estão preocupados com essa questão e estão pedindo também que se façam estudos para que não haja problemas no futuro, na questão de conservação do Pantanal Matogrossense. </div>
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<div align="center"><strong>IHU On-Line – Ao analisar os projetos de eficiência energética em andamento no Brasil, como Belo Monte, o complexo do Rio Madeira etc., podemos dizer que o Brasil precisa mesmo de toda essa energia?</strong></div>
<div align="center">Débora Calheiros – Não sou exatamente do setor energético, trato da questão ambiental e acho que devemos, simplesmente, pensar se queremos ou não preservar o Pantanal. Se queremos produzir energia na região, que a energia seja gerada no Pantanal para suprir São Paulo, Rio Grande do Sul etc., temos que saber que teremos perdas, e uma delas é a conservação do Pantanal. A outra opção que temos, que até propomos na carta de recomendações, é que as barragens do Pantanal não sejam ligadas ao sistema interligado nacional. Uma vez que se precisa de energia em São Paulo, a hidrelétrica de Mato Grosso terá de fornecer energia para lá. O regime de águas e de fucionamento do reservatório não é regido pelo fluxo natural das águas, é regido pela demanda de energia. Se ele não tiver esse vínculo, de fornecer energia para fora do sistema, seria uma opção de ter um funcionamento mais ecológico. Se pode <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=24138">produzir energia</a>, mas de uma forma natural. Fora esta questão, ainda tem aquela da retenção de nutrientes, a barragem impede a migração dos peixes. O pulso de inundação para o ecossistema e a população da região pantaneira depende do fluxo das águas, tanto para os ribeirinhos e os pescadores, quanto para o turismo, que é baseado em pesca e pecuária. A pecuária tem atividades tradicionais e econômicas da região e dependem da forma ambiental do ecossistema. Então, se alterarem o pulso de inundação, alteram a vida, a economia e a questão social de toda a região pantaneira. Além disso, o Brasil é signatário das metas do milênio e, dentre essas existem as metas ecossistêmicas do milênio. As metas ecossistêmicas colocam claramente que não se pode pegar uma região, como uma bacia com ecossistema, e dela retirar todos os serviços ambientais possíveis. Se deve escolher alguns deles que serão usufruidos, como água de boa qualidade e pesca ou energia. Não dá para se tirar todos os serviços ambientais de uma região sem perdas. Ou optamos que a bacia do Alto Paraguai seja fornecedora de energia, ou optamos pela sua conservação e do Pantanal. </div>
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<div align="center"><strong>IHU On-Line – Numa entrevista anterior, a senhora revelou que um dos problemas que o Pantanal vem enfrentando é a introdução de espécies exóticas de animais. Como está essa situação hoje? </strong></div>
<div align="center">Débora Calheiros – Uma vez que a espécie exótica é introduzida em um sistema natural, é muito difícil que ela saia. Uma vez que ela se estabelece, ela se adapta ao ambiente. No caso do Pantanal, há espécies de peixes da amazônia, o Tucunaré e o Tambaqui, e alguns moluscos que são originários da China, o Mexilhão Dourado e a Corbícula. Esse é um <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=16321">problema</a> que não se pode resolver, temos que conviver com isso. Há sempre um momento de explosão da população, já que não há predador, vírus ou bactérias que causem mortandade. A tendência é o aumento vertiginoso da população. No caso da bacia do Paraná e Paraguai, onde o Mexilhão Dourado foi introduzido através da Argentina, houve um problema seríssimo nas hidrelétricas desse sistema. Itaipu, por exemplo, tem um problema sério, que provavelmente demanda milhares de reais para poder limpar esses moluscos. Como eles crescem rápido e vertiginosamente, sem predadores, eles acabam bloqueando as grades de proteção das turbinas, e os canos começam a fechar e a bloquear a passagem de água. Este é um problema sério, econômico e social. Na questão do Pantanal, este mexilhão é um pouco menos problemático do que na região do Rio Paraná, pois existe um fenômemo natural chamado Dequada, que acontece no processo de decomposição durante a enxente. A água transborda do rio, vai para a planície e há uma decomposição muito grande de plantas submersas. Isso abaixa o oxigênio, aumento o CO2 na água, essas espécies exóticas acabam morrendo e há um controle maior da população. No caso do Rio Paraná, esta população explodiu de forma absurda e acabou se tornando um problema. Uma vez que se introduzem espécies, que não pertencem a uma bacia, e elas se adaptam, é muito difícil se controlar. Isto causa um desequilíbrio ecológico absurdo, pois essas espécies competem com as nativas por espaço e alimento, os peixes da região não estão acostumados a comer esses moluscos, e, quando comem, destroem o trato digestivo. Apenas algumas espécies já estão adaptadas para comer alguns moluscos nativos, e já têm dentes e um sistema digestivo apropriados. No caso dos peixes amazônicos é a mesma coisa. Eles competem com as espécies nativas e acabam desequilibrando as relações da cadeia alimentar. Infelizmente só vamos perceber a junção de todos esses problemas e impactos a médio e longo prazo. </div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-87347678338630252312010-04-03T14:45:00.000-07:002010-04-03T14:49:29.101-07:00''Os humanos são muito estúpidos para evitar as mudanças climáticas'', afirma Lovelock<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgt4KTa53I5H1MBx6OY6d8ffM_nnZPdLLuPrmqhos9NbbNoolp3AeEHNZ0RytMYuTqEYZQW4ceXcHGAIZuWCyPzm_18AGJBtPTc-JhPkGF8Ma_01R2cd1T_E0zD4B4antAcKaxLIqc03Hj/s1600/LOVELOCK.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5456031276373363058" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 389px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgt4KTa53I5H1MBx6OY6d8ffM_nnZPdLLuPrmqhos9NbbNoolp3AeEHNZ0RytMYuTqEYZQW4ceXcHGAIZuWCyPzm_18AGJBtPTc-JhPkGF8Ma_01R2cd1T_E0zD4B4antAcKaxLIqc03Hj/s400/LOVELOCK.gif" border="0" /></a> <strong><span style="font-size:130%;">CRIADOR DA "HIPÓTESE DE GAIA, LOVELOCK EXPÕE SEUS PENSAMENTOS EM UMA DECLARAÇÃO QUE PODERIA FAZER A GENTE PENSAR UM POUCO MAIS EM NOSSO PLANETA...
</span></strong><div align="center"><strong><span style="color:#000000;"></span></strong></div>
<div align="center"><strong><span style="color:#000000;">Os humanos são muito estúpidos para evitar que as mudanças climáticas impactem radicalmente sobre as nossas vidas ao longo das próximas décadas. Essa é a dura conclusão de </span></strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28975"><strong><span style="color:#000000;">James Lovelock</span></strong></a><strong><span style="color:#000000;">, o ambientalista mundialmente respeitado e cientista independente que desenvolveu a teoria de Gaia.</span></strong></div>
<div align="center"><strong><span style="color:#000000;">A reportagem é do jornal The Guardian, 29-03-2010. </span></strong></div>
<div align="center">A tradução é de Moisés Sbardelotto.</div>
<div align="justify">Ela surge depois de poucos meses tumultuados em que a opinião pública sobre os esforços para combater as mudanças climáticas foi minada por eventos como os e-mails dos cientistas do clima que vazaram da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=30175">Universidade de East Anglia (UEA)</a> e o fracasso da cúpula do clima de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=30551">Copenhague</a>."Eu não acho que já estejamos evoluídos ao ponto de sermos espertos o suficiente para lidar com uma situação tão complexa quanto as mudanças climáticas", disse Lovelock em sua primeira entrevista em profundidade desde o roubo dos e-mails da UEA em novembro passado. "A inércia dos humanos é tão grande que você realmente não pode fazer nada significativo".Uma das principais obstruções a uma ação significativa é a "democracia moderna", acrescentou. "Mesmo as melhores democracias concordam que, quando uma grande guerra se aproxima, a democracia precisa ser colocada de lado. Eu tenho um sentimento de que as mudanças climáticas podem ser uma questão tão severa quanto uma guerra. Pode ser necessário colocar a democracia de molho por um tempo".Lovelock, 90 anos, acredita que a melhor esperança do mundo é investir em medidas adaptativas, como a construção de defesas marinhas ao redor das cidades que são mais vulneráveis à elevação do nível dos oceanos. Ele acha que só um evento catastrófico pode persuadir a humanidade a levar a ameaça das mudanças climáticas a sério, como o colapso de uma geleira gigante na Antártida, como a geleira Pine Island, o que imediatamente iria elevar o nível dos mares."Esse seria o tipo de evento que mudaria a opinião pública", disse. "Ou o retorno das tempestades de areia [dust bowls] no meio oeste. Outro relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) não seria suficiente. Só iríamos discutir sobre ele como agora".O relatório de 2007 do IPCC concluiu que existe 90% de chance de que a emissão de gases do efeito estufa estejam causando o aquecimento global, mas o painel foi criticado por uma afirmação errônea de que as geleiras do Himalaia poderiam derreter até 2030.Lovelock afirma que os eventos dos últimos meses revelaram os esforços dos "bons" <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=30356">céticos do clima</a>: "O que eu gosto nos céticos é que, na boa ciência, você precisa de críticos que lhe façam pensar: 'Droga, será que eu cometi um erro aqui?'. Se você não tiver isso continuamente, você realmente está em apuros. Os bons céticos fizeram um bom trabalho, mas eu acho que alguns dos ruins não fizeram nenhum favor a ninguém. Você precisa de céticos, especialmente quando a ciência se torna tão grande e monolítica".Lovelock, que há 40 anos deu origem à ideia de que o planeta é um organismo gigante e autorregulável – a chamada teoria de Gaia –, acrescentou que tem pouca simpatia pelos cientistas do clima que foram pegos no escândalo dos e-mails da UEA. Ele disse que não leu os e-mails originais – "Eu me senti relutante em fuxicar" – mas que o conteúdo divulgado deixou-o "completamente indignado"."Falsificar os dados é, de qualquer forma, quase literalmente um pecado contra o espírito santo da ciência", disse. "Eu não sou religioso, mas eu digo dessa forma porque eu considero isso muito forte. É o tipo de coisa que você nunca deve fazer. Você precisa manter o padrão".</div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-62602270321921776372010-02-02T08:50:00.000-08:002010-02-02T09:01:13.090-08:00Os EUA e o mundo: uma história não contada. Entrevista especial com Noam Chomsky<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">OBSERVE E ANALISE O MAPA ABAIXO RETIRADO DA NET, POR AÍ...</span></strong></div><div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">COMO SERÁ QUE OS EUA VÊEM O MUNDO, E COMO O MUNDO VÊ O IMPÉRIO LIDEÁDO POR OBAMA? </span></strong></div><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOYuf9C0-R8LtNoYrkXOHNg4XV02coIRlQecotrqPFa4bNrRsm6BTJKGC8PKJ68DI4GUNfGP12ZOk-LfWRT8ZllsRJyoeES6E0L_B3nPzTbw3ojrHw6VNhmkrVZ69Pj8pQk-1jpWxlId-r/s1600-h/mundo-americano_5466%5B1%5D.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5433691786569918466" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 207px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOYuf9C0-R8LtNoYrkXOHNg4XV02coIRlQecotrqPFa4bNrRsm6BTJKGC8PKJ68DI4GUNfGP12ZOk-LfWRT8ZllsRJyoeES6E0L_B3nPzTbw3ojrHw6VNhmkrVZ69Pj8pQk-1jpWxlId-r/s400/mundo-americano_5466%5B1%5D.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:130%;"><strong>NESTA ENTREVISTA, CHOMSKY RELATA UMA MANEIRA DE VER O IMPÉRIO NORTE-AMEIRCANO NO MUNDO</strong>:
</span><div align="justify"><span style="color:#000000;"><strong>Em uma entrevista contundente e incisiva, o linguista, filósofo e ativista político estadunidense, </strong></span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=20377"><span style="color:#000000;"><strong>Noam Chomsky</strong></span></a><span style="color:#000000;"><strong>, falou por telefone com a IHU On-Line sobre a influência dos Estados Unidos em importantes eventos históricos da humanidade, como os golpes militares na América Latina e os </strong></span><a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_eventos&Itemid=26&task=evento&id=278&id_edicao=342"><span style="color:#000000;"><strong>assassinatos dos seis jesuítas em El Salvador</strong></span></a><span style="color:#000000;"><strong>, em 1989. Sobre esse episódio, Chomsky destaca que “o assassinato dos jesuítas essencialmente finalizou uma década em El Salvador, a qual havia iniciado com o assassinato do arcebispo Oscar Romero, praticamente pelas mesmas mãos. Nesse período, foram mortas cerca de 70 mil pessoas, geralmente pelas forças de segurança apoiadas pelos EUA”. Ao questionar o silêncio histórico que se fez sobre o fato, </strong></span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=18808"><span style="color:#000000;"><strong>Noam Chomsky</strong></span></a><span style="color:#000000;"><strong> explica que “a razão é muito simples: trata-se de um crime; crimes desse tipo são expurgados, eles não aconteceram”.
</strong></span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=17410">Chomsky</a> também faz uma longa e crítica análise do primeiro ano do governo de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=29191">Barack Obama</a>, e não suaviza seu posicionamento. Para ele, a principal “realização” de Obama tem sido a de “pagar uma fiança colossal para salvar os bancos. Os grandes bancos agora têm lucros maiores do que tiveram no passado e pagam bônus enormes a seus gestores”. <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=17375">Chomsky</a> lembra que os bancos tinham destruído o sistema financeiro e que a medida de Obama “os livrou com dinheiro e os reconstituiu, de modo que agora são maiores do que antes”. E alerta: “a não ser que haja alguma significativa regulamentação, o que parece bastante improvável, está se estabelecendo a base para a próxima crise financeira, até pior que a que acaba de ocorrer”.
<a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=12297">Noam Chomsky</a> nasceu na Filadélfia, Estados Unidos, em 1928. É professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Seu nome está associado à criação da gramática generativa transformacional, abordagem que revolucionou os estudos no domínio da linguística teórica. É também o autor de trabalhos fundamentais sobre as propriedades matemáticas das linguagens formais. Além da sua pesquisa e ensino no âmbito da linguística, Chomsky é também conhecido pelas suas posições políticas de esquerda e pela sua crítica da política externa dos Estados Unidos. Chomsky descreve-se como um socialista libertário. </div>
<div align="center">Sua página pessoal na internet é <a href="http://www.chomsky.info/">http://www.chomsky.info/</a>
<strong><span style="font-size:130%;">Por Graziela Wolfart. Tradução de Walter Schlupp
Confira a entrevista.</span></strong></div><span style="font-size:130%;">
<div align="center"><strong>IHU On-Line - Como o senhor avalia o primeiro ano de governo de Barack Obama? Quais suas principais realizações, avanços e retrocessos?
</strong></span>Noam Chomsky - A principal realização tem sido a de pagar uma fiança colossal para salvar os bancos. Os grandes bancos agora têm lucros maiores do que tiveram no passado e pagam bônus enormes a seus gestores. Basicamente, eles tinham destruído o sistema financeiro; aquela medida os livrou com dinheiro e os reconstituiu, de modo que agora são maiores do que antes. A não ser que haja alguma significativa regulamentação, o que parece bastante improvável, está se estabelecendo a base para a próxima crise financeira, até pior que a que acaba de ocorrer. O governo anunciou a sua política de seguros, chamada de “Grande demais para falir”, o que significa: se você for um banco realmente grande, como a Goldmann & Sachs, não vamos deixar você falir. Então, o contribuinte pagará a sua fiança salvadora, você pode assumir grandes riscos ao emprestar e investir, fazer muito lucro, sem se preocupar se tudo for mal. Isto continua igual. Esta é a principal realização do governo federal. É uma das razões para a considerável indignação prevalente no país. Os bancos estão sendo salvos com dinheiro público, estão enriquecendo, e se tornando os responsáveis pela crise econômica. Bem, pelo menos para a população a crise econômica está crescendo.
<strong>Desemprego
</strong>Atualmente, os dados oficiais são de que mais de 10% da população está desempregada – a realidade naturalmente é mais elevada e a indústria de fábricas, onde as pessoas ganham empregos dignos, está passando por uma grande depressão. Uma em cada seis pessoas está desempregada, e as chances de conseguir um emprego não são boas, já que as bases da manufatura estão solapadas. Obama deu, sim, um incentivo que reduziu o efeito da perda de emprego até certo ponto, mas é muito pequeno para produzir alguma diferença perceptível. As pessoas quase não se dão conta deste incentivo. Mas surtiu algum efeito. Isto foi na questão econômica. </div>
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<strong><em>"Em nível internacional (...) Obama está dando seguimento aos programas de Bush, seguindo a mesma política contra o Iraque, onde intensificou a guerra, bem como no Afeganistão e Paquistão"
</em>Sistema de saúde
</strong>Por outro lado, ele apresentou um projeto de lei para a reforma do sistema de saúde, mas deixou isso nas mãos do Congresso, onde tem sido gradativamente desbastado pelas seguradoras, instituições financeiras, indústria farmacêutica, de modo que sobrou muito pouco do projeto de lei. Talvez nem passe, e se passar, será por cima das objeções da maioria da população. A essas alturas, a maioria da população é contra essa reforma do sistema de saúde, e o motivo para tanto é que ela não vai longe o suficiente. Uma maioria considerável da população está a favor de se permitir uma opção pública, um sistema público de saúde paralelo ao sistema privado. Esta opção foi para a cucuia. Uma grande maioria é a favor de permitir pessoas mais jovens, de 55 anos para cima, em vez de acima de 65 anos, entrar no sistema nacional de saúde limitado para os ricos. Também uma grande maioria, cerca de 85%, opõe-se a à regulamentação que impede o governo de negociar preços de medicações. Penso que os Estados Unidos são o único país no mundo onde isto acontece. </div>
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<em><strong>"O sistema de saúde dos Estados Unidos é totalmente disfuncional; (...) é distribuído segundo a riqueza"</strong></em></div>
<div align="center">Obama informou os bancos de que ele manteria isto. Portanto, é algo que talvez seja aprovado; mas não será muito, e este é um assunto muito sério. O sistema de saúde dos Estados Unidos é totalmente disfuncional; funciona bem para gente como eu, para pessoas relativamente privilegiadas. O sistema de saúde é distribuído segundo a riqueza, basicamente. Os custos da assistência médica, per capita, são cerca de duas vezes mais elevados que em países industrializados, e apresenta um dos piores resultados. Isto porque em grande parte é privatizada, não-regulamentada. Isto cria muita ineficiência, custos, burocracia, etc. Os custos também estão subindo muito rapidamente. As previsões são de que isto basicamente vai sobrepujar a economia, não muito longe no futuro. Praticamente todo o déficit orçamentário será acarretado pelo sistema de saúde. Estávamos falando em reduzir o déficit, mas isto não vai acontecer, a não ser que o sistema de saúde seja sanado – o que não é o caso.
<strong>Política internacional: na linha de Bush
</strong>Em nível internacional, nada digno de nota, basicamente Obama está dando seguimento aos programas de Bush, seguindo a mesma política contra o Iraque, onde intensificou a guerra, bem como no Afeganistão e Paquistão. O número de ataques em solo, o que equivale a assassinatos, aumentou muitíssimo. Em outras áreas, na América Latina, ele apoiou o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28791">golpe de estado em Honduras</a> e os Estados Unidos são um dos poucos países que reconheceram a eleição lá. O governo Obama praticamente ridicularizou o restante do hemisfério por este viver um mundo de realismo mágico – como formulou o representante na OEA – e não a realidade, ao negar-se a aceitar o golpe. O governo Bush tinha reativado a Quarta Frota Naval, que cobre as águas sul-americanas e caribenhas. Obama apoiou isto, conseguiu duas novas bases navais para ela no Panamá. E continuam estabelecendo novas bases militares, acordadas com a Colômbia, com planos bem dispendiosos de monitoramento de boa parte do hemisfério sul. Quanto a Israel e a Palestina, que é um problema importante, Obama basicamente nada fez. Ele apenas fez algumas pequenas críticas, mas essencialmente informou Israel de que pode ir em frente com as construções ilegais nos territórios ocupados, todas ilegais, todo mundo sabe disso. Essa conversa de negociações, ninguém sabe exatamente o que é. Antes de se eleger, no fundo, ele apoiou o ataque a Gaza e a manutenção do grave bloqueio militar sobre Gaza. </div>
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<em><strong>"Praticamente todo o déficit orçamentário será acarretado pelo sistema de saúde"</strong></em></div>
<div align="center">Quanto ao resto do mundo, ele tem considerado a possibilidade de negociar com o Irã, o que é mais do que o governo Bush estava disposto a fazer. Por outro lado, é muito claro que não vão chegar a lugar algum. Há a questão de o Irã não satisfazer todas as condições impostas pelo Conselho de Segurança da ONU e a Agência Internacional de Energia Atômica. Isto é verdade, eles não cumpriram todas as condições. Entretanto, o que menos se discute é o status dos três países que nunca assinaram o tratado de não-proliferação: Israel, Índia e Paquistão. O governo Obama continua advogando a posição de que eles estão isentados das regras do Conselho de Segurança e da Agência Internacional de Energia Atômica. Em outubro, a AIEA aprovou uma resolução cobrando de Israel que entrasse no tratado de não-proliferação e abrisse suas instalações para inspeção. Os Estados Unidos e a Europa tentaram bloquear essa resolução, mas ela foi aprovada mesmo assim. O governo Obama imediatamente disse a Israel que eles não precisavam dar qualquer atenção a isso, que estão isentados. A mesma coisa com a Índia, que está desenvolvendo suas armas atômicas com ajuda dos Estados Unidos. O Conselho de Segurança conclamou todos os estados, particularmente a Índia, a assinar o tratado de não-proliferação. A Índia reagiu, anunciando que agora consegue produzir armas nucleares com a mesma potência que as superpotências EUA e Rússia. E os EUA, a administração Obama, imediatamente informaram a Índia de que não precisam se preocupar com a resolução do Conselho de Segurança. A mesma coisa com o Paquistão. Nesse contexto, fica bem claro que a ONU não vai fazer qualquer coisa fora do comum para impor suas condições.</div>
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<span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>IHU On-Line – Mudando um pouco de assunto, como o senhor analisa </strong></span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_content&task=view&id=330&Itemid=102"><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>o assassinato dos mártires de El Salvador em 1989</strong></span></a><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong> e o silêncio que se fez sobre esse episódio?
</strong></span>Noam Chomsky - Foi espantoso, isso. Em novembro passado foi o vigésimo aniversário de dois eventos importantes acontecidos em novembro de 1989: um foi a queda do muro de Berlim, outro foi o <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=1913&id_edicao=343">assassinato dos jesuítas</a>. Novas informações apareceram em outubro de 2009, mas foram totalmente ignoradas. O jornal espanhol El Mundo publicou o documento que pedia o assassinato, assinado pelo Chefe do Estado Maior, Rene Emilio Ponce, e por outros altos oficiais. Isto já tinha sido suspeitado, mas agora havia o documento em si, com comentários escritos à mão e as assinaturas. Isto faz com que seja quase impossível que a embaixada americana e o Pentágono nada soubessem a respeito. Além disso, o assassinato foi executado por uma brigada de elite, a brigada Atlacatl, que já tinha matado milhares de pessoas. Eles acabavam de chegar do treinamento na Escola de Forças Especiais J. F. Kennedy em Fort Bragg poucos meses antes, e poucos dias antes do assassinato houve delegação de forças e oficiais especiais que foram a El Salvador para treinamento adicional. Portanto, tinham acabado de receber treinamento por forças especiais americanas. Isto, portanto, torna ainda menos provável que o fato fosse desconhecido. Ou seja, foi algo solenemente ignorado. Mas isto não é nada. O assassinato dos jesuítas essencialmente finalizou uma década em El Salvador, a qual havia iniciado com o assassinato do arcebispo Oscar Romero, praticamente pelas mesmas mãos. Nesse período, foram mortas cerca de 70 mil pessoas, geralmente pelas forças de segurança apoiadas pelos EUA.
</div>
<div align="center"><em><strong>"O assassinato dos jesuítas essencialmente finalizou uma década em El Salvador, a qual havia iniciado com o assassinato do arcebispo Romero, praticamente pelas mesmas mãos"</strong></em></div>
<div align="center">Além disso, o assassinato dos jesuítas foi um golpe letal ou ao menos muito sério no que ainda restava da <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_editorias&Itemid=19&id_edicao=239">teologia da libertação</a>. Isto é de considerável importância. A teologia da libertação deslanchou após o <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_editorias&Itemid=19&id_edicao=325">Vaticano II</a>, sob o comando do papa João XXIII, em 1962. Este foi um momento crucial na história. Foi a primeira vez que a Igreja tentou voltar aos evangelhos, para a Igreja pré-constantina. Nos primeiros séculos, o cristianismo era basicamente uma religião de um pastor radical, perseguida. Mas o imperador Constantino, no século IV, assumiu o cristianismo e o transformou na Igreja do Império Romano. <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?id_edicao=268">Hans Küng</a>, um teólogo bem conhecido, formulou da seguinte maneira: de uma Igreja de perseguidos, a Igreja passou a ser uma Igreja de perseguidores. E em grande parte tem sido isso mesmo, até chegar ao papa João XXIII e o Concílio Vaticano II, que inspirou bispos latino-americanos a empreender a opção preferencial pelos pobres, como nos evangelhos; e o resto da história vocês conhecem: padres, freiras, leigos tentaram organizar camponeses, criaram grupos de leitura bíblica, tomar algumas iniciativas, para que as pessoas tivessem seus destinos nas próprias mãos.
Golpes de estado na América Latina: efeito dominó
Isto desencadeou o pior período de repressão na história do continente. Os EUA foram muito claros: não vamos tolerar isto. O primeiro passo foi o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=18870">golpe de estado no Brasil</a>. Foi planejado sob o governo Kennedy e executado pouco depois do seu assassinato. Isto estabeleceu o primeiro dos estados de segurança nacional na América Latina. O embaixador de Kennedy o chamou de "a maior vitória da liberdade em meados do século XX"; ele também acrescentou que isto melhoraria as perspectivas para investimentos americanos. Como o Brasil é um país importante, logo depois outras peças do dominó começaram a cair. Houve um golpe no Chile, o golpe de Pinochet, e continuou um país atrás do outro, finalmente chegando à Argentina, talvez o pior de todos os golpes, com forte apoio de Reagan. Depois, a praga se espalhou para a América Central nos anos 1980, com centenas ou milhares de pessoas sendo mortas. Grande parte do mundo estava voltada contra a Igreja. Havia muitos assassinatos, como o do arcebispo <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=27535">Oscar Romero</a> e também os seis jesuítas, terminando basicamente em 1989. Esta é uma parte bastante importante da história do mundo – e não há nenhuma memória a este respeito, nada. A razão é muito simples: trata-se de um crime; crimes desse tipo são expurgados, eles não aconteceram.
"O assassinato dos jesuítas foi um golpe letal ou ao menos muito sério no que ainda restava da teologia da libertação"
Podemos ficar muito empolgados com a derrubada da tirania soviética. Falou-se muito, em novembro passado, de que foi um triunfo do amor, da não-violência, que a mensagem para o mundo é não-violência, etc. É a mensagem para o mundo quando se olha para o Leste da Europa, mas não é a mensagem para o mundo quando se olha para a América Latina. E a coincidência do assassinato dos jesuítas e a queda do muro é um lembrete contundente neste sentido, de que foi totalmente suprimido, da mesma forma como o resto do que acabei de dizer.</div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line - Podemos estabelecer alguma relação entre o exército de El Salvador de 1989 e o exército de Honduras atualmente?
</span></strong>Noam Chomsky - Na verdade não sei. Talvez. Certamente o Pentágono está pesadamente envolvido em ambos. Os principais oficiais do exército hondurenho em sua maioria são treinados na Escola das Américas, que é a outra escola que treina oficiais latino-americanos, assassinos latino-americanos; há conexões muito estreitas com o Pentágono, e naturalmente isto também vale para El Salvador. É perfeitamente possível que haja coordenação via EUA, mas não sei de nenhuma evidência direta neste sentido. Um elemento no golpe em Honduras, presumo, é que ali se encontra uma base aérea importante usada pelos EUA, a base aérea de Pomarola, que desempenhou um papel crucial durante a guerra dos EUA contra a Nicarágua nos anos 1980. Foi a base chamada de "porta-aviões inafundável" para os "contras" baseados em Honduras atacarem a Nicarágua. É difícil imaginar que não haja coordenação entre os exércitos centro-americanos. Mas não posso afirmar que haja evidência concreta disso.</div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line - Qual a importância que o senhor atribui ao Fórum Social Mundial e que avaliação faz do evento em função de seus 10 anos? Por que o senhor não veio para esta edição?
</span></strong>Noam Chomsky - Eu fui a várias edições nos primeiros anos. Nos últimos anos tenho tido problemas pessoais. Houve três anos em que não conseguia viajar de forma alguma, tinha que ficar em casa. Este ano estive irremediavelmente envolvido em outras coisas. Mas penso que é um evento extremamente importante. Quando estive lá, 8 ou 9 anos atrás, sugeri que o Fórum era a semente para a primeira Real Internacional verdadeira, e continuo pensando assim. Sua influência agora se espalha pelo mundo todo, há fóruns sociais regionais e locais. Temos um em Boston. Minha sensação é de que nenhuma contribuição que eu poderia dar agora teria importância comparável à que porventura a de anos atrás teve – não sei se teve ou não, e estive muito contente em estar lá. Acho que há coisas que posso fazer na mesma linha, talvez mais importantes. Em todos os casos, o que está acontecendo é extremamente importante, também para o Brasil. Por exemplo, a questão dos direitos fundiários no Brasil é extremamente séria. Poucos passos de menor importância foram dados durante os anos de Lula, mas não é muita coisa. E o efeito do que foi feito não é tão positivo assim. Há muitos outros problemas ainda na América Latina e em outros lugares. Portanto, o Fórum preserva sua significação. Penso que difundiu sua influência, que tem sido uma influência muito positiva sobre as lutas sociais em todo o mundo, e espero que continue neste sentido.
"Os principais oficiais do exército hondurenho em sua maioria são treinados na Escola das Américas, que é a outra escola que treina oficiais latino-americanos, assassinos latino-americanos" </div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line - O senhor gostaria de acrescentar mais algum comentário?</span></strong> </div><div align="center">Noam Chomsky - Há coisas importantes acontecendo. Veja os próprios EUA. Não sei até que ponto isto foi veiculado no Brasil, mas quinta-feira passada (dia 21-01) a Suprema Corte tomou uma decisão extremamente importante: que corporações que já têm uma influência avassaladora no sistema político, agora podem gastar dinheiro livremente nas eleições para apoiar candidatos. Isto virtualmente significa que as corporações podem comprar as eleições. Trata-se de um golpe gravíssimo contra o que resta da democracia funcionando. E é muito difícil ver como isto poderá ser revogado. Isto anula precedentes de um século, que pelo menos colocavam algum limite no custeio corporativo de eleições. Basicamente é um convite para as corporações praticamente partirem para o suborno. Em vez de comprar um legislador na Casa Branca indiretamente, eles podem fazê-lo diretamente. </div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1522517740414914633.post-38545577949462881392010-02-01T08:37:00.000-08:002010-02-01T08:42:50.460-08:00''O crescimento dever ser um instrumento para o desenvolvimento''. Entrevista especial com Marina Silva<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigkhflbcX0-5dFIBdfa6sLn5mUluk88sx4TPz85u44Qm1tXfrEHSAwfpJ4riPTg_7U2N2rG8cWYJvE-_7dirx4LNvUVtSHxAcxOnndROp2S-4K4dVAyECS5V3G8tTRzGOrCWUEkMXKo7Cs/s1600-h/img_ptg_1_1_877%5B1%5D.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5433316238714270898" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 120px; CURSOR: hand; HEIGHT: 120px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigkhflbcX0-5dFIBdfa6sLn5mUluk88sx4TPz85u44Qm1tXfrEHSAwfpJ4riPTg_7U2N2rG8cWYJvE-_7dirx4LNvUVtSHxAcxOnndROp2S-4K4dVAyECS5V3G8tTRzGOrCWUEkMXKo7Cs/s400/img_ptg_1_1_877%5B1%5D.gif" border="0" /></a> <strong><span style="font-size:130%;">OLÁ GALERA... CHEGAMOS A 2010... ANO ELEITORAL... COPA DO MUNDO... AQUECIMENTO GLOBAL.... SUSTENTABILIDADE...</span></strong>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">OS TEMAS SERÃO MUITOS....</span></strong></div>
<div align="center"><span style="color:#000000;">Antes de subir no palco do Anfiteatro Pe. Werner da Unisinos, na tarde do último dia 27 de janeiro, para participar do 4º Seminário de Políticas Sociais, atividade organizada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, e integrada ao Fórum Social Mundial 2010, a senadora e pré-candidata à presidência da República pelo Partido Verde – PV, Marina Silva, aceitou conceder a entrevista que segue à IHU On-Line. Nela, ela fala sobre a usina hidrelétrica de </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=29372"><span style="color:#000000;">Belo Monte</span></a><span style="color:#000000;">, sobre sua pré-candidatura à presidência, sobre o PV e o PSOL, sobre as prioridades para o Brasil, entre elas a proposta de melhor explorar o potencial ambiental do país, e sobre meio ambiente e sua relação com o crescimento econômico. Para a senadora, “é preciso requalificar essa história de crescimento pelo crescimento. O crescimento não é um fim em si mesmo. Ele é uma ferramenta, um instrumento para o desenvolvimento. E o desenvolvimento que nós advogamos é aquele que seja sustentável em todos os aspectos: econômico, ambiental, social e cultural”. Em sua palestra, Marina Silva falou ao lado do sociólogo </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=29286"><span style="color:#000000;">Boaventura de Sousa Santos</span></a><span style="color:#000000;">, sobre o papel público das políticas na garantia dos direitos sociais.
Marina Silva está em seu segundo mandato no Senado Federal, com duração até 31 de janeiro de 2011. De janeiro de 2003 a maio de 2008, foi ministra do Meio Ambiente do governo Lula, de onde saiu no dia 13 de maio de 2008. Atualmente, Marina Silva participa como membro titular das comissões de Meio Ambiente, e de Constituição e Justiça e preside a subcomissão temporária do Fórum das Águas das Américas e do Fórum Mundial das Águas. Graduada em História, foi também professora, líder estudantil, sindical, vereadora e deputada estadual, além de ter cursado pós-graduação em Psicopedagogia. A biografia de Marina Silva fez com que ela fosse escolhida pelo jornal britânico The Guardian, em 2007, uma das 50 pessoas em condições de ajudar salvar o planeta.
Confira a entrevista. </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">
<strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line - Como sente as críticas feitas a você em relação a sua posição sobre </span></strong></span><a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=1994&id_edicao=348"><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>Belo Monte</strong></span></a><span style="color:#000000;"><strong><span style="font-size:130%;">?</span></strong>
Marina Silva – Primeiro é preciso saber a natureza das críticas. Porque, se é em relação a uma declaração que foi atribuída a mim em um jornal de circulação nacional, não condiz com a verdade. Quando eu me referi aos aproveitamentos hídricos da Amazônia eu estava falando de um modo geral, não especificamente em Belo Monte. Então, foi feita uma certa inflexão no sentido de colocar na minha boca algo que eu não disse. Logo, as críticas no mínimo foram injustas. </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">
</span><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>IHU On-Line - Mas então qual é a sua posição sobre </strong></span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28446"><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>Belo Monte</strong></span></a><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>?
</strong></span>Marina Silva – A minha posição em relação à <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=1978&id_edicao=347">Belo Monte</a> é de que não teve um processo transparente até agora, que as comunidades não foram ouvidas - pelo menos eles estão dizendo que não foram ouvidos adequadamente. O Brasil ratificou a convenção 169, que pressupõe a audiência correta das comunidades indígenas, e isso não foi feito. Um empreendimento dessa magnitude não pode acontecer sem uma forte participação da sociedade. Então, a minha posição em relação à Belo Monte é de que o licenciamento, desde o início, negou a complexidade do empreendimento, mesmo que tenham sido feitos estudos para reposicioná-lo, ainda está muito aquém daquilo que os segmentos envolvidos, sobretudo as populações locais, gostariam que estivesse: o plano de desenvolvimento para a área de abrangência, a auscultação correta das comunidades. Agora, em relação à viabilidade ou não do empreendimento, isso é algo que se discute no mérito. E daí os licenciadores e o governo, que estão à frente do processo, têm que analisar a viabilidade ambiental, a viabilidade técnica e a oportunidade de conveniência. E como eu não sou o governo, não tenho condição de aferir, nesse momento, os processos que estão em curso.
"O Brasil é uma potência ambiental e tem que fazer jus a isso"</div>
<div align="center"><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>IHU On-Line – Pensando na sua eleição como presidente do Brasil. Quais seriam suas primeiras medidas, nos primeiros 100 dias? Quais suas principais metas e prioridades?
</strong></span>Marina Silva – Com certeza, acho que seria precipitado alguém que está na condição de pré-candidata já ficar falando em primeiros cem dias. Mas isso faz parte da alimentação do sonho.</div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;">IHU On-Line – Mas na sua visão o que é mais urgente para o Brasil?
</span></strong>Marina Silva – O que é mais urgente para todos os brasileiros é que esse país assuma o que ele é. O Brasil é uma potência ambiental, tem que fazer jus à potência ambiental que é. Para isso, é preciso que faça os investimentos corretos, para que a potência econômica que se avizinha – estão dizendo que, em breve, o Brasil será a quinta potência econômica do mundo – seja algo a ser compatibilizado em termos mais felizes, mais cuidadosos, com a saúde, com a educação, com a cultura, com a diversidade e com a proteção dos recursos naturais.
"O que é mais urgente para todos os brasileiros é que esse país assuma o que ele é. O Brasil é uma potência ambiental, tem que fazer jus à potência ambiental que é"</div>
<div align="center"><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>IHU On-Line - Como você pretende tratar na sua campanha da </strong></span><a href="http://www.ihuonline.unisinos.br//index.php?id_edicao=323"><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>conciliação entre crescimento econômico e desenvolvimento sustentável</strong></span></a><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>? </strong></span>Marina Silva – Primeiro, é preciso requalificar essa história de crescimento pelo crescimento. O crescimento não é um fim em si mesmo. Ele é uma ferramenta, um instrumento para o desenvolvimento. E o desenvolvimento que nós advogamos é aquele que seja sustentável em todos os aspectos: econômico, ambiental, social e cultural. Essa tradução será feita progressivamente, na mudança de paradigma da relação das indústrias com os recursos naturais, com o uso de novas tecnologias, que possam ser menos poluentes, que possam contaminar menos, que assumam esse papel da responsabilidade social e ambiental. Na agricultura também, que possamos ter uma produção sustentável, evitando os processos extensivos, lançando mão de práticas e tecnologias que nos levem a menos destruição das florestas, da biodiversidade, à maior preservação dos rios e córregos, até porque as <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28814">catástrofes ambientais</a> que estão acontecendo, prejudicando a economia e ceifando vidas, tem muito a ver com esse modelo predatório. </div>
<div align="center"><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>IHU On-Line – E como você vê a questão do </strong></span><a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=1995&id_edicao=348"><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>carbono zero</strong></span></a><span style="font-size:130%;color:#000000;"><strong>?
</strong></span>Marina Silva – Nós trabalhamos com a ideia da economia de baixo carbono. Essa é uma economia que, infelizmente, ainda não temos em nenhum lugar do mundo. Portanto, todos estamos no páreo para dar uma contribuição. E o Brasil talvez seja o país que reúne as melhores condições, pois tem um potencial enorme para fontes de energia limpa e segura, e isso já é uma vantagem e um diferencial em relação até mesmo aos países desenvolvidos. O Brasil tem milhões de hectares de área agricultável, em condições de ter uma produção agrícola altamente significativa, sem precisar destruir as suas florestas, seja o Cerrado, a Caatinga, a Mata Atlântica e a Amazônia. Então, o Brasil é o país que pode investir muito fortemente na economia de baixo carbono, desde que faça os investimentos corretos, no tempo correto e que tenha visão. Tendo a visão, podemos estabelecer os processos; tendo a visão e os processos, vamos, aos poucos, criando as estruturas e, com certeza, uma parte desta estrutura o Brasil já tem. Porque ele se difere de outros países que podem até ter a vontade, mas não têm os recursos naturais. O Brasil tem um grande potencial para a <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?id_edicao=264">produção de energia</a> de biomassa, energia solar, eólica, sem falar no grande potencial de hidroeletricidade que, se trabalhado corretamente, com os planos de desenvolvimento sustentável para a área de abrangência dos investimentos, é possível fazer esses aproveitamentos. Claro que temos um olhar panorâmico para o conjunto, e depois um olhar específico para cada empreendimento, para evitar injustiças e danos ambientais.
"As catástrofes ambientais que estão acontecendo, prejudicando a economia e ceifando vidas, tem muito a ver com esse modelo predatório"</div>
<div align="center"><strong><span style="font-size:130%;color:#000000;">IHU On-Line - Como você se posiciona em relação às alianças políticas do PV e à </span></strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=29212"><strong><span style="font-size:130%;color:#000000;">perda do apoio do PSOL</span></strong></a><strong><span style="font-size:130%;color:#000000;"> à sua candidatura?
</span></strong>Marina Silva – Em primeiro lugar, o PV não tem alianças políticas ainda. O PSOL era uma negociação que vinha sendo feita, sabendo que havia dificuldades. Não é uma perda, porque não tinha ainda uma aliança. Era uma conversa que existia. E nós já sabíamos que havia dificuldade de parte a parte, não só da parte do PSOL com o PV, mas também da parte do PV com o PSOL. O que havia era uma grande vontade minha e da senadora <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=29222">Heloisa Helena</a> de ficarmos juntas. Mas nós ficaremos juntas independentemente da aliança, porque eu vou apoiá-la lá em Alagoas. </div></div>MARIO FERNANDO DE MORIhttp://www.blogger.com/profile/00715399594912779803noreply@blogger.com0