O QUE PODEMOS DIZER DA OPINIÃO PÚBLICA SOBRE AS COISAS ?
QUAL É O TAMANHO DA MÍDIA EM NOSSO COTIDIANO ?
"A despolitização da sociedade, a força da mídia e um individualismo sempre mais acentuado favorecem a transformação da vida política em matéria de revista". Essa é a opinião do filósofo francês Gilles Lipovetsky, que, comentando os casos de Sarkozy e Berlusconi, lembra que essa evolução está em curso há muito tempo.
A reportagem é de Fabio Gambaro, publicada no jornal La Repubblica, 19-05-2009.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Na origem de tudo", explica o autor de "A Era do vazio" (Editora Manole, 2005), "A felicidade paradoxal" (Companhia das Letras, 2007) e "O luxo eterno" (Companhia das Letras, 2005), "está sobretudo o fim das grandes utopias da modernidade, que, no passado, garantiram a centralidade da política percebida como portadora de grandes esperanças. Hoje não é mais assim. Não há mais utopias, e os projetos políticos não fazem sonhar mais. A mundialização também contribui para esse desencanto, porque, diante das suas consequências, a política parece impotente. Os cidadãos têm a impressão de que o verdadeiro poder está em outro lugar, sentem-se expropriados da possibilidade de escolher. Além disso, não se deve esquecer a atenuação das diferenças entre direita e esquerda que levam muitos cidadãos a se desinteressar pela política. Tudo isso contribui para a despolitização da sociedade e enfraquece o estatuto dos homens políticos, com relação aos quais prevalece a desconfiança e a suspeita".
Eis a entrevista.
Como os interessados diretos reagem?
Experimentam desfrutar aquela que Baudelaire chamava de a curiosidade do homem moderno. Dado que os programas não conseguem mais envolver os eleitores, aponta-se tudo na personalidade do homem político. Aqui surge a necessidade de colocar em cena a sua vida privada. Os políticos aceitam e às vezes favorecem essa espetacularização da sua vida, esperando chamar a atenção de quem se desinteressa deles. Uma vez se fazia sonhar por meio dos programas; hoje, com a narração da própria vida. Naturalmente, isso se tornou possível pela força da mídia, que responde às expectativas de um público muito sensível a tais incursões no privado. Na prática, o voyeurismo de uns responde ao exibicionismo de outros.
Com quais consequências?
As técnicas da política se assemelham sempre mais às do marketing e do "star system". Hoje, a publicidade não se contenta mais em dizer que um certo produto é melhor do que o outro. Ela quer criar uma ligação afetiva com esta ou aquela marca. O mesmo ocorre na política. Em vez de defender um programa, o político tenta alimentar uma corrente de simpatia, de afeto. A política, que era o lugar da racionalidade e da reflexão, se torna o âmbito da adesão sentimental. Eis porque a vida privada e a sua narração se tornam tão importantes. O político não faz outra coisa do que se adequar a uma sociedade dominada pelo individualismo e pela vida privada. Mas assim a política se torna objeto de conversação em vez de mobilização.
Colocando em cena a sua vida privada, os políticos tentam se colocar no mesmo plano dos eleitores?
Certamente, querem parecer pessoas normais. A narração dos seus amores, dos seus divórcios, dos seus problemas é útil para construir uma imagem mais próxima daquela do cidadão comum. Mas essa banalização enfraquece ainda mais o seu estatuto. Enfim, é um círculo vicioso em que a política perde a dimensão carismática que tinha na origem. Sem se esquecer que a utilização do privado para afastar a atenção dos verdadeiros problemas da sociedade sempre é uma operação perigosa que pode fugir do controle a qualquer momento.
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